Eu estava aqui. Aqui nasci, aqui fui criado.
Funcionário do Banco do Brasil S. A. e marido e professora atuante em escola primária, no Ginásio e Escola Normal de Rio Novo e no Ginásio Agrícola Municipal de Ipiaú, depois Ginásio Estadual de Ipiaú, não apenas assisti ou presenciei a campanha eleitoral de 1972, mas dela principiei a participar e testemunhei fatos interessantes.
Parabenizo os historiadores Samio Cassio da Silva Ramos e Albione Souza Silva pelo artigo publicado na edição do final de semana passado, do Ipiaú Online. Muito rica.
Chama-me a atenção o título “Ipiaú: Hildebrando Nunes e sua garranchada vencem a ARENA em 1972, durante a ditadura militar” e ele me devolve à lembrança o fato que deu origem, naquele ano, à qualificação, do conjunto dos apoiadores de Hildebrando, de “Garranchada”.
Naquele ano, em apoio ao candidato Milton Pinheiro dos Santos, participei de reuniões e de comícios, chegando a discursar em algumas artérias da cidade como, por exemplo, na praça vizinha à Igreja Nossa Senhora Aparecida, em frente ao Parque de Exposições e praça da Democracia. Contudo, por força de restrição do meu empregador, acabei por afastar-me dos palanques.
O termo, o substantivo “garranchada” foi consequência de um então candidato a Vereador da ARENA, Normando Suarez, num comício em frente à Igreja Nossa Senhora Aparecida, ter bradado, em seu discurso: “Eles ‘tão’ chamando a gente de ‘rolete’ (referia-se aos ‘roletes’ de cana vendidos nas praças); mas se nós ‘e’ os ‘rolete’, eles ‘é’ os ‘bagaço’ (sem dúvida, de cana)” . E continuou: “eles tão chamando a gente de jacarandá (aquela árvore hoje extinta); se nós ‘é’ o jacarandá, eles ‘é’ o garrancho.”
Na noite do sábado seguinte seria, como foi, realizado um comício do MDB, de Hildebrando.
O largo da Praça Rui Barbosa foi lindamente ornamentado com bagaços de cana trazidos do engenho formando a sigla MDB e o nome HILDEBRANDO e com todo o tipo de garranchos, enfeitados com flores e fitas de papel de todas as cores.
Ali, naquela noite, auto apelidando-se de “garranchos”, os eleitores mais humildes, mais despojados, mais apaixonados pelo MDB e por Hildebrando instituíram a “garranchada”.
E foi uma tempestade de manifestações e, no final, de votos.
Naquela campanha eleitoral e na mesma praça, alguns dias do apoteótico comício do MDB, a ARENA (apoiando o candidato Milton Pinheiro dos Santos, o Capitão/Professor Milton Pinheiro) promoveu seu grande comício. Naquela oportunidade, eu fui pela vez primeiro cerceado no meu desejo de discursar, por que o Professor Aldo Trípodi (de saudosa memória) manifestou preocupação com minha situação no Banco do Brasil S. A. Em meu lugar, discursou a maravilhosa oradora, Professora Italva (Myrthes Bittencourt Bastos).
Lindo material vocal, excelente dicção, Português invejável. Ali ao lado, alguém disse: “o povo do lado de lá está indo apanhar gente no Japomirim p’rá encher o comício deles”.
E a professora Italva, no tom seu retumbante, referiu-se a isto e acrescentou: “Eles estão se preocupando em encher uma praça; eles estão preocupados somente com quantidade; eles querem apenas quantidade; mas nós queremos somente qualidade”. É claro que ela estava querendo afirmar que não é a quantidade de pessoas, mas aquelas com a qualidade de eleitoras, que interessam aos candidatos.
No dia seguinte, todavia, a cidade e o município estavam “cheios” da informação de que o candidato Milton Pinheiro não queria voto de negro, mas de gente de qualidade.
E assim, de “gafe” em “gafe”, a ARENA e seu candidato a prefeito viram uma eleição, que inicialmente parecia conquista fácil, escapar-lhe por entre os dedos.
José Carlos Britto de Lacerda é advogado ipiauense
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