Era uma vez…
Contam os mais velhos que a mãe dum candidato, morreu as vésperas das eleições. O candidato, político nato, já viciado em politicagens, tendo aproveitado o velório em favor duma comovente autopromoção… Turbinado, devido a compaixão popular, enterrou a veia rapidinho e logo voltou a disputada corrida eleitoral. Afinal, tudo que um político-psicótico malandro sonha: É ter um motivo passional-popular, para surfar e figurar o papel de troféu e/ou vingança, dum povo.
Porém, o que o candidato não contava, é que a alma ao chegar no outro plano (no Além), a alma se desprende do Tempo e do Espaço e tem ACESSO A TODA A MATERIALIDADE DA REALIDADE FÁTICA HUMANA, e portanto; fica livre das versões político-eleitoral, midiática-comercial e disputas ideológicas de araque, e passa a bem compreender tudo a todo tempo e lugar.
Tendo tomado ciência do frágil teatro de carpideira, que seu filho encenara no seu velório… Indignada, logo tratou de vigiar de perto os passos da sua cria, e, providencialmente, correu à fazer observações e ressalvas das promessas do menino travesso, em tempos eleitorais.
No entanto, quem parte dessa vida, para aqui “voltar”, é preciso ter permissão divina para poder nos xeretar… (dado ao princípio da isenção divina e o livre arbítrio humano, penso). Não foi fácil defender a tese no tribunal divino, mas a velha senhora convenceu o nosso Senhor. Dizia ela:
– Meu bom Pai, o Senhor sabe, um bom político só deveria tratar de coisas republicanas, sem viés patrimonialista (próprio e/ou de grupos), na construção e execução contínua de Políticas Públicas Perenes (verdadeiras e essenciais, PPPs).
Ou seja, somente o óbvio, o lógico, o sustentável, e, dotado de sentido… doa a quem doer! Porém, insistimos eternamente em confundir a boa administração com a velha politicagem numa eterna briga de rinha, lamentavelmente.
Porém o povo, que cultua o NOVO e refuga a VERDADEIRA MUDANÇA, tende a votar em quem promete o paraíso, sem exigir ter que arrumar a cama ao levantar à lavar os pratos, antes de deitar. O senhor sabe né, o que em verdade nos move por fim, é o oximoro, a contradição, a fuga da realidade… ou não?
Apelou a velha mãe, ao nosso Senhor.
Caso ganho, como diriam os advogados, na decisão final dum processo, em sorriso de porcentagem sucumbente oculta.
Enfim, a veia recebeu a permissão, para observar de perto as traquinagens da sua cria. Porém, com uma condição: Que permanecesse invisível e sem o povo poder lhe escutar. Eu disse, sem o povo conseguir lhe escutar! Eu não afirmei que o candidato não pudesse estabelecer um diálogo com sua mãe, via consciência, tá okey?
E assim foi… O candidato falava uma coisa, e a veia já rebatia tudo prontamente, com as devidas críticas e reparações!
Numa dessas, o candidato usando um daqueles clichês arsenal-kit-eleitoral, prometeu construir mil casas e doar a população pobre, que iria resolver de vez a questão da Educação, Saúde, Segurança Pública, diminuição do peso do Estado, melhorar a aplicação das verbas públicas…
A mãe botou a mão na consciência do candidato e retrucou.
– Mas meu filho, deixa de lorota, o chefe do executivo não tem o poder deliberativo, (pois tem poderes essencialmente, de executivo), além disso, as prefeituras gastam tradicionalmente, quase 60% do Orçamento Público Municipal (se permitissem mais, gastavam mais ainda) com o funcionalismo, 25% com a “educação”, 15% com a “saúde”, 4% com a Câmara municipal… faça as contas, com apenas 8% de arrecadação própria que temos, de onde você vai tirar recurso para construir essas casas, e, executar todo o resto? Sem falar na urbanização ao redor, do saneamento, eletrificação do bairro e o acesso viário! E se o povo desconfiar que o que o Estado faz em verdade, e tirar a correia de couro das costas de vários, para dar para um? Não seria melhor você caçar um jeito de propiciar o emprego e a renda desse povo, e ele próprio multiplicar os pães e os peixes de forma mais equânime?
Em “consciência” o candidato respondeu.
– Minha mãe, a senhora não sabe o que é política! A senhora sabe de fato qual é a contradição implícita daquilo que o povo deseja, e o que de fato espera dum político? É como se o povo tivesse dentro de si, Deus e o diacho, ao mesmo tempo (oximoro)… Se por um lado exigem retidão do político, do outro, correm atrás destes, nos recantos das repartições para lhes arrancar favores objetivos particulares. Ou o cara tem o que dar, ou é classificado como Zé Ninguém. Imprestável. No enredo da vida política, o povo é o escritor, ator e o próprio coveiro de si. E ainda, é por fim, o próprio crítico da arte, juiz, promotor e advogado do caso. A senhora não sabia disso?
– Infelizmente, é verdade meu filho! Olhando daqui de cima, agora vejo um filme nestas “veladas” contradições.
Por outro lado, pelo ponto de vista antropológico, a Política é essencialmente canibalista. Os revolucionários principiantes, servem por fim, de tapetes palacianos para os velhos políticos colocadores de cerejas de bolo pronto; escondidos atrás das cortinas do velho salão das vaidades humanas. Senão veja o caso de Robespierre, Danton, Tiradentes… de certa forma, até Jesus. No caso de Jesus, quem o condenou essencialmente não foi Pôncio Pilatos. A senhora lembra o que o povo respondeu, ao ser inquirido, quem deveria ter o perdão Pascal: Jesus ou Barrabas? O que o povo respondeu?
Jabuti não nasce ou anda em árvore. Se ele está lá, é por que alguém o colocou.
Em estudos de história na Arte, se diz: – As coisas estão assim, porque na verdade, elas são assim. Só não ver quem não quer.
A contradição humana, procede consequentemente da sua iniciativa de inferir artificialmente na natureza. Trata-se da manipulação consequente. O ser humano é essencialmente um animal cínico, e portanto, político por natureza. Distintamente do resto dos outros animais. Concluiu a mãe.
Candidato que não mente, (vende ilusão) dificilmente se elege. E quem vota é o povo, diante de todas as suas frustações, contradições, existenciais e circunstâncias.
Candidato sem proposta concreta (acusadores natos) tem cabos eleitorais ideológicos mais aguerridos e/ou bem melhores pagos.
Para um candidato fugir da apresentação de propostas concretas, a “solução” que lhe resta é a acusação do sistema e dos concorrentes. Ou seja, colocar em primeiro as paixões em detrimento da razão e métrica.
Comparativamente, poderíamos citar que o Orçamento Público Municipal de Ipiaú, gira em torno dos R$ 90 milhões/ano, enquanto que o nosso PIB municipal-local, não tem passado de R$ 0,50 bilhão/ano. Ou seja, cada ipiauense, tem renda média, abstrata, de menos de R$ 10 mil/ano, enquanto a média nacional já é de R$ 35 mil por ano-habitante.
Dito isto, o que você eleitor prefere (sob o ponto de vista da sustentabilidade e desenvolvimento socioeconômico) apostar em quem vai distribuir para os necessitados migalhas do orçamento (inclusive aos parasitas escondidos ao meio) ou, apostar em quem pode nos propiciar a atingir, pelo menos o patamar da geração da Renda Média Nacional?
Caso atingíssemos o patamar da renda média nacional, (R$ 35 mil/ano) seriam pelo menos, mais de R$ 1 bilhão a mais, produzidos e distribuídos na nossa decadente economia ipiauense, (atualmente sobrevivente, essencialmente as custas de transferências federais, no público e privado) sustentando a ilusão que ainda somos uma economia cacaueira, quando a força do cacau, não tem chegado ao computo de 8% na fatia desse bolo do PIB.
Para finalizar essa estória que não tem fim, talvez, devêssemos recomeça-la, reescrevendo-a, assim: – Era uma vez, e assim será para sempre… de um alado: o povo, que adooora se fazer de vítima, no meio de ambos, o Estado como meio operante do oximoro, e do outro, os políticos que…
Para os mais astutos, sugiro assistirem aos vídeos abaixo, como reflexão complementar a leitura.
Signatário Elson Andrade – arquiteto, urbanista, empresário e pós graduando do Instituto de Economia da Unicamp.
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