Você está sofrendo de tensão pré-eleitoral?

 

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Lula, Bolsonaro, horário político, ansiedade, taquicardia, camisas amarela e vermelha, angústia, insônia, debate, Brasil, futuro, insônia, tarja preta… Bum! A saúde mental explode. Que atire a primeira pedra quem não está vivendo uma tensão pré-eleitoral. Especialistas estão recebendo demandas bem atípicas: pessoas que procuram ajuda por conta deste turbilhão de emoções que precede o dia 30 de outubro, data em que conheceremos o vencedor das eleições presidenciais no país. Afinal, o que fazer para não surtar até lá?

O grau de decadência na saúde mental segue um ritmo intenso até o ponto patológico. Irritação, ansiedade, tensão, medo e angústia são apenas alguns pontos perceptíveis neste período de guerra eleitoral. “A preocupação específica e intensa, como desta eleição, pode tomar uma dimensão patológica. Esta dimensão envolve ansiedade, que pode cursar para sintomas físicos, como palpitações, falta de ar, parestesias, tensão muscular e dores pelo corpo”, enumera o psiquiatra Antônio Freire, professor da faculdade Bahiana de Medicina. Não é só isso.“Esta disputa acirrada no pleito eleitoral, de voto a voto, traz uma sensação de tensão grande, de incerteza. Uma angústia. É perceber que não tem a segurança do que vai acontecer amanhã”, acrescenta o psiquiatra, que ainda relata o crescimento de atendimentos de pessoas abaladas com a política.

“Tem um outro lado interessante: estas pessoas podem acabar recorrendo a substâncias psicoativas para tentar minimizar esta ansiedade, um automedicamento”, complementa Freire, que ainda diz ter recebido pessoas que também estão usando bebida alcoólica de uma forma mais acentuada, drogas ilícitas e medicações indutoras de sono como uma tentativa de diminuir a tensão e ansiedade.

Funcionária pública, Mayra Nascimento tem sofrido com o que classifica de ‘preocupação gigante’. “Está tudo muito tenso, preocupante e tem dias que fico sem dormir direito, preocupada com o dia que ainda vai nascer. Uma coisa é depender de sua própria decisão, né? Outra coisa é esperar a resposta de milhões e milhões de brasileiros na escolha do presidente”, conta Mayra, eleitora de Jair Bolsonaro (PL).

Para Mayra, toda esta tensão equivale ao início de uma separação de ideias. “A sensação que eu tenho é de uma ruptura. Ruptura com amigos, família e colegas de trabalho. Acho, inclusive, que deveria haver uma ruptura no país. Antes eu não entendia o motivo das guerras separatistas. Hoje, eu assino embaixo se este dia chegar aqui no Brasil. Água e óleo não se misturam”, lembra.

Mesmo com a angústia, Mayra não se diz muito preocupada, caso o candidato contrário à sua opção vença. Mesmo que seja inconstitucional, ela acredita que os militares não vão permitir que o candidato petista assuma o poder. Este pensamento melhora a ansiedade dela.

“Eu não acreditava que teríamos segundo turno. Achava que meu candidato venceria, mas me surpreendi. Vou acompanhar a apuração sabendo que pode acontecer de tudo. Estamos vendo o STF com diversas práticas inconstitucionais e acho que até dia 30 ainda tem muita água para correr. Sou a favor de uma intervenção [caso Lula vença]. Sou a favor de qualquer coisa que mantenha a ordem”, complementa Mayra. Esta ruptura citada por Mayra, no entanto, fere a Constituição.

A jornalista Líliam Sampaio controla uma depressão grau três e seus principais medos eram de altura, de lugar estreito e lagartixa. Contudo, a lista aumentou.

“Estou, desde o resultado do primeiro turno, com medo, ansiosa e angustiada. Piorou tudo. Tive uma crise semana passada. Todos os dias à noite, quando começa o horário político, sinto um troço estranho. Um pressentimento ruim, sabe? Sinto que nosso futuro está em jogo se o atual presidente continuar”, disse Líliam, que vota no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

É inegável que há um conflito nas relações, seja entre amigos, familiares ou colegas de trabalho. Estes conflitos também contribuem para o aumento significativo dos problemas psicológicos. Fizemos uma experiência bem simples, mas que comprovou tal afirmação.

Experiência
Colocamos os irmãos Fernanda e David Rocha num grupo de Whatsapp. Apenas eles dois e o repórter do CORREIO fazendo a mediação. A ideia era discutir a ansiedade neste período eleitoral e como manter a relação familiar, já que eles estão em lados opostos no voto.

Com menos de cinco minutos de conversa, os dois já estavam batendo boca. “Eu fico mais puta ainda com vocês [bolsonaristas], rebanho de bostas achando que a bandeira do país só pertence a vocês”, disse Fernanda.

“E você acha que os outros não tem nojo de você? O bem vencerá o mal. Estou conversando com vários empresários e eles estão super apreensivos com o resultado, ameaçando fechar as portas das lojas [caso Lula vença]”, rebateu David. O pau quebrou e decidimos encerrar com menos de 20 minutos.

Fernanda Rocha ainda vive um dilema. Além do único irmão, seu marido e sua mãe são de direita. “O lado psicológico está bem tenso. Fico nervosa e incrédula com essas coisas que escuto e prefiro evitar qualquer conversa sobre política com eles. Nesse período [das eleições] até consegui ter algumas conversas saudáveis com David e outros parentes, mas, na grande maioria das vezes, eles são muito violentos, agressivos e não conseguem manter uma linha de conversa saudável”, disse Fernanda.

Quando a relação se torna este turbilhão, especialistas sugerem algo extremo, mas necessário: dar um tempo. Não se trata de ‘cancelar’ o amigo ou familiar, apenas um afastamento temporário, enquanto a saúde mental estiver debilitada.

“Um afastamento provisório é mais que recomendável. É saudável para ambos. Porém, é preciso enfatizar a palavra ‘provisório’. É uma tragédia a gente achar que não há conflitos nas relações. Este afastamento é apenas uma consciência de que a temperatura se elevou. Dê um tempo, mas não se afaste”, sugere Washington Oliveira, especialista em mediação de conflito familiar e interpessoal.

O artista e músico Angelo Thomaz também tem este conflito em casa e decidiu dar um tempo. Ele vota na esquerda, mas seus pais, empresários, ficam à direita.

“Eu cortei o diálogo sobre política. Descobri que vivemos realidades paralelas, com pensamentos ideológicos distantes. Eu perdi as esperanças de diálogo e isso é bem ruim, pois frustra e me deixa com muita angústia. Mas do lado de lá também está tenso. Meu pai me disse que está com muito medo, pois teme com o que vai acontecer com os negócios dele”, disse Angelo, que também teme a violência partidária nas ruas.

“Se eu não falo mais com meus pais sobre política, imagine na rua. É medo mesmo. Eu assisti o último debate na casa de uma amiga. Depois, peguei um Uber, de madrugada. Ele olhou pra mim e disse: ‘estava vendo o debate? Quem foi melhor? Vai votar em quem?’. Eu gelei. A vontade que me deu foi abrir a porta e me jogar”, conta Angelo. Ele só se acalmou quando o motorista percebeu a angústia e disse que votaria no mesmo candidato dele.

Segundo a médica psiquiatra Patrícia Portella, famílias inteiras estão procurando seus consultórios, em Vitória da Conquista e Salvador, se queixando de transtornos por conta das eleições.

“Tem vindo famílias inteiras, principalmente idosos com quadros de fanatismo e agressividade na rua. Mas também vejo mães levando filhos mais jovens com transtornos graves, sem contar o consumo excessivo de álcool. É, sem dúvida, um momento bem atípico”, conta.

Outro gatilho ativador de ansiedade é a excessiva pesquisa de intenção de voto. “Não estou tomando medicamento, mas sofro de transtorno de ansiedade geral. Preciso de muito autocontrole para não entrar em crise. E estas pesquisas, sem dúvida, são gatilhos sérios de ansiedade, principalmente porque a precisão das pesquisas está bem deficitária. As pessoas estão com vergonha de votar em um candidato X, né? Aí fala que vota em outro, chega na urna e votam em X. Assim fica difícil ser feliz”, indaga a atriz Jaque Vasconcellos.

Boa parte das pessoas que conversamos estão evitando jornais, pesquisas e propagandas políticas. Sem contar o aumento no uso de medicamentos controlados.

“Depois do resultado do primeiro turno, minha vida virou. Eu não dormi mais. Depois daquela apuração, percebi que não aguentava mais. São diversos gatilhos que atormentam a vida mental do brasileiro. Desde então, procurei um psiquiatra e estou fazendo uso de Fluoxetina, um medicamento para ansiedade e depressão. Eram crises e mais crises de choro. Estou finalizando minha primeira caixa [do medicamento]”, relata uma assistente social de 39 anos, que pediu para não se identificar.

Surto coletivo
O surto, de fato, é coletivo. Restando uma semana da grande final, digo, das eleições, dicas simples podem surtir efeito. Especialistas sugerem diminuir o fluxo de informações, principalmente aquelas que te deixam à flor da pele.

Se quer militar, ‘milite’. Mas reconheça suas limitações. Não adianta mais tentar convencer aquele familiar que já decidiu em quem votar. É gastar energia à toa. Se distraia, procure atividades que ocupem o corpo e a mente.

“Sugiro que as pessoas acompanhem as apurações ao lado de pessoas que lhe são agradáveis. Recomendo também evitar grandes expectativas. É interessante reconhecer que trata-se de uma escolha do coletivo, portanto, o indivíduo não tem um controle, e essa sensação de controle sobre o resultado pode levá-lo a manifestar sintomas de ansiedade. Direcionar o diálogo para outros assuntos durante a apuração também pode ser uma boa estratégia”, aconselha o psicólogo Vagner Nunes. Será que vamos conseguir manter a sanidade até lá?

Melhore sua saúde mental antes, durante e depois das eleições

Limites
A militância é importante, mas já estamos há uma semana do pleito. Não se desgaste tentando convencer seu adversário que não vai mais mudar o voto dele. Vai gastar energia e paciência.

Dê um tempo
Caso tenha conflito com pessoas queridas que estão em lados opostos, um afastamento temporário pode ser bom para todos. Não é cancelar seu ente. Um tempinho, apenas. Caso não seja possível, pois ambos moram juntos, combinem de evitar discursos políticos.

Offline
Se a saúde mental já está bem debilitada, evite uso constante de redes sociais, grupos de discussão de política e pesquisas de voto. Vai te proporcionar ainda mais ansiedade. Se você faz militância, tente se concentrar na sua bolha e evite bate-bocas nas redes sociais.

Outras atividades
Pratique esporte, veja filmes, tente se distrair um pouco, pensar em outras coisas. Técnicas de respiração também são bem vindas. Tudo para evitar política 24 horas por dia.

Se controle!
Caso esteja incontrolável, procure especialistas, como psicólogos e psiquiatras. Não utilize medicamentos controlados sem acompanhamento médico e evite uso de outras drogas de forma acentuada, como álcool.

Dia de votar
No dia da eleição, tente votar cedo e depois se envolver em atividades prazerosas, como caminhar na orla, ir à praia, ao cinema. Aproveitar o dia com pessoas queridas.

Apuração
Acompanhem as apurações ao lado de pessoas que lhe são agradáveis. Também é recomendado evitar grandes expectativas. Se o coração estiver acelerado, tente fazer outra coisa que tire sua atenção das apurações. Se isole no cinema, por exemplo.

Resultado
Tente diminuir a emoção e buscar encarar a disputa como um belo exercício da democracia. Nada de pensamentos rígidos e catastróficos. Afinal, já sabemos que a disputa só terá um vencedor. Então, que vença o melhor para a nossa coletividade.

Correio


Veja mais notícias no Ipiaú Online e siga o Blog no Google Notícias


0
Web Design BangladeshWeb Design BangladeshMymensingh