Variante Ômicron: o que se sabe sobre a nova linhagem do SARS-CoV-2

Josué Damacena/ IOC/ Fiocruz

A decisão do grupo consultivo técnico da OMS sobre evolução do vírus SARS-CoV-2 teve como base as evidências apresentadas que indicam alterações prejudiciais na epidemiologia da Covid-19 devido à linhagem.

Atualmente, a OMS considera como variantes de preocupação cinco linhagens do novo coronavírus: a Alfa (B.1.1.7), do Reino Unido, a Beta (B.1.351), da África do Sul, a Delta (B.1.617.2), da Índia, a Gama (P.1), do Brasil, e a Ômicron (B.1.1.529), de diferentes países, segundo a OMS.

“Esta variante apresenta um grande número de mutações, algumas das quais preocupantes. A evidência preliminar sugere um risco aumentado de reinfecção com esta variante, em comparação com outras variantes de preocupação”, informou a OMS em um comunicado.

A OMS orientou que os países devem melhorar a vigilância e os esforços para a realização do sequenciamento genômico do vírus, o que permite compreender melhor as variantes circulantes. Os cientistas devem enviar as sequências completas do genoma e dados associados sobre a variante para um banco de informações disponíveis publicamente, como o GISAID.

Além disso, os casos associados à variante de preocupação devem ser relatados à OMS por meio do mecanismo de Regulamento Sanitário Internacional (RSI). Nos países onde houver capacidade, e em coordenação com a comunidade internacional, devem ser realizadas investigações de campo e avaliações laboratoriais.

O objetivo da medida, segundo a OMS, é melhorar a compreensão dos impactos potenciais da variante Ômicron na epidemiologia, gravidade da doença, para a saúde pública, além de possíveis repercussões da linhagem para métodos de diagnóstico, respostas imunológicas, anticorpos de neutralização e eficácia das vacinas.

Para a população, de modo geral, a OMS reforçou a necessidade de tomar medidas para reduzir os riscos de infecção pela Covid-19, incluindo o uso de máscaras bem ajustadas, higiene das mãos, distanciamento físico, melhoria da ventilação de espaços internos, evitar espaços lotados e a adesão à vacinação.

Como detectam a variante ômicron?
O número de casos da variante tem aumentado em quase todas as províncias da África do Sul. Segundo a OMS, os testes de diagnóstico molecular (RT-PCR) atuais são capazes de detectar a linhagem. A partir desses testes, a variante foi detectada em taxas mais rápidas do que surtos anteriores, sugerindo que a cepa pode ter uma vantagem na disseminação.

A variante Ômicron tem preocupado cientistas por ter muitas mutações que podem conferir vantagens ao vírus. Até o momento, não há registros da variante no Brasil. Onde a cepa já foi encontrada:

A partir da identificação, realizada por meio do sequenciamento genômico do vírus, cientistas buscam responder diferentes questões como a capacidade de transmissão, o aumento da letalidade e se há algum tipo de redução da eficácia das vacinas desenvolvidas contra a Covid-19.

“Todo o processo do que significa essas mutações, em termos de aumento de transmissibilidade, potenciais casos de reinfecção e como será a resposta da vacina ainda está sendo estudado. Ainda não temos dados robustos e concretos para mostrar sobre essa nova variante, que foi predominantemente descoberta na África do Sul”, afirmou a pesquisadora Marilda Siqueira, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em entrevista à CNN.

“O que se vê lá é o aumento no número de casos. No entanto, o impacto da variante em hospitalizações e pessoas já vacinadas ainda não está determinado”, completou Marilda.

Até o momento, os cientistas detectaram que a variante Ômicron apresenta diversas mutações, o que pode indicar vantagens ao vírus, como uma potencial maior transmissibilidade e o escape dos anticorpos.

No entanto, estudos adicionais são necessários para responder se a nova variante poderá trazer algum tipo de impacto para a eficácia das vacinas contra a Covid-19 em uso no mundo.

Ômicron tem grande número de mutações
A variante Ômicron apresenta uma ampla gama de mutações. De forma isolada, essas mutações podem tanto trazer vantagens ao vírus, como uma capacidade maior de transmissão ou do escape do sistema imunológico, como não representar qualquer tipo de ganho para o microrganismo.

“O que mais chama atenção é que a variante tem um número grande de mutações, são pelo menos 32. Ela tem várias mutações que nós já enxergamos em outras variantes que foram importantes ao longo do tempo, como a variante Alfa”, explica o virologista Fernando Spilki, pesquisador da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul.

Segundo o pesquisador, além das mutações, a nova variante apresenta uma característica chamada tecnicamente de deleção. Por serem estruturas muito simples, os vírus contam com uma grande capacidade de modificação. Em meio a essas alterações genéticas surgem as deleções, que são caracterizadas pela retirada de um ou mais nucleotídeos (que são os blocos que formam o RNA ou o DNA) de um gene.

O virologista explica que a variante apresenta pelo menos três deleções no material genético da proteína Spike, que é utilizada pelo vírus para invadir as células humanas, parte fundamental do processo de infecção pela Covid-19.

“Uma deleção que me chamou a atenção foi a da altura dos aminoácidos 69 e 70, que era encontrada na variante Alfa, identificada no Reino Unido. A variante também tem a mutação N501Y, muito característica da variante Gama, que também aconteceu nas linhagens da variante Beta. Ela também tem a mutação E484A, o que demonstra que a cepa está ‘mutando’ em vários ‘sítios’ que já tínhamos mapeado ao longo do tempo”, explica.

O que se sabe sobre a transmissibilidade
Uma das principais preocupações dos cientistas com o surgimento de uma nova variante é descobrir se existe maior capacidade de transmissibilidade, o que pode levar aos surtos da Covid-19.

Segundo o virologista da Universidade Feevale, Fernando Spilki, ainda são necessários estudos aprofundados que possam responder a questão em relação à variante Ômicron. No entanto, o especialista aponta que a linhagem tem apresentado uma ampla disseminação nas localidades onde foi detectada até o momento.

“Nos locais onde a variante ocorreu, de duas semanas pra cá, ela evoluiu para 90% das detecções, incluindo locais onde a variante Delta, altamente transmissível, já havia se disseminado e estava provocando aumento de casos. A variante Ômicron, mesmo assim, hoje predomina com 90% das detecções”, explica Fernando.

O pesquisador Fernando Spilki pondera que o entendimento dos impactos das mutações em características como a transmissibilidade, letalidade e eficácia das vacinas contra a Covid-19 depende de estudos adicionais.

“Essas mutações não querem dizer que tenhamos uma situação crítica. Precisamos testar, tanto in vitro quanto in vivo quais os efeitos desse acúmulo de mutações, é algo que precisa ser investigado”, acrescenta.

Segundo o virologista, a África do Sul conta com um programa eficiente de sequenciamento genômico das amostras do novo coronavírus, o que permitiu a identificação da nova variante ainda com um número baixo de casos.

No entanto, o rápido aumento no número de casos, ao longo de novembro, na província de Gauteng, onde fica a cidade de Joanesburgo, tem chamado a atenção das autoridades de saúde locais.

O sequenciamento do genoma revelou que a variante foi responsável por todas as 77 amostras de vírus analisadas em Gauteng, coletadas entre 12 e 20 de novembro. Centenas de outras amostras estão sendo analisadas no momento.

Repercussões da nova variante
O Ministério da Saúde emitiu nesta sexta-feira um alerta para secretarias estaduais e municipais sobre o risco da nova variante do coronavírus.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou medidas restritivas para voos e viajantes procedentes da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. Segundo levantamento (veja lista aqui) feito pela CNN na tarde desta sexta-feira, pelo menos 17 nações já haviam anunciado bloqueios totais ou parciais a viajantes vindos de países do sul da África.

A OMS, no entanto, alertou que não aconselha a imposição de restrições de viagens relacionadas à nova variante, mas que os países devem reforçar as estratégias de vigilância genômica.

A Bélgica foi o primeiro país da Europa a registrar um caso da nova variante da Covid-19. A informação foi divulgada pelo virologista Marc Van Ranst, cujo laboratório trabalha em conjunto com o departamento de saúde pública belga. O caso foi identificado em um viajante que voltava do Egito para a Bélgica no dia 11 de novembro.

A variante Ômicron também foi detectada em Israel nesta sexta-feira. Segundo o Ministério da Saúde local, o caso foi identificado em uma pessoa que veio do Malauí. Além deste caso já confirmado, há suspeita de mais dois casos vindos do exterior que aguardam resultados de testes.

CNN


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