Novas tecnologias e produtos diferentes vão depender de matérias primas que ainda não são produzidas em escala comercial e materiais dos quais só se ouviu falar mesmo por quem prestou atenção das aulas sobre a tabela períodica.
O processo de transição energética para a descarbonização está alimentando uma corrida global pelos chamados minerais estratégicos e que deve movimentar o equivalente a R$ 1,2 trilhão, algo em torno de 20% do Produto Interno Bruto, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia. O abastecimento deste mercado pode render um acréscimo de receitas de até R$ 125 bilhões aos cofres dos países ricos nos recursos necessários.
Reservas de minerais como ferro, cromo, sílica, vanádio, níquel, cobre, manganês, urânio, grafita, cobalto, manganês, lítio, fosfato e potássio, além do potencial para a geração de energia limpa, colocam o Brasil como um país estratégico para a transição energética. E há registros da presença de muitos destas substâncias na Bahia. Embora já produza níquel, titânio, cobre, urânio, sílica, cromo, vanádio, grafita, ferro e fosfato, a Bahia ainda enxerga o mercado dos minerais do futuro muito mais como uma oportunidade a ser aproveitada, do que como uma realidade consolidada.
É este potencial que atrai empresas como a Energy Fuels, uma companhia de capital aberto que figura entre as líderes em minerais estratégicos no mercado dos Estados Unidos. Em maio de 2022, a empresa adquiriu 17 direitos minerários no Brasil, todos na Bahia, mais precisamente no sul do Estado, em áreas entre os municípios de Prado, Alcobaça e Caravelas, no chamado Projeto Bahia, que está hoje em fase de consolidação dos números de recursos e reservas.
Mas, com base nos dados históricos de sondagem, já se sabe que as áreas dispõem de quantidades significativas de terras raras, principalmente a monazita – um fosfato castanho-avermelhado contendo elementos terras raras (ETR) e uma fonte importante de tório, lantânio e cério –, elementos cruciais para a transição energética.
As ETR são elementos fundamentais para o futuro, no entanto já estão bastante presentes no presente da humanidade. Estão presentes em produtos sofisticados e relacionados à alta tecnologia, incluindo monitores de TVs, baterias de carros elétricos, imãs permanentes, equipamentos para produção de energia eólica, discos rígidos para computadores, fibras óticas, catalisadores para refino de petróleo e para veículos automotores, turbinas de ar e ligas aeroespaciais, armamentos avançados de precisão e inúmeras outras aplicações.
“É muito importante destacar o papel do Brasil no cenário global de transição energética de fontes fósseis para energia limpa. Estima-se que o país tenha a terceira maior reserva de terras raras do mundo”, destaca Carolina Batista, diretora de assuntos jurídicos, comunidade e relações institucionais da Energy Fuels. Ela explica que atualmente a empresa está na fase de consolidação dos números de sondagem e estudos socioambientais da região. Atualmente, a empresa conta com time de comunidades trabalhando em tempo integral nas cidades de Prado, Alcobaça e Caravelas. “Apesar desses estudos não serem obrigatórios nessa fase do projeto, o envolvimento das comunidades locais já vem ocorrendo por mais de um ano, nos quais é dada a oportunidade da empresa explicar o andamento do Projeto Bahia e das comunidades de fazerem seus questionamentos e ponderações”, explica.
“Quando as pessoas associam sempre a mineração aos processos tradicionais, mas a mineração de terras raras é um processo bastante diferente. Acho que a melhor maneira de explicar é dizendo que não tem barragem, nem a utilização de produtos químicos. Basicamente, utiliza-se a água e a gravidade”, explica Carolina Batista.
Pensamento sustentável
O advogado Guilherme Fonseca Lima, especialista em Direito da Mineração do escritório Fonseca Lima & Bastos, destaca o papel da atividade mineral no processo de transição energética. “O fornecimento dos materiais necessários para a transição depende da mineração. Todo mundo quer carros elétricos, energia limpa, mas estes equipamentos demandam uma grande quantidade de minerais”, explica. Segundo Fonseca Lima, as estimativas são de que será necessário dobrar a produção mineral global para dar conta do desafio que está por vir.
“É muito importante termos a noção do sentido de urgência para superarmos os gargalos que atrapalham a mineração, porque o Brasil tem uma importância muito grande neste cenário, mas existem outros países com muito potencial também. Hoje nós ainda não estamos conseguindo aproveitar o nosso potencial como deveríamos”, avalia.
Ele lembra que o Ministério de Minas e Energia já que elencou os minerais estratégicos para a transição, mas ainda é necessário avançar em questões socioambientais. Outras frentes em que são necessários os avanços nacionalmente é justamente a área de pesquisa, em que a Bahia ocupa um papel destacado, graças à Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). “A Bahia tem o território mais bem mapeado do Brasil”, destaca.
O presidente da CBPM, Carlos Borel, acredita que o desenvolvimento da Bahia deverá passar pela produção dos minerais estratégicos. Segundo ele, o estado possui 55 tipos de minerais identificados, muitos deles essenciais para a transição energética. A CBPM hoje trabalha no desenvolvimento de uma área com extensão entre 200 e 300 quilômetros, em que foram identificados diversos minerais estratégicos. “É uma rocha multi mineralizada, com a presença de diversas substâncias, que já nos rendeu conversas com representantes de países como Rússia, França, Canadá, Estados Unidos e China, todos interessados em parcerias”, conta Borel. Na última semana, representantes da CBPM tinham reuniões marcadas com equipes das mineradoras Anglo American e Rio Tinto, diz o presidente da CBPM.
“Não há transição energética, não há descarbonização, sem mineração. O mundo tem buscado soluções e a indústria da mineração assume um papel fundamental para uma economia mais limpa e de baixo carbono”, avalia. Segundo Borel, há projetos em diferentes fases de maturidade na Bahia.
Correio24Horas
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