Sem São João, venda de fogos tem queda de até 90%

A tradição junina combina com fogos de artifício, mas os comerciantes do setor amargam prejuízos desde o começo da pandemia. Pelo segundo ano, a venda dos artefatos teve queda significativa, que chega a 90% para alguns negociantes, e as feiras que ocorriam há décadas estão proibidas de acontecer em Salvador. Os comerciantes, por sua vez, buscam outras alternativas para sobreviver.

É o caso de Marcos Pinto, dono da Cooperativa Paty, que está trabalhando como motorista de aplicativo. Antes da pandemia, estava acostumado a empregar pelo menos 20 pessoas em sua barraca de fogos neste período, na Feira de Fogos de Artifício de Salvador.  “Costumava ser um período de muito trabalho, mas de boas vendas, de fazer renda para o ano todo. Era um momento especial que há dois anos não é mais possível”, disse.

O negócio dos fogos também empregava pessoas da família. Renata Pinto, prima de Marcos, era uma das funcionárias. Moradora do bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, ela começou a vender quentinhas e espetinhos para ajudar na renda de casa.

Integrante da Associação dos Comerciantes de Fogos de Artifício de Salvador (Acomfart), Xuxa dos Fogos, dono de uma barraca homônima, conta que a Feira de Fogos de Salvador tem mais de três décadas de história.

Nesse período, passou por vários locais, mas ficou conhecida na época em que funcionava na Avenida Paralela. Há cinco anos, se mudou para a Avenida Mãe Stella de Oxóssi, em Stella Maris, para atender a legislação que determina normas de segurança como distância mínima de unidades escolares, estações de metrô e similares.

Xuxa conta que a Acomfart fez cinco pedidos à prefeitura de Salvador para realizar a feira em 2020, mas os pedidos foram negados para evitar aglomerações por conta da crise sanitária. Decretos municipais e estaduais proíbem eventos em Salvador e no restante da Bahia.

“Neste ano, o pessoal da Sedur não liberou a feira porque não tem como evitar aglomeração. Realmente eles estão certos na decisão. Não iríamos controlar o fluxo de clientes. Mesmo com curral, aferidor de temperatura e limitador de distância não conseguiríamos controlar a demanda porque é muito grande”, afirmou.

Venda pelas redes e delivery

O jeito foi fazer as entregas pessoalmente a clientes que encomendaram fogos pelas redes sociais ou WhatsApp. De acordo com Xuxa, ele vendeu pelo menos 40% a menos do que em anos sem pandemia. Ainda assim, vendeu todo o estoque que tinha em meados de maio.

Ele explica que os fornecedores são de Minas Gerais, onde há fábricas legalizadas. Mas, com o cancelamento do São João, as próprias fabricantes se desanimaram e sequer fizeram estoque. “Quem atende demanda de Salvador são as lojas de Lauro de Freitas”, explica.

Ligas de Salvador estão fechadas

O Corpo de Bombeiros Militar (CBM) é que faz a fiscalização das lojas vendedoras de fogos de artifício na Bahia. De acordo com a corporação, todas as ligas (vendedores que se reúnem em feiras ou locais específicos) de Salvador estão desativadas. Procurados, os governos estadual e municipal afirmaram que não há restrição de venda e que a proibição é somente para a realização de eventos como as feiras.

O CBM não se manifestou sobre ações de fiscalização em Salvador e Região Metropolitana. No interior, o setor de Atividades Técnicas do 16º Grupamento, de Santo Antônio de Jesus, atua na inspeção em Santo Antônio de Jesus, Sapeaçu e Cruz das Almas, com o objetivo de verificar se os estabelecimentos cumprem todas as normas de segurança exigidas.

A fiscalização verifica a distância entre os estabelecimentos e a presença de extintores, por exemplo. Além disso, também é checada a procedência dos materiais comercializados. Em Salvador, o Procon-BA também realiza a fiscalização das lojas.

Nesta quarta (16), o órgão iniciou a Operação Chamas, para fiscalizar a legislação correlata ao Código de Defesa do Consumidor (CDC) e orientar a população sobre seus direitos e deveres. Entre os aspectos observados estão a disposição de um exemplar do CDC em local visível e de fácil acesso nos estabelecimentos; precificação adequada dos produtos expostos à venda; condições para o pagamento à vista, inclusive descontos.

O Procon também vai checar rotulagem (fabricante, data de fabricação/validade, modo de exposição, advertência, etc), política de troca e emissão de documento fiscal contendo informações do valor aproximado da totalidade dos tributos federais, estaduais e municipais em relação a cada mercadoria ou serviço.

Diretor de Fiscalização do Procon-BA, Iratan Vilas Boas alerta que os consumidores precisam ficar atentos a todos esses itens: “É muito importante que os consumidores observem o prazo de validade dos produtos, além da origem de fabricação e o registro junto a órgãos fiscalizadores como o Inmetro”, afirmou.

Fechamento de feira afeta 1200 empregos

De acordo com a Acomfart, a Feira de Fogos de Salvador gerava cerca de 1200 empregos anualmente, sendo 800 diretos e outros 400 indiretos. A entidade é composta por 14 permissionários, todos membros da associação, que é a única completamente regularizada em Salvador.

De acordo com o comerciante Xuxa, a maioria dos membros têm no negócio uma herança de família. No seu caso, começou com o avô há mais de 50 anos, passou para o pai até chegar na vez dele. “Encontrei o que gosto de fazer”.

Xuxa se diz apaixonado pelo ofício e não esconde a emoção na voz na hora de afirmar não ser muito crente que a próxima geração terá o mesmo fascínio pelos fogos e tradições juninas.

“Além do coronavírus, a mudança cultural pesa também. Os meninos hoje em dia não soltam mais fogos, querem mais tablet, videogame. O próprio conceito de família mudou bastante, hoje os casais querem ter poucos filhos, vários querem um único. Percebemos que a procura das crianças reduziu”.

Correio


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