Jornalista e músico feirense, Renato Araújo questiona, em artigo para o IPIAÚ ONLINE, o valor de uma barra de chocolate importada em comparação com o mesmo produto fabricado no Brasil e lembra que a matéria prima, que sai da região de Ipiaú, é vendida para o consumidor estrangeiro mais barata do que para nós que produzimos. Confira.
Outro dia eu aproveitei uma promoção de um supermercado local e comprei chocolate importado da Itália por um preço mais em conta que o nacional. Além de mais saborosa (havia nitidamente mais chocolate que no chocolate nacional), a barra importada pesava 130g contra as 90 das barras nacionais.
Há de se dizer que, com o salário mínimo italiano, ainda que o país não seja um produtor de cacau, compra-se quatro vezes mais chocolate que com o nosso. E se levarmos em consideração o tamanho da barra, esta vantagem sobe para seis vezes mais. O caso do chocolate é exemplar.
Nossas barras outrora já tiveram também 130g. Aliás, continuam tendo nas versões que exportamos. Passaram para 110g e hoje estão em 90g. Não me assustaria se diminuíssem ainda mais. Não se trata de simples ganãncia do produtor. Nenhum fabricante sério de qualquer coisa que seja quer ver seu produto prejudicado no mercado. Trata-se do simples fato do aumento de impostos. Para manter o mesmo preço de gôndola, com maiores impostos, o fabricante diminui o tamanho do produto. Assim, no caso do chocolate nacional, você paga por 130g, come 90 e generosamente doa 40g para o estado. Simples assim.
Há de se considerar também o famoso “custo Brasil”. O custo Brasil é aquele valor que as fábricas pagam a seguradoras para serem indenizadas quando aquele caminhão vira e a carga é saqueada. É claro que é você quem paga a conta já que este valor entra no cálculo do custo final do produto.
O Brasil é o país dos custos e dos impostos.
Se isto ainda se revertesse em bom uso dos impostos, nem haveria do que reclamar. Porém, a corrupção, funcionalismo público agigantado, altos salários e mordomias sugam tudo. E é assim que, muitas vezes, encontramos um produto nacional sendo vendido muito mais barato no exterior. Quem importa seu produto fica livre do custo Brasil e da extorsão dos altos impostos. E então, espertamente, safos que somos, culpamos os empresários que afirmamos serem gananciosos, que poderiam vender aqui baratinho o que vendem lá fora. O estado, como sempre, agradece.
Outra questão é a de que temos um dos maiores polos de produção e exportação de cacau do mundo, na região sul e sudeste do estado da Bahia, notadamente na cidade de Ipiaú, que fornece para as indústrias brasileiras e do exterior e, ainda assim, a região experimenta, já há algumas décadas, uma profunda decadência. Sendo o chocolate um dos produtos mais consumidos do mundo, é estranho que tantos impostos sobre o produto não se transformem em riqueza para a região, que, já faz algum tempo, experimenta um enorme descaso por parte do estado em todas as suas esferas.
Renato Jorge Araujo é jornalista e músico em Feira de Santana
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