Pixel e passarela: como os videogames estão ditando tendências de moda no mundo real

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É inegável que a moda e os videogames não são mais mundos separados. Eles caminham lado a lado, influenciando-se mutuamente de maneiras cada vez mais profundas.

Longe de ser apenas um elemento estético dentro do jogo, o design de personagens, a estética dos universos virtuais e até mesmo a cultura gamer transbordam para o mundo real, ditando tendências, inspirando coleções de alta-costura e varejo, e até mesmo influenciando o guarda-roupa de gamers e entusiastas da moda em geral. Essa sinergia prova que os videogames não são um nicho, mas uma força cultural poderosa que redefine o que é “cool” e o que é “novo”.

A elegância sombria e gótica de Bayonetta é um exemplo primoroso. Sua silhueta esguia, os óculos marcantes, os saltos de agulha que se transformam em armas e, claro, seu cabelo demoníaco que vira roupa (ou vice-versa) são elementos que redefinem o conceito de sensualidade e poder. Ela incorpora uma estética “dark fantasy” com um toque “chic”, que pode ser observada em peças de couro, rendas, acessórios chamativos e uma atitude sem medo de ousar, mostrando tendências que flertam com o gótico moderno, o glamour e até o fetishwear de forma sofisticada. 

No jogo Bayonetta 3, o design da personagem passou por refinamentos, mantendo sua essência, mas com novas texturas em suas roupas de cabelo demoníaco e acessórios ainda mais elaborados. Essa evolução estética continua a inspirar a moda, com designers incorporando elementos como as longas fitas e os detalhes ornamentados vistos em seu último visual, reforçando a atemporalidade e o impacto da personagem como um ícone de estilo.

 

Dos avatares para as ruas

 

O que antes era restrito a fantasias e convenções de cosplay, hoje se manifesta em peças de vestuário que encontramos nas grandes lojas, desfiles de alta-costura e no estilo de celebridades que ditam moda. Marcas de luxo foram as primeiras a flertar abertamente com o universo dos games, percebendo o poder de engajamento e a relevância cultural desse universo.

 

Um dos exemplos mais icônicos foi a parceria da Louis Vuitton com Final Fantasy. Em 2016, a marca de luxo francesa chocou o mundo ao anunciar Lightning, a protagonista de Final Fantasy XIII, como a estrela de sua campanha “Series 4”. Com seus cabelos rosados e visual futurista, Lightning apareceu vestindo peças da coleção Primavera/Verão 2016 em imagens digitais criadas pela Square Enix, diluindo as fronteiras entre o virtual e o real na alta-costura.

Outro caso memorável é o do designer Jeremy Scott para Moschino. Suas coleções são conhecidas por abraçar a cultura pop com humor e ousadia. Em 2015, ele lançou uma coleção inspirada em Super Mario Bros., com estampas vibrantes e personagens icônicos do Reino do Cogumelo adornando bolsas, mochilas, camisetas e acessórios de luxo. Mais recentemente, a Moschino também se inspirou em jogos como The Sims, criando coleções que brincavam com a estética pixelizada e as barras de energia do jogo. Essas parcerias provam que a estética dos videogames não é apenas uma fonte de inspiração, mas um terreno fértil para a inovação e o diálogo entre diferentes formas de arte.

A influência vai além das colaborações diretas. Designers em todo o mundo absorvem cores, silhuetas e texturas vistas em mundos digitais, incorporando elementos de ficção científica, fantasia medieval e cyberpunk em suas criações, que acabam nas vitrines das lojas de departamento e nas coleções de marcas fast-fashion.

 

Personagens que são ícones de estilo

 

Muitos personagens de videogame se tornaram verdadeiros ícones de estilo, cujas vestimentas são tão reconhecíveis quanto suas personalidades e habilidades. Esses designs não apenas definem a identidade visual do jogo, mas também se tornam referências para designers, stylists e para quem busca um estilo diferenciado, seja ele futurista, gótico, ou casual.

 

Pense na armadura futurista e minimalista de Master Chief de Halo, que inspira designs utilitários e de alta tecnologia. Ou nos figurinos extravagantes e coloridos de lutadores de Street Fighter, que frequentemente apresentam silhuetas atléticas, detalhes dramáticos e uma explosão de personalidade, influenciando o streetwear esportivo. 

 

Outros exemplos:

 

Lara Croft (Tomb Raider): Seus trajes práticos e aventureiros — como o top sem mangas, shorts e cinto de utilidades — definiram uma estética de “mulher de ação” que ainda influencia a moda utilitária e o estilo aventureiro-chic.

Cloud Strife (Final Fantasy VII): Seu visual icônico com a gigantesca espada, cabelo espetado e cintos excessivos ajudou a popularizar um estilo cyberpunk-fantasy que ressoa em coleções de streetwear com inspiração asiática e militar.

Solid Snake (Metal Gear Solid): Seu uniforme tático e furtivo inspira a moda militar e utilitária, com bolsos cargo, tecidos resistentes e um foco na funcionalidade.

 

A subcultura gamer e o estilo casual

 

A influência dos games vai muito além dos desfiles de alta-costura, permeando a própria comunidade gamer que desenvolveu um estilo próprio. Camisetas estampadas com logos de jogos, moletons com referências a personagens, bonés e acessórios que celebram essa paixão são onipresentes. O “streetwear” e o “athleisure” absorveram elementos do universo gamer de forma orgânica, tornando-se uma forma de expressar identidade e pertencimento.

 

A explosão da popularidade de eSports e a ascensão de streamers como novas celebridades digitais também colocam a imagem do jogador em evidência, transformando-os em novos “influencers” de moda. Marcas de vestuário e equipamentos esportivos, como Nike e Adidas, já investem em linhas de tênis e roupas inspiradas em eSports ou em parcerias com times e jogadores profissionais, validando a moda gamer como uma categoria legítima.

 

Moda no metaverso e além

 

Com o avanço dos gráficos, a realidade virtual e a crescente imersão no metaverso, a moda digital dentro dos jogos ganha ainda mais relevância. Skins e itens cosméticos se tornaram um mercado multimilionário, permitindo que os jogadores expressem sua individualidade virtualmente. Jogos como Fortnite, Roblox e Animal Crossing: New Horizons são verdadeiras passarelas virtuais, onde os jogadores customizam seus avatares com roupas de marcas famosas ou designs únicos.

A Gucci, por exemplo, já lançou itens virtuais exclusivos em Roblox e Pokémon GO. A Balenciaga criou uma coleção virtual para Fortnite, e mais recentemente, vimos marcas de luxo explorando desfiles no metaverso, onde avatares desfilam roupas digitais que podem ser compradas tanto no formato virtual quanto físico.

Essa tendência sugere que, no futuro, as fronteiras entre a moda real e a moda virtual se tornarão ainda mais tênues, com os videogames se firmando não apenas como um laboratório de tendências, mas como um ecossistema de moda completo, onde o design, a expressão e o consumo de vestuário se manifestam em múltiplas dimensões. A moda gamer deixou de ser apenas um easter egg para se tornar uma linguagem universal de estilo.


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