Opinião Elson Andrade: A saga da cidade dos cegos

 

Obra: Pieter Bruegel il Vecchio, 1568, Museo nazionale di Capodimonte, Napoli – Itália.

Conta a lenda, que um velho funcionário público federal de alta patente do antigo Estado da Guanabara, por volta dos idos de 1960, ao se aposentar, resolveu realizar um velho sonho conservado em silêncio durante décadas – ir morar numa minúscula e isolada cidade do interior.
Enfim, o tempo que tarda mas não falha… chegou. E ao desembarcar na cidade, ele logo percebeu, ao seus olhos, um comportamentos estranho dos nativos: Atrapalhaaaados! E sem haver uma explicação explícita

O fato é que eles cometiam muitos desacertos em erros sucessivos, aparentes e latentes. Sempre vindo da parte do outro, claro. Era escorregão para lá, esbarrão para cá, dentre tantas quedas. Eles se batiam e se atropelavam constantemente. Além da clara falta de direção… não necessariamente a falta de sentido e propósito, pois sentiam na pele as dores e consequência das atarantadas reais!

Foi quando enfim, o novato, fitando de perto percebeu que embora os nativos tivessem olhos, em verdade eles não enxergavam! – Eureca!!! Pronto… agora vou enfim lhes ser útil, depois de décadas na excrescência pública. Minha experiência fará todo o sentido construtivista. Pensou o servil e astuto funcionário público. – Basta reuni-los e explica-los o que vem a ser a Visão. Problema resolvido. Contabilizou o ex-oficial.

Depois de se preparar durante dois anos estudando meticulosamente o tema Cegueira e os Benefício da Visão, convocou todos daquela cidade para lhes esclarecer algo revolucionário que afetaria a assertividade de toda a cidade… E pôs-se a explicar:

“Gente, sei que é difícil fazer com que vocês me entendam, porém tenho algo desvelador e revolucionário a lhes revelar. É que embora vocês tenham olhos, vocês não tem tido a Visão! E portanto assim, não são capazes de enxergar o Mundo Real que se passa verdadeiramente ao vosso redor”.

Doce ilusão! Mania de escritor. Sonho solitário d´um sério jornalista do interior. Amador. Não passou disto…
Isto, aos olhos daqueles cegos, caiu como gotas graúdas de pimenta malagueta nos olhos de quem ver a luz. E rapidamente em velhacos cochichos, os cegos da cidadezinha, tramaram e trancaram a porta do recinto… apagaram a luz e juntos arrancaram os olhos do forasteiro. Só para lhe impregnar a lição de nunca mais vender “ilusão”, tratando do abstrato. Do inovador. – Ora, cego é ele que quer nos fazer acreditar no que não existe no instinto natural dos humanos. Concluiu um cego da direita.

O caso acabou sendo investigado pela treinada polícia-política da capital. Estávamos em pleno “Regime Militar”, e a vítima foi considerada subversivo e enfim condenado, inclusive pelas provas anexadas ao processo, grafadas num velho caderninho com as seguintes anotações, abaixo transcritas:

A CEGUEIRA DOS BRASILEIROS – O QUÊ NÃO MAIS ENXERGAM DE TANTO VEREM!
“Saibam, os bancos funcionam em mão dupla, como se fossem estacionamento de aluguel e agência locadora de veículos ao mesmo tempo. Anfibologia obscura. Onde o carro pelo qual você paga para ser apenas estacionado, dá-se entrada na contabilidade como se fossem em verdade propriedade do estacionamento (banco), quando serve de engorda da frota destinada a locação! Sucessivamente. Os carros que de fato rodam pelas ruas, são na verdade de propriedade dos cidadãos. Nem 2% dos créditos circulam de forma simultânea…

Logo, o sistema financeiro está ganhando 98% sobre um serviço não prestado de fato, e muito mais grave e colapsível ainda; sobre uma frota real que se quer existe, além dos registros contábeis. Isto é uma apropriação indébita. Um furo contábil. Crime-afrouxado-legalmente. Enfim, os bancos são sócio dos governantes da vez. Os governantes da vez, tem a função-obrigação de entreter a população, via mídia, através de uma agenda e pauta programadas, com fatos-novela e denuncismos para ocupar inutilmente a atenção e consciência dos cidadão, a desviar a atenção da trapaça corrente expostas a olhos nus.

 

Devido ao país ter concentrado abruptamente 85% da população (urbana 1940-2000) em cerca 1% do território nacional. É óbvio que haveriam conflitos na segurança e saúde pública, saneamento básico, crimes ambientais e urbanísticos no acesso a moradia e a terra… pois a sorrateira escassez torna tudo muito mais caro e lucrativo, inclusive por consequência da famigerada especulação imobiliária, mesmo estando num país de dimensões continentais;

No Brasil, 65% da arrecadação dos impostos é executada pelo governo federal, 27% pelos 27 Estados e apenas 8% diretamente pelo 5.570 municípios. Isto é um sistema de dependência e perversidades. Super concentração programada. Quem não colaborar, não ganha doce. Bico fechado. Inércia servil. Quem for a favor, que permaneçam como estão! Como fazem os edis curuis (do latim aedīlis curules) da base aliada!

O produto interno bruto (PIB) é uma farsa. O produto nacional bruto (PNB), é a real soma da renda “Nacional” descontado o envio de recursos ao exterior. Este, quase nunca é divulgado, pois uma vez remetido o lucro as matrizes das transnacionais, o que resta é muito pouco para dividir para 209 milhões de cegos brasileiros;

O país tem concentrado 77% da geração e apropriação do PIB (riqueza gerada) na mão de 1% das grandes empresas, substancialmente, as transnacionais. Isto sem levar em conta, que com a terceirização (Pjotização) de serviços, em grande parte, servem ainda ao 1%, e na verdade é uma forma disfarçada de afastar estes pseudos Micro Empresários das regras, encargos e direitos estabelecidos na CLT, (vide subserviência e custos dos jornalistas contratados por grandes emissoras de TVs , Jornais e revistas);

Não bastasse a Dívida Pública bruta brasileira, que já ultrapassa os R$ 5 trilhões, o Tesouro Nacional está pagando altíssimos juros de forma clandestina sobre Contas Compromissadas em depósitos no Banco Central que já ultrapassam R$ 1,12 trilhões (capital desempregado sendo remunerado as custas do povo explorado). O congresso nacional está apto a barrar qualquer tentativa de Auditoria Cidadã da Dívida Pública, pois são veladamente financiados pelos beneficiários. Embora disfarcem bem, com esperneio teatrais; ora tentando lhes segar com ideologias de esquerda e outrora de direita;

Num país onde a concentração da renda é estruturada, legal e proposital! Onde apenas seis brasileiros concentram a mesma riqueza que a metade da população mais pobre;

Onde a taxa de juros para o pequeno tomador de crédito (maioria esmagadora) beira aos 384% ao ano, devido ao monopólio do crédito ser exercido por apenas 3 bancos comerciais e 2 estatais. Sendo que estes 2 últimos obedecem as ordens dos 3 primeiros, graças ao aparelhamento político-estatal. Muito diferente da sede imperial, onde nos EUA há mais de 6,5 mil bancos comerciais concorrendo entre si e emprestando recursos a taxas de até 4,5% ao ano;

Difícil é explicar para o peixe o que é água… o dia que perceber pela falta… já lhe será o cabo.

O ser humano cultua o novo e resiste a mudança, na ganancia individual de não perder; provoca uma falta paroquial.
A maior estapafúrdia d´um cego, é não perceber a si mesmo e portanto, não se posicionar no ambiente adequadamente, sem prejudicar aos demais.

Os olhos são apenas meios, muitos têm, mas poucos tem a percepção do olhar da indignação estrutural. E consomem seu dias em esbarrar, esbarrar, esbarrar. Agora vai!!! E mais uma vez, esbarram, esbarram, esbarram…
Enfim, em terra de cego, que tem um olho, e um Estado malandro (sócio de bancos e políticos) e uma mídia nacional “gratuita” encarregada da distração… não passa de caolho.”

Para os mais astutos, sugiro assistir ao vídeo abaixo:
Elson Andrade – arquiteto, urbanista, empresário e pós graduando Instituto de Economia da Unicamp


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