Nove barragens ultrapassam volume máximo de água na Bahia

Foto: Reprodução Inema

O escoamento da água acumulada na Barragem de Anagé, no sudoeste do estado, devido ao alcance da capacidade máxima da reserva na última sexta-feira (9), acendeu alerta para riscos de transbordamento em outras regiões da Bahia. As fortes chuvas elevaram o nível de nove barragens para além do volume máximo operacional, como mostra monitoramento feito pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). A entidade diz que não recebeu informações sobre riscos em barragens na Bahia.

Do total de barragens que tiveram considerável elevação no nível de água, quatro estão no sul e no centro-sul, zonas mais atingidas pelos temporais. São elas: Bandeira de Melo, em Itaeté; Cristalândia, em Brumado; Morrinhos, em Poções; e Iguape, em Ilhéus. Completam a lista Aipim, em Antônio Gonçalves; Pindobaçu, em Ponto Novo; Tapera, em Jaguaripe; e Joanes 1, em Lauro de Freitas, além de Anagé.

Diretor de recursos hídricos e monitoramento ambiental do Inema, Eduardo Topázio afirma que não há ameaça de transbordamento ou rompimento de barragens na Bahia. “São projetadas para suportar esse tipo de cheia sem causar dano”, justifica.

A Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb) é empreendedora legal da Barragem de Bandeira de Melo, Pindobaçu e Ponto Novo. Gerente do Departamento de Meio Ambiente e Barragens da companhia, Camila Medrado assegura que as reservas são monitoradas diariamente por equipes de campo que verificam o nível do reservatório, bem como as chuvas ocorridas.

“Nestes períodos de vertimento [quando o nível de água ultrapassa a altura do vertedouro da barragem] é realizada a intensificação do monitoramento e operação”, afirma ela.

Ponto turístico
A barragem de Anagé atingiu a capacidade máxima na sexta-feira (9). No dia seguinte, choveu novamente e o volume aumentou ainda mais. Um desvio da água foi feito até a segunda (13) para evitar alagamentos, mas não há alerta de risco para moradores. Pelo contrário, pessoas que moram na região contam que a reserva virou até ponto turístico.

“A cidade não tem muito a oferecer e o sangramento [escoamento] não oferece perigo. A reserva passou por manutenção há um tempo”, conta a moradora de Anagé, Renata Brito, 33. Esta é a segunda vez em que a reserva precisa escoar a vazão em menos de três anos, já que em dezembro de 2021 as fortes chuvas também encheram a barragem. Acostumada com o espetáculo das águas, a população está tranquila.

“Esse processo de aumentar volume do rio não vai oferecer risco, porque a água cai dentro do rio”, acrescenta. Renata diz que as chuvas sempre causam estragos na região, esburacam as ruas e as aulas foram remotas por dois dias devido aos buracos e alagamentos nas estradas. Mas nesta semana não houve temporal e o município vem voltando à normalidade.

Entenda o que é sangramento
Engenheiro civil e pós-graduado em geotecnia, Luciano Machado explica que quando a barragem chega na capacidade máxima, ou seja, tem mais água do que tem capacidade para suportar, é preciso extravasar um pouco do seu conteúdo. É quando diz-se que a barragem está vertendo ou sangrando. O processo é importante para renovar a água na barragem e ajudar a limpar a calha do rio.

Ele ainda alerta que a Defesa Civil deve estar atenta, visto que o curso que vai para o rio pode atingir populações que vivem próximas à região. Em caso de perigo de alagamento, é preciso esvaziar as casas. A longo e médio prazo, comenta, é preciso buscar medidas definitivas para romper o histórico de destruição a cada verão.

Barragem de açude em Wenceslau Guimarães já foi desmontada
A “barragem natural” que transbordou na cidade de Wenceslau Guimarães, no sul da Bahia, na noite do dia 6, já foi desobstruída e o fluxo de água voltou ao normal nesta semana, segundo o prefeito do município, Carlos Liotério.

O transbordamento aconteceu por volta das 19h, quando a água da chuva encheu um açude localizado em uma fazenda no município. A água que sangrou alagou o centro da cidade. A prefeitura decretou estado de emergência em razão das fortes chuvas e suas consequências. “Criou uma avalanche que afetou mais de 30 famílias. O volume que tinha na barragem era muito grande”, narra o gestor municipal.

No dia seguinte a água do alagamento escoou. Porém, o transbordamento deixou rastros. Foram 30 casas afetadas – sendo duas totalmente destruídas -, 25 famílias desalojadas e três desabrigadas. Moradores que perderam as residências se abrigaram em casas de amigos e vizinhos. A prefeitura ajudará os residentes que perderam tudo com aluguel social. Não houve registro de feridos ou óbitos.

Liotério explica que a represa pertence a um morador de Gandu, cidade vizinha de Wenceslau Guimarães, e diz que já resolveu a situação com o proprietário, dado que a represa não foi construída. “Esse local não é de fato uma represa, se tornou naturalmente uma barragem. Não foi ele [proprietário] que quis construir. Anos atrás a água começou a acumular e foi formando a barragem”, conta o prefeito.

As barragens são estruturas que interceptam os cursos d’água e permitem armazenar água nos períodos chuvosos para compensar períodos de estiagem. Muito importantes para suas regiões, somente precisam ser bem monitoradas e cuidadas, para garantir suas estruturas e também a segurança das comunidades vizinhas.

Correio

 


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