‘Não é Não’: Mobilização contra assédio no Carnaval reúne mulheres em sete capitais

Um caso de assédio sofrido durante Carnaval do Rio de Janeiro motivou um grupo de amigas a formarem a rede de apoio e de conscientização “Não é Não”. Na folia deste ano o projeto chega à terceira edição e pretende distribuir tatuagens com esses dizeres da campanha para mulheres que estiverem curtindo a festa em sete capitais do Brasil, incluindo Salvador.

A produtora cultural baiana Gabi Guimarães, 26 anos, é a embaixadora da rede na Bahia. A distribuição das tatuagens depende de um financiamento coletivo, e cada uma das cidades participantes têm a sua meta, que precisa ser alcançada para que as tatuagens sejam produzidas e distribuídas durante o Carnaval. Em Salvador o objetivo é arrecadar R$ 5 mil, e para alcançá-lo mais rapidamente a rede oferece ainda recompensas para os colaboradores. Os presentes variam de acordo com o valor da colaboração e contam com a parceria de empreendedoras locais.

No site do financiamento coletivo (veja aqui), é possível ver os valores que podem ser doados e as recompensas disponíveis, que são as próprias tatuagens e ainda brincos, colares, pulseiras, camisetas, entre outros. Apesar de ser uma campanha de mulheres feita para mulheres, todas as pessoas que desejarem podem colaborar com a causa. “O financiamento coletivo é sempre uma troca, porque você está financiando aquele projeto junto, você é um sócio daquele projeto. Esse ano além das recompensas serem uma forma de troca pra quem está colaborando, a gente fortalece as empreendedoras locais”, explicou uma das produtoras da campanha nacional, Luka Campos.

A aglomeração de pessoas nas ruas durante a folia momesca expõe as pessoas a situações desagradáveis. As mulheres são um dos principais alvos do assédio e da importunação sexual neste tipo de ocasião. Tendo isso em vista, Gabi contou que a intenção é usar as próprias mulheres, com o uso das tatuagens “Não é Não”, como instrumento de luta, informação e conscientização. “A gente tem que deixar claro que não estamos dispostas a passar por esse tipo de situação”, argumentou a baiana ao falar sobre o assédio.

“A cultura do machismo, a cultura do estupro, do feminicídio, ela fere toda a sociedade e não só as mulheres”, disse Gabi ao ressaltar a importância de uma rede de apoio e do debate sobre esses temas.

Engajada em outras militâncias e campanhas em defesa das mulheres, Luka definiu a bandeira principal da rede de proteção, o feminismo, como “cura”: “Feminismo representa cura, nós [mulheres] somos educadas, criadas, influenciadas para não sermos fiéis a quem nós somos, a gente é ensinada a cumprir papeis sociais”. “A luta feminista me permite olhar para isso e questionar se eu quero isso ou não, o que eu quero ser, além de confiar que eu posso ser o que eu quero ser”, completou.

A edição de 2019 foi idealizada de maneira diferente das anteriorioes, cada capital possui um financiamento próprio e conta com uma embaixadora local. De acordo com Luka, essa ideia de organização partiu do entendimento de que cada cidade possui peculiaridades quanto à festa de Carnaval. “Seria uma arrogância muito grande de nós cariocas acharmos que a gente sabe fazer campanha em cada um dos cantos do Brasil”, esclareceu ao defender que deste modo a campanha se torna mais efetiva.

“Como formamos redes a gente liberta umas as outras”, acrescentou Luka que destacou uma característica peculiar da campanha: ela é pensada para um dia não ser mais necessária. “A meta final do projeto é ele parar de existir, parar de ser necessário. Eu aguardo o ano em que a gente se reúna para conversar em novembro e chegaremos a conclusão de que não precisamos mais fazer”.

BN


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