Além dos desvios de emendas parlamentares envolvendo o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), a empresa Allpha Pavimentações, também é investigada pela Operação Overclean por superfaturamento e desvio de dinheiro em contratos envolvendo prefeituras baianas.
Uma delas é a de Jequié, onde o esquema chegou a movimentar mais de R$ 1,440 milhão e envolvia o pagamento de propinas a uma servidora da Secretaria Municipal de Infraestrutura.
Segundo a investigação da Polícia Federal, Kaliane Lomanto Bastos, atuava na fiscalização de obras públicas de responsabilidade da própria empresa Allpha Pavimentações. A servidora é citada com uma das principais suspeitas do esquema da empresa em Jequié, tendo recebido mais de R$48 mil reais em propina para facilitar a obtenção de contratos da empresa e liberação de pagamentos e notas fiscais.
Em conversas telefônicas obtidas pela Polícia Judiciária, em janeiro deste ano, Kaliane se dirigia a Alex Parente – sócio da Allpha e um dos principais investigados da Overclean junto ao irmão, Fábio Rezende Parente -, cobrando o pagamento por suas operações no esquema. Ela relata que estaria sem receber desde outubro, cerca de três meses, e relata que conseguiu liberar mais de R$ 580 mil reais em pagamentos à Allpha Pavimentações.
Na conversa a servidora cita que ainda haveria quatro notas da empresa “travadas” no Executivo. Elas estariam sobre o controle de Kleber Ramos de Jesus, Controlador Geral do Município de Jequié. Para dar seguimento a suas atividades junto ao grupo formado por Alex Parente; Lucas Maciel Lobão, ex-Coordenador Estadual do Dnocs; e Anderson Gomes dos Reis, também ligado a Allpha Pavimentações, Kaliane Bastos pede o pagamento de R$ 15 mil reais em uma conta sugerida por ela, no nome de Henrique Pires Bastos.
Ainda segundo mensagens trocadas por Kaliane Bastos e Alex Parente, ambos voltam a discutir, nos dias subsequentes, o andamento dos contratos, pagamentos de novas propinas e a necessidade de “reequilíbrio” dos valores dos contratos firmados junto à Prefeitura para justificar o pagamento de valores extras. Nesse momento, o prefeito de Jequié, Zenildo Brandão Santana, conhecido como “Zé Cocá”, é citado por Kaliane por ter se posicionado contra a liberação de novos recursos a empresas contratadas pela Prefeitura. Kaliane afirma ainda que o prefeito cobrava a conclusão das obras da Allpha em Vila Aeroporto e Mandacaru.
A Polícia Federal ressalta no inquérito que Zé Cocá não é suspeito de envolvimento no esquema. O documento cita que, apesar do impasse, “aparentemente, os problemas mencionados foram resolvidos com recursos da Prefeitura”. Após a liberação de mais notas à Allpha, a servidora municipal volta a receber três pagamentos que chegam a mais de R$ 8 mil reais.
Além de membros da família, a Polícia Federal identificou, por meio de arquivos da nuvem de Clebson Cruz, que Kaliane recebeu valores em nome de Amauri Sampaio, engenheiro fiscal de obras da Prefeitura de Mirante, cidade vizinha a Jequié. Amauri teria confirmado o repasse a servidora jequieense por meio de um áudio: “Valeu, Pedro [codinome utilizado por Clebson], vou encaminhar pra ela aqui, viu? O pessoal lá de Jequié, viu? Valeu, brigado, tchau, tchau”, aponta a transcrição.
Clebson Cruz seria um dos operadores do esquema da Allpha Pavimentações, considerado “o braço direito” de Alex Parente. Ele teria vínculo com as empresas Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda., Qualymulti Serviços Eireli e Olgarena Comercial Ltda., todas ligada a família Parente.
A Polícia Federal contabilizou, por sua vez, durante análise da quebra de sigilo bancário, que os pagamentos efetuados pelo Município de Jequié para a empresa Allpha chegaram a R$ 1.440.919,06, sendo que o último foi realizado em 19 de janeiro de 2024.
BN
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