Ipiaú: Horto Florestal segue sendo local quase desconhecido dos moradores; confira a série de reportagens especiais

A partir desta semana o IPIAÚ ONLINE  realiza uma série de reportagens descrevendo a trajetória e a importância de um espaço verde que tem sido deixado de lado no desenvolvimento social de Ipiaú: o Horto Florestal do município.

A série de reportagens semanais, de autoria de dois mestres, o historiador Albione Souza e o ambientalista Eritan Alves, faz um balanço de toda a trajetória para a criação do local, passando por várias governos e chegando até o momento atual, quando o horto segue sendo um local praticamente desconhecido de grande parte dos moradores de Ipiaú.

Origens Históricas do Horto Florestal de Ipiaú

Em Ipiaú existe uma área verde urbana remanescente de fazenda de cacau, que foi denominada de Horto Florestal.

Com árvores nativas da mata atlântica e exóticas, esta área desempenha e fornece diversos serviços ecossistêmicos que promovem benefícios à saúde e ao bem-estar dos moradores.

A história de como surgiu essa exuberante área verde, o Horto Florestal de Ipiaú, iremos contar a partir de agora.

Iniciava o fatídico ano de 1964 quando o município de Ipiaú, bem como todo o Vale do Rio das Contas, foi surpreendido por uma das maiores cheias da sua história.

Nessa época, ocorre um fato que causa grande repercussão na cidade: a Igreja Católica (matriz de São Roque) desaba com as fortes chuvas que afligem a cidade.

Sobre as consequências da cheia em Ipiaú, o jornal A Tarde, em 20 de janeiro de 1964, publica uma matéria tratando da situação com a seguinte notícia: “De todas as cidades atingidas pelo rio de Contas, a que se encontra em pior situação é Ipiaú, onde, ontem à tarde, já havia se registrado mais de 200 desabamentos, inclusive da igreja local.

Antiga Igreja de São Roque que desabou com a enchente de 1964. Localizada próximo à atual Caixa Econômica Federal.

As estradas que ligam este município com Itabuna, Ibirataia e Tesouras, estão obstruídas em vista das chuvas que continuam caindo fortemente em toda região.

Nas ruas do Cacau, do Abacateiro e Praça Rui Barbosa registram-se vários desabamentos, estando a população completamente ao desabrigo. A Avenida São Salvador, situada no caminho do campo de aviação, está interditada, visto que nada menos de 100 casas desabaram, tendo as autoridades, por medida de segurança, decidido evacuar as demais famílias que ali ainda se encontravam.

O prefeito de Ipiaú se dirigiu às autoridades sanitárias do Estado pedindo providências, uma vez que teme epidemia de moléstia infectocontagiosa”.

A situação piorava devido a existência de propriedades rurais em torno da cidade, “espremendo” a população entre os rios transbordando e as cercas de arames farpados preservando a sacralidade das roças de cacau. Diante dessa calamidade, o prefeito Euclides Neto busca meios para conter o flagelo da população. Recorreu ao governador do Estado, Lomanto Júnior, recebendo doações e medicamentos a fim de combater o surto das enfermidades; entretanto, a falta de moradias demandava maiores recursos.

Assim, movido pela necessidade em abrigar os flagelados, o prefeito utiliza outra propriedade rural para fins de desapropriação, priorizando mitigar os problemas de ordem social, em detrimento da manutenção de propriedades rurais limítrofes ao perímetro urbano.

A área escolhida era parte da Fazenda Conquista, espólio da família do Sr. Alberto Pinto. A desapropriação da área com 16 hectares, feita através do decreto 1.009 de 20 de janeiro de 1964, gerou litígio entre seus proprietários e o poder público municipal, pois no local existia uma frondosa roça de cacau, sendo inconcebível sua derrubada dando lugar aos casebres para os desalojados da cheia de 1964.

Durante a derrubada dos cacauais, até mesmo os trabalhadores da prefeitura encarregados desta tarefa, sentem-se indispostos ao cumprimento do decreto de desapropriação. Marcelo Teixeira narra o episódio:

“Quando houve a grande enchente, que se perderam muitas casas ao longo da beira do Rio das Contas, a cidade era cercada pelas fazendas, acabava o rio e começava a cerca onde o gado estava pastando. E ele teve que desapropriar. Tentou fazer de forma amigável, mas não conseguiu. Ali [o local a ser desapropriado] era uma roça de cacau muito bonita, frondosa; ele teve que desapropriar explicando ao proprietário que aquela área foi a mais apropriada para fazer o bairro. E ele [o proprietário] teria que ceder. Pois, estavam do outro lado famílias inteiras: homens, mulheres, velhos, crianças e não poderiam ficar desabrigados, porque ali era uma roça de cacau. No momento em que a justiça vai lá dar a emissão de posse ao município, à prefeitura, para começar as obras, ele [Euclides] está presente. Ele conta que os próprios funcionários da prefeitura não tinham coragem, mesmo estando ali empossados pela justiça, de começar a derrubada dos cacaueiros, era uma coisa sagrada, ele teve que pegar o machado e derrubar o primeiro cacaueiro, aí então as pessoas tomaram coragem e continuaram”.

Para a construção das residências, foram utilizados alguns materiais recuperados na enchente, além de recursos emergenciais do município e do Estado. Cada casa possuía terreno medindo oito metros de frente por vinte metros de fundos, a área construída era dividida em dois cômodos quarto e sala, possibilitando, posteriormente, a ampliação da área inicialmente construída.
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Casas construídas para os desabrigados da enchente de 1964. Área desapropriada do espólio do Sr. Alberto Pinto, iniciando-se o loteamento do “Bairro da Democracia

Vemos na foto acima a área desapropriada, que além de servir para a construção de moradias, também foi utilizada para a construção do Centro agrícola de Educação, formado pelo Ginásio Agrícola Municipal de Ipiaú-GAMI (atual CEI), Escola de Menores, Escola Centro de Educação e o HORTO FLORESTAL MUNICIPAL DE IPIAÚ, área original com cerca de seis (6) hectares, com árvores e plantio de cacau, utilizada para a realização das aulas práticas com os estudantes.

Área do Horto Florestal de Ipiaú/ Foto: Google Maps

Com uma visão futurista e ambientalista, o senhor Euclides José Teixeira Netto reservou essa área, também, para que a natureza fosse protegida e preservada para o uso das futuras gerações, além da realização de atividades de pesquisas educacionais e ambientais.

Nas próximas semanas, continuaremos contando a História Ambiental do nosso querido Horto Florestal, uma belíssima área verde urbana, no centro da nossa querida cidade de Ipiaú.

Prof. Albione Souza Silva – Mestre em História – UNEB- Alagoinhas
Prof. Eritan Alves de Oliveira – Mestre em Conservação da Biodiversidade –ESCAS/IPÊ


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