Em 1965, com a assinatura do Ato Institucional nº 2, denominado AI-2, o governo militar, iniciado após o golpe de 1964, dissolveu os 13 partidos políticos existentes na ocasião do golpe contra o presidente João Goulart e instituiu o chamado Bipartidarismo, com a existência da Aliança Renovadora Nacional – ARENA, agremiação dos militares, e do Movimento Democrático Brasileiro – MDB, liderado pelo deputado federal Ulisses Guimarães e composto por políticos opositores que não haviam sido cassados pelos militares após o Ato Institucional de nº1 (VARGAS, 1982).
É neste contexto que em Ipiaú, município localizado ao sul da Bahia, na região cacaueira, atual Território de Identidade do Médio Rio das Contas, que Hildebrando Nunes Rezende (1930-2002), filiado ao Movimento Democrático Brasileiro – MDB, disputa as eleições municipais concorrendo com o candidato Milton Pinheiro, um militar, professor, representando a Aliança Renovadora Nacional – ARENA.
Ao longo da campanha o candidato do MDB utilizou o slogan “Pense bem. Você conheceu Hildebrando em época de eleição ou sempre? Vote em um filho de Ipiaú “. Por outro lado, o candidato da ARENA massificava o lema “Milton Pinheiro, o Educador dos nossos filhos” (Jornal de Ipiaú, 1972, edição 79).
Enquanto o sentimento de pertencimento foi explorado pelos articuladores da campanha de Hildebrando Nunes, pautando-se em suas raízes locais, apelando para o bairrismo, o candidato Milton Pinheiro apoiou-se em sua carreira como educador para tentar sensibilizar seus eleitores, muitos deles seus alunos e familiares. Salientamos que o seu perfil militarista não foi explorado como trampolim eleitoral. Certamente o ambiente nacional de autoritarismo gerava uma imagem desgastada da figura do militarismo à frente da presidência da república, marcada por medidas autoritárias que cerceavam muitos direitos e liberdades à população civil.
Neste sentido, em Ipiaú, desponta o carismático Hildebrando Nunes Rezende, como candidato do MDB, fazendo oposição aos aliados do regime militar. Nesta perspectiva surge o questionamento: como o prefeito eleito em Ipiaú pelo MDB conseguiu superar o candidato da ARENA e seus aliados, que, até aquele momento, representavam os grupos políticos hegemônicos no município de Ipiaú?
Com sua inconteste popularidade e forte identidade local, Hildebrando Nunes conquistou a confiança da população de Ipiaú propagando o espírito democrático e a participação popular movida pelos anseios dos projetos que atendessem as necessidades das classes sociais menos favorecidas. Diferente das eleições para escolha do chefe da nação, que ocorria de forma indireta, nas eleições municipais, predominava o voto direto para a escolha dos prefeitos e vereadores, prevalecendo a vontade da maioria dos eleitores.
Em matéria publicada pelo Jornal de Ipiaú, edição de número 79, em 23 de setembro de 1972, fica ressaltada a expectativa para que as eleições municipais de 15 de novembro de 1972 ocorressem sem a interferência das forças militares nacionais, ou mesmo com ameaças e tensões entre os grupos que disputavam o pleito:
Saibamos aproveitar o momento para consolidar a certeza de que sabemos mexer a nossa panela. E que os graúdos dos escalões superiores não venham nos jogar uns contra os outros: machucando velhas amizades, acenando com o prestigio do alto, quando que na realidade o que desejam é acirrar os ódios, criar facções radicais, segurando, assim, pelo menos, um lado. (Jornal de Ipiaú, 1972, edição 79).
Com a eleição em Ipiaú realizada em 15 de novembro de 1972, a população foi às urnas e após a apuração, o resultado final foi a vitória de Hildebrando Nunes Rezende com 3.465 votos contra 2.470 do seu opositor, Miton Pinheiro. A diferença entre o candidato vencedor e o derrotado foi de 995 votos. Com a derrota da ARENA, iniciava-se um ciclo de hegemonia das forças políticas progressistas e populares no município de Ipiaú, tendo a liderança do carismático Hildebrando Nunes e o apoio político do advogado e escritor Euclides Neto, principal articulador da campanha do prefeito eleito.
Ressaltamos que após a gestão do prefeito Euclides Neto iniciada em abril de 1963 e concluída em abril de 1967, as eleições em Ipiaú ocorreram com candidaturas únicas e eleições marcadas pela hegemonia da ARENA. Esse período somente seria quebrado com a criação do MDB e consequentemente seu fortalecimento junto às camadas sociais mais populares e empobrecidas do município.
Com a vitória do prefeito Hildebrando Nunes Rezende (MDB) dava início a uma nova fase da política ipiauense com as eleições de 1972. Entrava em cena a força das massas populares denominadas de garranchos, denotação dada aos eleitores do prefeito Hildebrando Nunes Rezende, pois ao longo da campanha eleitoral, durante as passeatas e comícios uma multidão segurava pedaços de galhos secos de árvores, adotados como identidade política dos apoiadores do MDB em Ipiaú, a partir da campanha vitoriosa nas eleições de 1972.
Portanto, nesse contexto, pós eleições municipais, inaugura-se na política local uma forte identificação com os discursos efusivos e empolgantes das lideranças de resistência em Ipiaú aos governos antidemocráticos ligados à ARENA.
Na Bahia as forças da Aliança Renovadora Nacional- ARENA eram articuladas pelos grupos políticos capitaneados por Antônio Carlos Magalhães, cujo seguidores eram denominados de “Carlistas”. Em matéria publicada pelo Jornal de Ipiaú, nº. 82, em 28 de novembro de 1972, com o título de capa “Euclides e Hildebrando deram show de votos na ARENA”, no calor do momento pós eleitoral, o editor da matéria afirma que:
Como acontecera em outros municípios onde o MDB vinha tendo dificuldades de suplantar seus adversários, em Ipiaú onde esse partido aparecia pela primeira vez, também simplificaram os embaraços e as impossibilidades dos primeiros momentos, conseguiram ultrapassar a marca dos 995 votos os seus adversários com uma larga diferença.
Não deixou de causar essa vitória em espanto geral que está preocupando os técnicos em coisas de política no sentido de descobrir as causas da hecatombe. Já no momento, dado o espírito de imitação das crianças, a gente vê em vários pontos das cidades os meninos usarem microfones de tubos de papel, dando alôs! E imitando os discursos que ouviram durante a campanha eleitoral. E isso ficará como lembrança na moçada por longo tempo. (Jornal de Ipiaú, 1972, edição 82)
Na obra “Portas do Eden: a poética de José Américo Castro e o imaginário coletivo de Ipiaú” (2017. p. 150), Wilson Midlej relata que em 1964, quando Hildebrando Nunes exercia o cargo de vereador em Ipiaú, demonstrando sua habilidade e autenticidade no contato com o povo, conforme narrativa pitoresca a seguir, tratando da grande cheia do Rio das Contas, em 1964:
Cerca de 9 horas da noite, todos diante da Igreja de São Roque já em destroços, esperando o momento de o local do côro desabar. Hildebrando, de sandália japonesa branca, camisa de meia, num rompante de emoção, disparou entre os escombros, sumiu no interior da igreja e, quando retornou com a imagem de São Roque nos braços foi ovacionado pela pequena multidão, que o aclamou como verdadeiro herói das histórias em quadrinhos.
Neste sentido, infere-se que Hildebrando Nunes desde o exercício do seu mandato no parlamento municipal (1963-1967), durante a gestão de Euclides Neto, foi notória a sua atuação em defesa dos interesses sociais e culturais. Por fim, ressaltamos que, por ações como essas narradas acima, dentre outras, que permanecem no imaginário popular, este homem público, político carismático, desperta ainda hoje o interesse de pesquisas acadêmicas, que visam refletir questões históricas, sociais e culturais presentes no contexto da sua atuação política.
Hildebrando Nunes, um gestor das massas trabalhadoras
Com a primeira gestão de Hildebrando Nunes Rezende, iniciou-se nos finais do conhecido milagre econômico brasileiro. Foi marcada por um considerável desenvolvimento, tanto na sede do município como na zona rural. Pontuamos, que o período correspondente a sua primeira gestão, são os anos de 1973 à 1977. O município na década de 1970, era composto por uma população de aproximadamente 27.752 pessoas.
O Estado da Bahia nessa fase histórica tinha como governador o médico e político Antônio Carlos Magalhães, sendo indicado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici. Neste sentido, o prefeito local era oposição a nível estadual, de igual modo, também ao governo federal, contudo, Hildebrando Nunes mesmo no campo oposicionista conseguiu realizar uma as melhores gestões da história do município de Ipiaú.
Gestão marcada pelo desenvolvimento social, cultural e infraestrutural
A primeira gestão municipal de Hildebrando Nunes, foi voltada para atender as demandas socioeconômicas dos mais carentes, em sua maioria trabalhadores (as) espoliados (as), explorados (as) e dos menos favorecidos pelo sistema econômico capitalista cacauicultor local e regional. Viabilizou a abertura de estradas vicinais e tantas outras melhorias ocorreram, como pavimentação de ruas, redes de esgotos e eletrificação de bairros periféricos.
Hildebrando Nunes Rezende no ano de 1975 viabiliza a composição do hino de Ipiaú-BA, que exalta as características dos ipiauenses, da natureza local, exemplo, do Rio das Contas que margeia a cidade e desagua no oceano atlântico, em Itacaré. De igual forma, faz referência os primeiros habitantes e, consequentemente, as pessoas que plantaram os primeiros pés de cacau no território são exaltados no hino, sujeitos vindos de várias regiões do Brasil e do mundo, como os tropeiros pretos/pardos e brancos pobres, tempo depois chagaram os italianos, árabes etc; eles foram os principais responsáveis pela ocupação e colonização do território que se chamaria Rio Novo. Posteriormente a localidade receberia a denominação de Ipiaú, que na língua Tupy significa “Rio dos Piaus”. Pinto e Simões (1975) pontuam que:
Na fibra e na coragem do teu povo reside tua riqueza Ipiaú. Histórias do saudoso Rio Novo são lembranças no Norte, exaltadas no Sul. Salve os pioneiros que um dia chegaram. E que plantaram os teus cacauais, dando a semente, do teu presente, que cresce mais e mais. Ipiaú, meu bem querer! Teu Rio de Contas tranquilo a correr. Ipiaú, que bom lembrar…Teu céu de estrelas sempre a brilhar.
Políticas sociais e memória coletiva local
A memória humana é resultado das ações históricas que acontecem entre os sujeitos que formam o conjunto da sociedade. Neste sentido, parte da população contemporânea recorda do político líder dos “Garranchos” com inconteste nostalgia. Dessa maneira, durante a pesquisa surgiram muitos comentários elogiosos às suas duas gestões. Fato expostos tanto dos seus correligionários como pelos séquitos dos seus antigos adversários políticos.
Hildebrando Nunes Rezende era um indivíduo carismático com envolvimento com as camadas populares. Foi um político com forte identificação com a população menos favorecida da sociedade ipiauense, mesmo sendo oriundo de famílias tracionais e detentoras de propriedades ruais no município de Ipiaú. Seu carisma era contagiante, no sentido mais empolgante do termo. Portanto, ele deixou boas recordações no imaginário coletivo dos ipiauenses, principalmente nas memórias dos seus eleitores, os quais o fizeram vencer por duas vezes as eleições municipais para prefeito, também fez parte da câmara municipal na gestão do prefeito Euclides Neto (1963-1967). Hildebrando Rezende também foi eleito vice-prefeito na gestão do ex-prefeito José Andrade Mendonça (2000-2004), em seu último cargo público eletivo no município.
As elites da Região Sul baiana na época do auge do cacau tinham acesso aos artigos mais luxuosos e supérfluos, estimulados pela ideologia do consumo. Realidade bem distinta das precárias condições de vida submetidas às classes subalternizadas da região cacaueira. As desigualdades sociais eram alarmantes, pessoas eram exploradas nas fazendas de cacau não tento acesso ao mínimo de dignidade humana.
Em Ipiaú no período analisado nesse estudo verificou-se que muitas pessoas não possuíam moradias próprias ou dignas, como constataremos no relato a seguir de uma das pessoas colaboradoras desse trabalho. Recorremos à memória de uma das eleitoras de Hildebrando, mulher, mãe solo, preta retinta, atravessada por inúmeras intersecções como raça, gênero e classe, fator comum às mulheres pretas/pardas e indígenas no Brasil, muitas delas desempregadas.
Ela narrou que tinha sete crianças entre filhos e filhas, era uma mãe solo e jovem, seu pai também morava com ela em um barraco de madeira, localizado na antiga rua da Batateira, atual rua Walter Hollenwerger, Bairro da Democracia. Muitas ruas não eram contempladas com água encanada, luz elétrica, pavimentação e muitas pessoas passavam fome no município. A colaboradora Chica 01 declara que:
Quando Hildebrando saiu para candidato da primeira vez em 1972, na época da campanha ele veio até ao meu barraco, onde eu morava com meus filhos e com meu pai. Hildebrando me disse Chica, se você votar em mim, se eu ganhar as eleições, vou fazer sua casa de tijolos, ele disputou as eleições com o capitão Milton. Em 1973, no primeiro ano de sua gestão ele construiu minha casa de tijolos, em Ipiaú nunca teve um prefeito igual a Hildebrando, ele trabalhou muito, no tempo dos comícios as pessoas carregavam os garranchos nas mãos, era uma festa linda. Ele foi um prefeito muito bom, fazia micaretas, exposição e calçou a Batateira, Hildebrando era muito bom para o povo pobre. (Fonte: informação verbal. Ano: 2023)
No relato da colaboradora, ficou evidenciado o perfil político e administrativo do referido gestor municipal. O prefeito cumpriu com o prometido em construir a casa de tijolos para a sua eleitora. Era um político preocupado com as necessidades sociais dos injustiçados, explorados e espoliados pelo patriarcado rural, representado pelos grande cacauicultores capitalistas locais. Mas, a gestão de Hildebrando Nunes Rezende se destacou em várias frentes, já mencionadas em outros pontos desse texto, a exemplo da educação, pavimentações de ruas, saúde, dentre outras ações sociais. São tais políticas públicas voltadas pra a população mais carente, bem como o fomento às festas e tradições populares que marcaram a sua gestão.
Porquanto, no período pesquisado o município de Ipiaú estava entre os mais prósperos da chamada “Região Cacaueira”, devido as riquezas produzidas nas fazendas de cacau. Sem dúvida, o principal ativo da região, que naquele momento histórico era o principal produto de exportação do estado da Bahia.
Neste sentido, Ipiaú foi marcada por grandes contradições econômicas, enquanto o patriarcado cacauicultor capitalista local, com seu narcisismo usufruía de todos os privilégios que o capitalismo podia oferecer, como as viagens para a Europa, Estados Unidos e festas nos melhores lugares no Brasil. Por outro lado, muitos pobres passavam fome em Ipiaú-BA na década de 1970.
O colaborador 2 Seu Nengo pontua que:
Pessoas carentes no gabinete pedindo esmola afim de se alimentar. Imediatamente mandou cadastrar todos os carentes do município, sem condições de trabalhar e criou uma distribuição de ajuda às sextas-feiras de arroz e feijão. Nos períodos de festas de Semana Santa e São João distribuía peixes a vontade e vivos criados na Fazendo do Povo. Distribuía carne fresca, milho, as mãos cheias laranja, carne de porco e frangos criados.
Na rua Walter Hollenwerger (Batateira). Um morro ali, onde está o mestre Elias, e outro na praça. Portando, dos morros com humildes casinhas sem nenhumas condições de moradia digna, era uma verdadeira promiscuidade sem sanitários sem esgotos, tirou os moradores demoliu os morros, construiu no mesmo local na praça casas denominadas Santa Helena. (Fonte: Informação verbal. (Ano: 2023).
Ipiaú na década de 1970 tinha poucas ruas pavimentadas. A locomoção não era boa para os pedestres, que moravam nas localidades da sede do município e adjacências. Dessa forma, o prefeito investiu em pavimentações em várias ruas, melhorando a locomoção das pessoas e o tráfego de veículos. As ruas são espaços onde ocorrem várias formas de relações humanas, desde atos violentos e encontros afetuosos entre parentes e pessoas amigas.
Os aspectos das ruas e avenidas melhoram satisfatoriamente, as pessoas ficaram contentes na sede do município pelas obras realizadas pelo então gestor Hildebrando Nunes. Da mesma maneira, o distrito de Córrego de Pedras também foi contemplado com calçamentos (pavimentação a paralepípedos) de partes de suas ruas e outras benfeitorias ocorreram nas dependências do distrito, deixando a população feliz com todo o processo de desenvolvimento local. Em jornal da época, Altino Cerqueira (1975) destaca que:
A administração municipal já entendeu que a nova fase que Ipiaú precisava foi a modernização do seu aspecto atual. Calçou as ruas da Usina (trecho da Escola Sagrada Família); Beco das lavadeiras (Praça dos Comentas); Carlos Borges de Souza (antiga Nova Conquista); Carneiro Ribeiro; Celso Barreto; Walter Hollenwerger (Batateira) dando acesso à praça Itambé (bairro da Democracia) e no Povoado de Córrego de Pedras, calçamentos estes com recursos próprios do Município. Também com a colaboração do DERBA, o calçamento da Avenida Lauro de Freitas (antiga Jequié), numa extensão de quase dois quilômetros. Daí partindo para a solução total no setor de calçamentos, colocou meios-fios nas ruas do Campinho de Futebol, Joaquim Nabuco e Carlos Gomes (CEQUEIRA,1975, p. 2).
A primeira gestão de Hildebrando não se resumiu ao assistencialismo. Diante dos levantamentos de dados foi possível constatarmos o quanto o gestor trabalhou em prol do desenvolvimento do município, dessa forma, o seu legado na cidade é visível, também constatadas nas narrativas dos nossos colaboradores e colaboradoras que vivenciaram aqueles anos. Mesmo atualmente, partes consideráveis dessas obras realizadas estão exercendo sua função social na cidade. A exemplo de colégios, praças, pavimentações, etc. Alguns desse logradouros públicos passaram por reformas e melhoramento por outras gestões posteriores, melhorando a comodidade das pessoas.
O prefeito que venceu a primeira eleição contra a ARENA em Ipiaú realizou importantes obras na sede do município, distrito e zona rural, feitos já mencionados anteriormente. Mostrando-se atencioso com as políticas públicas voltadas para o homem do campo. Desse modo, na “Fazendo do Povo” o prefeito ofereceu satisfatórias condições para os colonos trabalharem, disponibilizando tratores, arados e sementes para o cultivo na terra de hortaliças e para o plantio do cacau.
As festas populares também merecem atenção na gestão do prefeito Hildebrando Nunes Rezende. O gestor foi um grande entusiasta das festas populares que aconteceram no município. Neste sentido, Ipiaú tornou-se uma referência para toda região. Vinham pessoas de várias localidades da Bahia, e de outros Estados do país, para conhecer as famosas micaretas da cidade. As vaquejadas do município eram eventos grandioso atraindo pessoas e olhares de todas as cidades do território Médio Rio das Contas – localizado na região sul da Bahia – e de outras regiões do país. Essas festas, nessa magnitude, aconteciam no Parque de exposição José Thiara, pontuando, que ao longo do tempo esse evento não mais atraiu como nas décadas de 60/70 e 80 do século XX.
Os festejos do padroeiro da cidade, São Roque, que tem a sua culminância no dia 16 de agosto, também era um momento mais que especial para os munícipes da época, a festa do padroeiro era composta pelos ritos litúrgicos e programações profanas realizadas no largo da Igreja Matriz de São Roque, na praça Rui Barbosa, centro de Ipiaú – BA. Nesse diapasão, o prefeito Hildebrando decretou o dia 16 de agosto como um dos feriados do município em comemoração a São Roque, padroeiro do município de Ipiaú.
O político Hildebrando Nunes também se notabilizou por ser um gestor que procurava cumprir as promessas feitas em campanha, sejam elas feitas aos seus correligionários, bem como aos eleitores dos seus adversários políticos. O pesquisado foi um dos administradores da história de Ipiaú que mais viabilizou a construção de estradas vicinais no município. Essas impressões são verificadas nos levantamentos de dados tanto em documentos oficiais, jornais da época como nas narrativas de nossos colaboradores.
Um dos pré-requisitos do gestor público é ser um sujeito cumpridor dos seus programas eleitorais feitos no período eleitoral, quando os candidatos saem às ruas pedindo os votos aos munícipes. Eles criaram várias expectativas amiúde não são efetivadas em políticas públicas. Pontuamos que nesse texto há relatos afirmando que o pesquisado cumpria com as promessas feitas nas suas caminhadas de campanha em busca de votos. Na narrativa a seguir, verifica-se tal afirmação, conforme registro do nosso colaborador 03, que denominamos de Gazo:
[…] Na primeira eleição de Hildebrando, tio Alírio e a família quase toda apoiou Hildebrando, quando Hildebrando ganhou; meu tio Alírio deu duas vacas de dezoito arrobas para fazer o churrasco lá, então foi todo mundo para lá comer churrasco e beber a noite toda. O dia todo por conta dele, ele era assim, a família da gente era assim, então quando eu acompanhei Hildebrando eu morava na roça, eu não morava aqui em Ipiaú, mas, eu lembro que meu tio Mario tinha ficado contra ele, e apoiou capitão Milton, aí na fazendo Ribeirão do Felix, não tinha estrada. Hildebrando quando ganhou disse Mario! Prepara a feijoada que domingo o trator tá na tua porta; “fica olhando” homem que é homem não fez aquelas estradas, vai ser tu Hildebrando que vai fazer? Eu não acredito não. Bota feijoada no fogo, que o trator vai parar na tua porta, senão você vai passar vergonha. Na data que ele marcou no domingo, ele meteu a máquina naquela estrada dali de Vardilho até na fazenda de tio Mario. Aí tio Mario, ficou “apaixonado” por Hildebrando, tio Alírio já era “apaixonado”, porque a festa da comemoração da vitória foi na fazenda liberal, hoje de Alex da loja. Daí pra cá, Hildebrando vazou todo esse município de estradas, então 90% das estradas da zona rural foram feitas por Hildebrando.
Na narrativa do colaborador de pseudônimo Gazo ficou evidenciado que Hildebrando Nunes era um político cumpridor de suas promessas, carismático e trabalhador; realizou uma gestão que beneficiou dos pequenos aos grandes proprietários rurais no município, com a abertura de estradas vicinais que facilitaram o escoamento dos produtos agrícolas. Nesse sentido, um gestor de um município, deve ser uma pessoa leal e de confiança para com os seus concidadãos.
Hildebrando Nunes, dentro das suas possibilidades, demonstrou-se um político que cumpria seus compromissos de campanha eleitoral. Os políticos que fazem promessas e não as cumprem perderá sua credibilidade com seus eleitores e com a sociedade de forma geral. Os discursos enganosos são repudiáveis pelos eleitores, desqualificando e depreciando os políticos e agremiações que não realizam os seus projetos sociais firmados ou apalavrados.
Por fim, ressaltamos que esta investigação se torna relevante por reconstituir as memórias deste homem público, político carismático, que criou sociabilidades durante a sua trajetória e consecutivamente deixou seu legado para o município de Ipiaú. Neste sentido, afirmamos a necessidade de abordagens de temas relacionados à história nacional que se desdobraram a partir da perspectiva de espaços interioranos com as peculiaridades do chamado “Brasil profundo”.
Autores do artigo:
Samio Cassio da Silva Ramos- Graduado em História pela Universidade do Estado de Bahia – Unidade Acadêmica de Educação a Distância – Universidade Aberta do Brasil (UNEB/UNEAD/UAB) polo de Ipiaú-BA. Pós-graduando em Gênero, Raça, etnia e sexualidade na formação de educadoras(es). Instituição- Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Unidade Acadêmica de Educação a Distância (UNEAD) Campus XV- Valença-BA.
Albione Souza Silva- Graduado em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC– Itabuna/Ilhéus. Especialista em Educação Cultura e Memória pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB- Vitória da Conquista e Mestre em História pela Universidade do Estado da Bahia, Campus II – Alagoinhas. Professor do Complexo Integrado de Educação Básica, Profissional e Tecnológica de Ipiaú e do Colégio Municipal Profª. Celestina Bittencourt.
Para acessar o artigo completo veja o link: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/68210/48805
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