Incêndios causam suspensão de aulas, geram pânico em festa e aumentam busca por atendimento médico no interior de SP

Marcelo Camargo / Agência Brasil

Os incêndios registrados nos últimos dias provocaram a suspensão de aulas, deixaram desalojados, causaram pânico em uma festa rave com 500 pessoas e elevaram a procura por atendimentos de saúde em municípios do interior de São Paulo.

Embora neste domingo (25) o cenário tenha melhorado em relação a sábado (24), com redução dos focos de incêndios em andamento, os reflexos de três dias seguidos de muito fogo ainda continuarão sendo sentidos no decorrer da semana, segundo prefeituras.

Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a qualidade do ar na região era considerada péssima -a pior das cinco classificações- na tarde deste domingo.

O primeiro deles é a suspensão de aulas nesta segunda-feira (26), anunciada neste domingo por prefeituras da região de Ribeirão Preto após reunião que envolveu dirigentes regionais de saúde.

Além de Ribeirão, cidades como Batatais, Brodowski, Pradópolis e São José da Bela Vista são algumas das que anunciaram o cancelamento de atividades escolares na rede municipal, com sugestão para que o mesmo seja adotado por instituições particulares -é o que tem ocorrido.

Ribeirão Preto até registrou chuva neste domingo, que aliviou a fumaça, mas não o suficiente para frear a alta na procura por atendimentos de saúde nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

Nas quatro unidades de Ribeirão, que sábado registraram alta de 60% nos atendimentos em relação a sábados anteriores (3.000 pessoas), neste domingo manteve as consultas acima da média, mas com uma pressão menor: alta de 10,3%.

“Estamos nos preparando para segunda e terça atender muitas pessoas com problemas respiratórios em função da fuligem de sábado e domingo”, disse Duarte Nogueira (PSDB), prefeito de Ribeirão. Não há focos de incêndios ativos neste domingo na cidade.

A Secretaria da Saúde informou que provisionou medicamentos, equipamentos e recursos humanos necessários para o atendimento de pessoas como a dona de casa Vanilda Alves de Oliveira da Silva, 64, que levou sua mãe, Maria, 90, para atendimento na UPA Leste.

“Há alguns dias, ela já estava resfriada, mas ontem [sábado], piorou muito, com muita dificuldade para respirar, então resolvi trazê-la para uma avaliação”, afirmou.

Ela disse ter recorrido a bacias com água e toalhas molhadas nos quartos da casa onde mora no Recreio Anhanguera, próximo a um dos 14 focos de incêndio registrados no final da tarde de sábado, quando a cidade foi tomada por fortes rajadas de vento que espalharam terra e fuligem.

A cuidadora de idosos Gisele Justino da Silva, 38, também enfrentou dificuldades devido à fumaça. Ela, que está se recuperando de uma pneumonia, precisou buscar atendimento e aguardava por um exame de raio-X na UPA Norte. “Eu não conseguia respirar mesmo estando dentro de casa, por causa de tanta fumaça e queimadas.”

Com o aumento dos atendimentos por problemas respiratórios causados pela fumaça dos incêndios que atingem o interior paulista, o HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão criou, em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde, um plantão 24 horas para avaliar por meio da telemedicina casos de pacientes e encaminhá-los aos níveis assistenciais mais adequados dependendo do risco de gravidade de cada um.

Em Altinópolis, cerca de 500 pessoas precisaram de atendimento médico após a fumaça dos incêndios interromperem uma festa rave que acontecia numa fazenda do município.

Frequentadores relataram momentos de pânico com a aproximação das chamas, do calor provocado por elas e da fumaça. A festa, que deveria terminar só neste domingo, acabou com os participantes atendidos no ginásio municipal.

Em Ribeirão, o fim de semana foi marcado também por correria e medo devido ao grave incêndio no entorno do condomínio de alto padrão Alphaville 3, no distrito de Bonfim Paulista, que fez com que moradores deixassem o local devido à forte presença de fumaça.

“Por volta das 17h, o céu ficou coberto por uma nuvem vermelha e um vento estranho começou a soprar. Foi quando começaram a circular mensagens nos grupos de moradores informando que a mata estava pegando fogo”, contou a fisioterapeuta Mayra Pádua Gatti, 43.

Segundo ela, que deixou o imóvel com os dois filhos, seu marido ficou para molhar o jardim e ligar a irrigação, como forma de proteger a casa, se necessário. “Foi como viver em um filme de terror.”

A Associação Alphaville de Ribeirão Preto informou que as medidas de prevenção e o gerenciamento de crise surtiram o efeito esperado -entre elas brigada voluntária, treinamentos de equipes própria e terceirizada e parcerias.

Duas pessoas foram presas no final de semana suspeitas de atear fogo em vegetação no interior paulista, em São José do Rio Preto e Batatais.

O governo estadual anunciou que manterá um posto avançado em Ribeirão Preto durante a semana e que o número de cidades com focos ativos de incêndio caiu para seis. Dos 645 municípios paulistas, 48 estão em alerta máximo para queimadas, de acordo com o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) da Defesa Civil.

O posto avançado tem como objetivo atender moradores como um grupo na zona rural de Pradópolis que teve suas casas atingidas pelo fogo. A Defesa Civil e o Fundo Social do estado devem enviar ajuda humanitária, com colchões, cestas básicas e água.


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