“Fake News estão tirando as pessoas de perto das vacinas”, lamenta epidemiologista

A queda da cobertura vacinal no Brasil tem preocupado os especialistas para além do enfrentamento ao novo coronavírus.

A epidemiologista e pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Glória Teixeira, afirmou ao Bahia Notícias que três fatores têm diminuído a ida das pessoas aos postos de vacinação: questões ideológicas; o próprio êxito das vacinas; e as informações falsas.

“As fake news estão tirando a população de perto da vacina. Porque até dizer, no caso da Covid, que iam virar jacaré, disseram. É uma coisa absurda”, criticou.

Em 2020, a Bahia teve sua pior cobertura vacinal nos últimas 10 anos. O estado atingiu apenas 65% de média de imunização, muito abaixo dos 90% estabelecidos na meta nacional. Segundo Glória, os indicadores vêm caindo desde 2016, não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Para ela, o fenômeno conhecido como “hesitação à vacinação” não ocorre por acaso.

“Tem muito a ver com a questão do êxito da vacina. Nós não convivemos mais com a paralisia infantil, com tétano neonatal. Então é como se as populações mais jovens não vissem mais essas doenças e acham que não devem mais vacinar porque já estão livres. Essa é uma das causas”, explicou.

“Mas tem também aquele outro grupo que é contra a vacinação porque são veganos, naturistas e acham que as vacinas podem causar danos. Está crescendo esse movimento em muitos países”, continuou a epidemiologista.

“E tem agora as famosas fake news, que têm prestado um desserviço à saúde, porque colocam coisas absurdas e fazem com que as pessoas desavisadas acreditem. Isso é um fenômeno que sempre houve, mas não com essa penetração, que em segundos você dissemina uma notícia falsa para muita gente”, analisou Glória.

A professora de epidemiologia da UFBA avalia que a Covid-19 contribuiu para os números ruins de imunização em 2020, mas também que a hesitação à vacinação é um fenômeno mais profundo. “O SUS precisa ampliar para os finais de semana as salas de vacinação, porque muitas vezes as mães e os responsáveis trabalham durante a semana”, sugeriu.

Glória coordena um inquérito que visa descobrir os motivos dos brasileiros estarem deixando de levar seus filhos para vacinar. Na pesquisa, o ISC é responsável por entrevistar pais e mães de crianças nascidas em 2017 e 2018 em Salvador, São Paulo, Manaus, Goiânia e Porto Alegre. As outras 22 capitais do país são cobertas pela Santa Casa de Misericórdia. O trabalho, porém, sofreu uma interrupção em 2020, causada pela pandemia do novo coronavírus.

“Era para termos terminado no ano passado, mas fazer o trabalho de campo durante a pandemia não foi possível. Estamos tentando recomeçar neste ano, mas está difícil. O curso do trabalho vai depender muito da pandemia, porque não podemos deixar nossos entrevistadores sob risco e também porque as famílias estão com medo de recebê-los. É um trabalho de porta em porta. São em torno de 1.800 entrevistados em cada uma das grandes capitais e, nas menores, em torno de 1.200”, justificou.

BN


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