Dois policiais morrem após ataque a tiros em Salvador

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Dois policiais militares e dois homens morreram, na noite de quarta-feira (28), no bairro do Iapi, em Salvador. Segundo a Polícia Militar, durante uma perseguição a suspeitos de cometerem assaltos, um policial que estava fora de serviço confundiu um agente descaracterizado e os dois trocaram tiros.

Os dois militares mortos eram soldados e foram identificados como Marcelo Santana e Anderson de Sousa Santana. Marcelo era policial do setor de inteligência do Batalhão Gêmeos, que combate roubos a transporte público, enquanto Anderson era lotado no Fórum do bairro do Sieiro.

Na mesma ação onde morreram os policiais, que ocorreu dentro de um bar, um suspeito foi morto. O comparsa dele também morreu momentos antes, em confronto com policiais, quando tentava fugir na mesma região. [Veja o passo-a-passo do caso no final da reportagem]

Segundo a Polícia Militar, a perseguição começou por volta das 19h30, quando agentes do setor de inteligência do Batalhão Gêmeos faziam monitoramento de roubos a coletivos na região da Avenida San Martin, e desconfiaram do motorista de um carro.

Os policiais acompanharam o veículo a distância em um carro despadronizado e pediram apoio de uma equipe padronizada do próprio batalhão para realizar a abordagem.

Após perseguição, o veículo onde estavam os suspeitos bateu no fundo de um ônibus do transporte público de Salvador, na Ladeira do Iapi. Logo após o acidente, dois suspeitos fugiram em direções diferentes e um homem, que se identificou como motorista de aplicativo, permaneceu no veículo. Ele informou que havia sido vítima de assalto.

Os militares seguiram as buscas pelos foragidos e, já no bairro da Santa Mônica, pediram apoio de policiais da Rondas Especiais (Rondesp BTS). Com a aproximação dos PMs, houve troca de tiros com um dos suspeitos, que foi socorrido para o Hospital Ernesto Simões Filho, mas não resistiu.

Segundo confronto
A PM informou que após essa primeira troca de tiros, policiais militares, ainda em uma viatura despadronizada, foram informados da localização do segundo suspeito. O soldado Marcelo Santana, do setor de inteligência do Batalhão Gêmeos, seguiu a busca em um moto-táxi.

Logo à frente, Marcelo encontrou o suspeito em um bar localizado na rua Astrozildo Sepúlveda, onde também estava um outro policial militar, identificado como Anderson de Sousa Santana. Anderson não estava em serviço. Ele era lotado no Batalhão de Guardas, e trabalhava no Fórum do bairro do Sieiro.

Ao avistar o soldado Marcelo, que rendia o suspeito com arma em punho, Anderson, acreditando se tratar de um assalto, sacou a arma e iniciou uma troca de tiros com o colega. Os três foram atingidos.

O militar que estava em serviço foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou por procedimento cirúrgico, mas não resistiu. Já o policial militar que estava no local, mas não estava em serviço, foi socorrido para o Ernesto Simões, onde também morreu.

A PM informou ainda que o segundo suspeito de cometer o assalto morreu no bar. Ele usava foi tornozeleira eletrônica.

Entenda o passa-a-passo da ação policial:

Policiais do setor de inteligência iniciam perseguição a um veículo com suspeitos na Avenida San Martin;
Após perseguição, o veículo com os suspeito bateu no fundo de um ônibus no Iapi;
Após o acidente, dois suspeitos fugiram a pé em direções diferentes
Um motorista de aplicativo que também estava no veículo confirmou que foi vítima de um assalto;
Militares seguiram as buscas pelos suspeitos;
Agentes da Rondas Especiais foram ao local e trocaram de tiros com um dos suspeitos;
O homem foi atingido, socorrido e levado para o Hospital Ernesto Simões Filho. Ele morreu na unidade saúde;
Nas buscas pelo segundo suspeito, policiais militares foram informados da localização do homem
Um PM à paisana seguiu a busca em um moto-táxi;
O agente encontrou o suspeito em um bar na rua Astrozildo Sepúlveda;
Um policial militar que não estava em serviço bebia no estabelecimento comercial;
O militar que participava da ação rendeu o suspeito no bar;
O policial que não estava em serviço, acreditou que se tratava de um assalto;
Ele sacou a arma e iniciou uma troca de tiros com o colega;
Os três (os dois policiais e o suspeito) foram atingidos;
O militar que estava em serviço foi socorrido para o Hospital Geral do Estado, onde passou por cirurgia, mas morreu;
Já o policial militar que estava no local, mas não estava em serviço, foi socorrido para o Ernesto Simões, onde também morreu;
O segundo suspeito de cometer o assalto morreu no bar.

O que dizem as forças de segurança
Policiais militares Marcelo Santana e Anderson de Sousa Santana morreram após ação policial — Foto: Acervo pessoal
Policiais militares Marcelo Santana e Anderson de Sousa Santana morreram após ação policial — Foto: Acervo pessoal

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) se solidarizou com as famílias dos dois policiais militares e informou que a polícia civil iniciou a coleta de depoimentos de testemunhas. Ressaltou ainda que as perícias solicitadas ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) auxiliarão na apuração da dinâmica do caso.

A Polícia Militar lamentou a morte dos agentes e disse que um inquérito será instaurado para investigar o caso.

A Polícia Civil informou que o caso será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e que imagens de câmeras de segurança da região estão sendo recolhidas para ajudar na investigação das circunstâncias do fato.

Onda de violência na Bahia
A Bahia registrou ao menos 59 mortes durante confrontos com a polícia neste mês setembro – 56 delas de suspeitos de envolvimentos com crimes, uma de um policial federal, o agente Lucas Caribé, e dois policiais militares.

A maioria das mortes ocorreram durante operações policiais nos bairros periféricos da capital baiana Veja, abaixo, a cronologia:

6 de setembro: sete homens mortos em uma operação policial em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia.
6 de setembro: o último foragido suspeito de matar 10 pessoas em uma chacina em Mata de São João, Região Metropolitana de Salvador (RMS), foi morto em troca de tiros em Dias D’Ávila, também na RMS.
3 a 7 de setembro: 11 suspeitos de integrar facções criminosas foram mortos em troca de tiros com a polícia Militar nos bairros de Alto das Pombas e Calabar, que são vizinhos. Durante os dias de operações, mais de 15 moradores dos bairros foram feitos reféns por suspeitos.
10 de setembro: 2 pessoas foram mortas no Engenho Velho da Federação, bairro que fica próximo ao Alto das Pombas e Calabar.
15 de setembro: 4 suspeitos e um policial federal foram mortos no bairro de Valéria, durante uma operação da Polícia Civil em conjunto com a Polícia Federal.
16 a 21 de setembro: 10 suspeitos de envolvimento na ação que resultou na morte do policial federal foram mortos em Salvador e cidades da região metropolitana.
22 de setembro: 5 suspeitos de integrarem facções criminosas foram mortos em Águas Claras, bairro de Salvador, e 1 foi morto em Feira de Santana, cidade a 100 km da capital baiana.
23 de setembro: 5 suspeitos mortos após dois confrontos com policiais militares na cidade de Crisópolis, a cerca de 212 km de Salvador.
26 de setembro: 5 suspeitos mortos e dois feridos após troca de tiros com policiais militares em Acajutiba, a 185 km da capital baiana.
27 de setembro: dois homens morreram após confrontos com policiais civis na cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.
27 de setembro: dois homens morreram em confronto com policiais na cidade de Cruz das Almas, no recôncavo da Bahia.
27 de setembro: dois policiais militares e dois homens morreram após dois confrontos no bairro do IAPI, em Salvador.

Fuzis apreendidos e atuação de facções

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, afirmou que a guerra entre facções é a principal causa da violência no estado.

O advogado Luiz Henrique Requião, especialista em ciências criminais e presidente do Tribunal do Júri baiano da Associação Nacional da Advocacia Criminal (ANACRIM/BA), afirma que as facções criminosas em Salvador e em cidades do interior da Bahia sempre existiram, mas passaram a ganhar força e se enfrentar após se juntarem com grandes grupos criminosos de fora do estado.

Apesar da escalada da violência no estado, o número de fuzis apreendidos até setembro deste ano mais que dobrou em relação a 2022. Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), até segunda-feira (25), 48 armas deste tipo foram apreendidas. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram apreendidos 22 fuzis.

Apesar do número alto de mortes em setembro, a realidade da insegurança não é novidade na Bahia. Em 2022, o estado liderou o ranking de mortes violentas no país, com quase 7 mil assassinatos, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número representa 50 casos a cada 100 mil habitantes.

Ainda segundo o Fórum, 1.464 dessas mortes aconteceram em confrontos policiais – uma média de 122 por mês. O estado da Bahia também foi o que mais matou pessoas em intervenções policiais no ano passado, seja de agentes em serviço ou fora dele. Esse número saltou de 1.335 em 2021, para 1.464 mortes em 2022. O órgão não dispõe de dados referentes ao ano de 2023.

Embora não tenha detalhado números, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou, em nota que, de janeiro a agosto deste ano, as intervenções policiais com resultado morte apresentaram redução de 4,3%, em comparação com o mesmo período do ano passado.

G1


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