Coronavírus provoca crise e preço da gasolina cai em Salvador

Os reflexos do isolamento social na rotina das pessoas é bem diverso. Menos carros nas ruas e a queda de braço no mercado internacional de petróleo provocaram uma queda substancial no preço da gasolina. Ontem a Petrobras anunciou a segunda redução em menos de um mês no valor praticado pelas refinarias. Para o consumidor também já houve redução e é possível encontrar gasolina a R$ 3,84 em Salvador.

O anúncio acontece menos de uma semana depois da última redução, no dia 14. Segundo a Petrobras, o preço da gasolina que será praticado nas refinarias vai passar a R$ 0,91 o litro. A redução também vale para o diesel que passa a custar R$ 1,46 o litro.

O preço reduzido, no entanto, diz respeito à venda entre refinaria e distribuidora e não é, necessariamente, o causador da redução do valor final cobrado aos motoristas nos postos. Em Salvador, o valor médio praticado no final do mês de março, quando foram iniciadas as medidas de isolamento, era de R$ 4,59, segundo o Sindicato do Comércio de Combustíveis (Sindicombustíveis-Ba).

“A redução do preço para o consumidor em nada tem a ver com a baixa anunciada pela Petrobras, inclusive porque vem acontecendo desde antes das últimas mudanças. Vem acontecendo por iniciativa dos empresários que precisam manter seus negócios, honrar compromissos e pagar salários e viram o movimento cair bastante”, explica Walter Tannus, presidente do Sindicombustíveis.

Queda nas vendas
Segundo a organização sindical, em Salvador, a queda de movimento nos postos é de aproximadamente 65% em relação ao que se tinha antes das medidas de isolamento. Em algumas regiões da cidade, postos têm experimentado queda de até 80% nas vendas. “Os postos nas áreas mais nobres da cidade é onde o consumo mais caiu. Acredito que por ser uma área onde as pessoas têm uma estrutura maior em casa, podem trabalhar de casa ou até se afastar do trabalho”, opina Walter Tannus.

As mudanças nos preços acompanham, também, mudanças nos hábitos de consumo de quem abastece. Motorista por aplicativo há dois anos, Jorge Veloso, 34, conta que em outros tempos aproveitaria a queda no preço de outra maneira. “Se o fluxo de passageiros estivesse normal com certeza aproveitaria um preço mais baixo para encher o tanque porque no preço final centavos fazem diferença. Mas, com o isolamento, eu tenho abastecido de acordo com a necessidade e com a quantia que eu tenho disponível no momento”, diz.

O taxista Márcio Loreno, 38, concorda. “Não tá tendo trabalho, tem dias que voce faz uma corrida só, passa dois três dias sem passageiro. Eu nunca fui de ficar abastecendo pouco, mas hoje fui ao posto colocar só R$ 20”, explica ele que é taxista há 10 anos e usa no carro o Gás Natural Veicular (GNV).

O Sindicombustíveis não tem registros oficiais de reduções nos valores para o GNV, cuja regulação é feita pela Bahiagás. Os motoristas que usam o combustível, no entanto, já percebem uma baixa no preço.

Quem abastece para uso não profissional também experimentou mudanças nos hábitos de consumo. A aposentada Graça Teixeira, 64, conta que, antes do isolamento, costumava completar o tanque de duas a três vezes ao mês. Nessa quarentena, a última visita ao posto foi no dia 10 de março. “Como estou cumprindo bastante as medidas de isolamento, e saindo quase nunca, a necessidade diminuiu”, explica.

Já o estudante Lucas Gomes, 27, aproveitou uma ida ao supermercado para abastecer com o menor preço. ‘Geralmente nem encheria o tanque, mas aproveitei que já tinha saído e que tava mais barato pra completar. Na intenção de deixar o carro pronto para qualquer necessidade”.

Estoque

Apesar do preço mais baixo, o estoque de gasolina está limitado apenas para encher o tanque do carro. Comprar o combustível para estocar em outros recipientes externos, além dos riscos de acidentes ainda é considerado crime. A previsão está tanto na lei de crimes ambientais, quanto na que criou o Sistema Nacional de Estoque de Combustíveis.

Segundo a lei 9605/98, se constitui crime ambiental estocar substância que seja perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, como é o caso do combustível principalmente pela sua característica inflamatória. Segundo a lei, a pena para quem descumprir a determinação é de reclusão que pode ir de um a quatro anos, além de multa.

Já na lei 8176/91, ao instituir o Sistema de Estoques de Combustíveis, transforma em crime quem produz, distribui, comercializa ou estoca produtos derivados de petróleo sem autorização da União. A pena, de detenção, pode variar de um a cinco anos, além de multa.

Mas além da possibilidade de problemas legais, o estoque doméstico traz riscos de explosões porque os combustíveis são corrosivos e podem escapar de recipientes inapropriados.

O que causa explosões não é apenas o líquido em si, mas o vapor que sai dos recipientes, quando não tampados corretamente.

Correio


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