Com o preço da gasolina nas alturas, a venda de etanol subiu mais de 20% em fevereiro. Só que essa vantagem de preço do etanol não deve durar muito, já que o álcool também sofre pressão com o aumento do diesel.
Do combustível mais puro ao popular, a inflação não poupa ninguém. Fica cada vez mais difícil acompanhar o giro da bomba de combustível. O motorista está perto de desistir.
Guerra na Ucrânia pressiona o preço do petróleo no mercado internacional
“É uma situação muito complicada porque tem gente que depende também do aplicativo. E o emprego não está tão fácil também. Ainda mais nesse cenário crítico em que a gente está vivendo”, conta Tiago Cordeiro de Paiva, motorista de aplicativo.
Para ganhar fôlego, ele escolheu o etanol. É que no último mês, o biocombustivel ganhou vantagem competitiva. Na média do país, passou a custar 67,9% do valor da gasolina. Uma queda superior a 1 ponto percentual de janeiro a março e de quase 10 pontos percentuais em seis meses, nas contas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar.
Afogado pelas altas recentes, o consumidor respondeu depressa. A venda do etanol hidratado nas usinas do Centro-Sul bateu 1,11 bilhão de litros em fevereiro, 26,2% a mais que em janeiro.
“O bonito desse mercado é o consumidor, ele que domina esse mercado. Sempre ele vai buscar o combustível mais barato. Em alguns momentos, o combustível mais barato para ele é o etanol, e em outros momentos, o combustível mais barato é a gasolina”, explica o diretor técnico da União de Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues.
Essa discussão extrapola o mercado de gasolina e etanol. Porque, segundo economistas, o custo do transporte tem impacto em todos os setores da economia. Os combustíveis já estavam caros no Brasil quando a guerra na Ucrânia elevou o preço do petróleo no mercado internacional. E a queda recente de movimento nos postos é um indicador claro de queda na atividade econômica.
“Porque a gente usa muito produto para transporte e para entrega de mercadorias. Então caiu aqui, cai tudo”, afirma José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro.
E a vantagem do preço do etanol pode durar pouco porque não escapa da pressão sobre o diesel, que move o transporte da cana de açúcar.
“É só pensar que parte importante da mercadoria que roda no Brasil é transportada por caminhões que usam óleo diesel. Então, dessa maneira, você consegue pensar que o custo do transporte das mercadorias do Sul para o Norte, por exemplo, vai ser afetado pelo aumento do custo do combustível. Ver o preço do petróleo aumentar, você vai ver, inevitavelmente, uma série de setores sendo afetados por isso, e aí o consumidor, no final das contas, é quem vai pagar a conta”, explica o economista e professor da FGV Mauro Rochlin.
“O que dá pra fazer por perto, eu vou a pé e evito usar o carro. Completar o tanque do carro acho que já faz anos que eu não chego e falo ‘Completa!’. Está um absurdo, não dá”, diz o advogado Paulo Eduardo Martin Pavanelli.
G1
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