Clima quente acende alerta para epidemia de Dengue, Zika e Chikungunya

Tânia Rego/ Agência Brasil

“Desde 2015, não tínhamos um número tão grande de casos de dengue como já alcançamos esse ano. Se continuarmos nesse pico de calor, corremos o risco de termos surtos ou epidemias de doenças transmitidas por mosquitos,” o alerta é do Doutor Celso Granato, médico infectologista do Grupo Fleury, detentor da Diagnoson a+ na Bahia.

Conforme o especialista, o problema é justificado pelo aquecimento global que tem contribuído para uma mudança no perfil de doenças como, dengue, zika e Chikungunya. Ele explica que, “a situação é reflexo da fragilidade dos vetores que sofrem com os efeitos das mudanças da temperatura. E, apesar de não resistirem por muito tempo, as altas temperaturas, os mosquitos se multiplicam rapidamente com o calor, e acabam fazendo mais vítimas”.

Em agosto desse ano, durante seminário EPI-WIN Gerenciando a dengue: “uma epidemia em rápida expansão”, especialistas destacaram que metade da população mundial já estava em risco de dengue, com uma estimativa de 100 a 400 milhões de infecções ocorrendo a cada ano.

Nas Américas, a dengue é transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti. Os surtos seguem padrões sazonais correspondentes aos meses quentes e chuvosos, quando os mosquitos se reproduzem.

No entanto, a Organização Pan- Americana de Saúde (OPA), ligada a Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que em 2023 as Américas já registraram um aumento acentuado nos casos de dengue. Mais de 3 milhões de novas infecções foram registradas até então, superando os números de 2019 – de maior incidência registrada da doença na região, com 3,1 milhões de casos, incluindo 28.203 casos graves e 1.823 mortes.

Ainda conforme os dados, a maioria dos casos – mais de 2,6 milhões – foi registrada no cone sul, sendo o Brasil responsável por 80%.

O infectologista chama atenção para um cenário preocupante. “Os climatologistas já alertaram para a possibilidade do fenômeno La Niña, em 2024, o que significa dizer que teremos chuvas em longa escala. Com isso, a expectativa é de aumentar, ainda mais, as doenças transmitidas por mosquitos”, ressalta.

Foto: Tomaz Silva/ Agencia Brasil

Apesar do alerta, para um futuro próximo, o número de casos de dengue em Minas Gerais, e no Paraná, já preocupa os especialistas. De acordo com Dr. Celso, outra situação delicada, diz respeito aos casos de Chikungunya, já são mais de 150 mil casos contabilizados no Brasil. Crianças, Idosos e pessoas com comorbidades são os mais susceptíveis a contaminação.

Casos de Arboviroses em Salvador e na Bahia

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De acordo com o último boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), referente a semana 46, que compreende ao período de 2 de janeiro a 18 de novembro de 2023, o número de casos suspeitos notificados de dengue, na capital baiana, é de 11.262, seguido de Zika vírus com 850 e Chikungunya com 708.

Enquanto a Secretária de Saúde do Estado (Sesab), reforça que no período de 1º de janeiro a 11 de novembro de 2023, foram notificados 46.390 casos prováveis de Dengue no estado. No mesmo período de 2022, foram notificados 34.269 casos prováveis, o que representa um aumento de 35,4%.

As notificações para prováveis casos de Chikungunya somaram 15.019 casos e 1.675 casos prováveis de Zika, no estado, para o mesmo período. Ainda conforme a pasta estadual, do total de 390 municípios que realizaram notificação para agravo de dengue, 180 apresentaram incidência.

Ações na Capital

A SMS pontua que, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) promove ações preventivas e de inspeções nos doze Distritos Sanitários de Salvador durante todo o ano, além de mutirões, atividades educativas, e operações especiais, envolvendo mais de mil agentes de endemias.

Contudo, a Secretaria Municipal da Saúde esclarece que a Dengue, Chikungunya e Zika são arboviroses consideradas de relevância epidemiológica e demandam ações intersetoriais e interinstitucionais, para além do âmbito da atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS).

Em outubro, o CCZ iniciou o Plano Verão Sem Mosquito que segue até março de 2024. A estratégia tem o objetivo de promover mudanças no comportamento da população acerca do trabalho preventivo no controle do mosquito Aedes aegypti.

Agencia Brasil

Vacina: O que é, como funciona e quem pode tomar?

Desenvolvida para prevenir a infecção e os sintomas causados pelos quatro sorotipos do vírus, atualmente existem dois tipos de vacina contra dengue, aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a Dengvaxia (Sanofi Pasteur) e a Qdenga (Takeda), sendo esta última autorizada no primeiro semestre de 2023.

Produzidas com vírus vivos atenuados, as duas vacinas estimulam uma resposta imunológica robusta e não têm capacidade de provocar a doença, já que os vírus presentes na vacina estão enfraquecidos. Essas vacinas permitem que o organismo reconheça o agente causador da dengue e desenvolva estratégias eficazes para combatê-lo.

A eficácia na população acima de nove anos é de, aproximadamente, 66% contra os quatro sorotipos do virús. Além disso, reduz os casos graves – aqueles que levam ao óbito, como a dengue hemorrágica – em 93% e os índices de hospitalizações em 80%. A vacina pode ser encontrada na rede privada, uma vez que ainda não esta incorporada ao Sistema Unico de Saúde (SUS).

Negociação

O Sistema Único de Saúde (SUS) deve começar a fornecer a vacina contra a dengue, Qdenga, da farmacêutica Takeda, a partir de janeiro de 2024.

A incorporação do imunizante ao SUS está em discussão na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) desde de julho, quando a farmacêutica submeteu a proposta de compra.

O governo tenta negociar com a farmacêutica o preço sugerido para cada dose da vacina: R$ 170. A pasta quer pagar cerca de R$ 120 reais por dose. Além disso, a Conitec levantou dúvidas sobre a capacidade da Takeda em oferecer a quantidade de vacinas necessárias ao público prioritário.

Pesquisadores alertam sobre retorno da Dengue Tipo 3
Na edição desta terça-feira, 28, da versão impressa de A Tarde, a repórter Priscila Dórea destaca o retorno da Dengue Tipo 3 (DENV-3). Há quase 20 anos sem registro da doença no Brasil, os casos encontrados no interior de São Paulo, deixaram pesquisadores e infectologistas em alerta. De acordo com os especialistas, a infecção da DENV-3 pode ser potencialmente mais perigosa, principalmente para as pessoas que já tiveram a doença anteriormente.

E esse alerta vale, especialmente, para a Bahia que por registrar altas temperaturas é considerada uma área endêmica da dengue e poderá registrar, em breve, casos da DENV-3. Além do calor, comum para o período do ano, o aquecimento global tem colaborado, ainda mais, para a proliferação dos mosquitos e, consequentemente, da doença dos Tipo 1 e 2, como explica o membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor UniFTC, Antônio Carlos Bandeira. “Hoje, a dengue continua avançando pelo Brasil por causa do aquecimento global. Há alguns anos não víamos casos expressivos, por exemplo, no sul do país, mas esse cenário mudou”.

Se olharmos para antes de 2022, aponta a professora de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva (ICS) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisadora associada Cidacs/Fiocruz, Maria da Glória Teixeira, podemos observar que os casos costumam começar no final de dezembro, têm pico entre março e maio, e em julho começam a cair.

“Com as consequências do aquecimento global se tornando mais evidentes, essa curva começou a se estender até setembro. Em 2023, houve transmissão ativa durante todo o ano”, explica. Para se ter uma ideia, até o último dia 4, a Bahia registrou 46.234 novos casos de dengue, 35,7%, a mais do que o mesmo período de 2022 (34.063 registros), de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

E com a volta de casos de DENV-3 no país, o perigo paira principalmente nos mais jovens, que nunca tiveram contato com esse tipo de dengue. “A DENV-3 é mais preocupante não por ser mais grave que as outras em seus sintomas, mas por só termos anticorpos dos tipos 1 e 2. A chegada dessa infecção nova produz um fenômeno que chamamos de ADE, que é o aumento da nossa resposta imunológica, que ao invés de diminuir a quantidade de vírus, o favorece, agravando a infecção”, explica.

A Tarde


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