Chuva faz quatro cidades baianas decretarem situação de emergência

Ruy Barbosa teve um prejuízo de 7 milhões por causa das chuvas, segundo decreto / foto: divulgação prefeitura de Ruy Barbosa

As águas do primeiro final de semana de novembro não deram trégua. Quatro municípios da Bahia decretaram situação de emergência devido às chuvas, segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec).

Foram eles: Ruy Barbosa, no Centro Norte, Maragojipe, no Recôncavo, e Jaguaquara e Itaquara, no Centro Sul. Essa última decretou também estado de calamidade pública. As chuvas deixaram uma mulher de 62 anos desaparecida, em Ruy Barbosa, onde a prefeitura estima prejuízo de R$ 7 milhões, mais de 55 famílias desabrigadas, suspensão das aulas e do atendimento em Postos de Saúde da Família (PSFs) e, consequentemente, da vacinação contra a covid-19.

Em Maragojipe, o último sábado (6) foi o dia mais chuvoso dos últimos seis anos. Caíram 150 mm de chuva em apenas duas horas, de acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, Carlos Francisco Costa. Desde às 19h daquele dia, não há água na cidade, porque as tubulações da rede que abastece os moradores romperam. A previsão da Embasa é que a água volte na tarde desta segunda-feira.

A prefeitura ainda relata que a rede de esgoto foi danificada. São 30 famílias desabrigadas, 15 escolas inundadas, duas pontes destruídas e estradas vicinais prejudicadas. “A gente deu azar porque a cidade é a nível do mar, e a maré estava alta. Foi o principal fator para alagar a cidade inteira, porque o rio, que deságua no mar, não teve para onde escorrer”, conta o coordenador da Defesa Civil da cidade.

Prejuízo
A gestão municipal alugou uma pousada para hospedar seis das 30 famílias que perderam suas casas. A maioria se alojou com parentes e vizinhos. “Não costuma chover assim essa época. Normalmente, a gente tem chuva em dezembro. Afetou todo o município, a sede e os três distritos. Perdemos equipamentos e documentos nos postos de saúde, as lavouras da zona rural perderam plantações…. foi muito prejuízo”, completa Carlos Francisco Costa.

A marisqueira Andrea Barbosa, 46, perdeu tudo: a casa, os móveis e as roupas. “Foi muita água. A parede da casa rachou e não tinha como ficar dentro de casa, nem levar nada, porque, na hora, a gente só pensa em se salvar. Foi o povo todo pedindo socorro, gritando, desesperado, sem saber o que fazer”, conta Andrea, que mora com a filha, neta e genro. “Só Deus para dar livramento e graças a prefeitura que acolheu a mim e minha família”, agradece. Até a próxima quinta-feira (11), ela deve continuar no hotel, até que a prefeitura viabilize verba – estadual ou federal – para fazer os reparos na casa dos moradores.

O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) disse que ainda não há registros de municípios baianos com situação de emergência reconhecida pelo governo federal em razão das chuvas, de acordo com o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), da Defesa Civil Nacional. “O apoio da Defesa Civil Nacional é autorizado após o reconhecimento federal e mediante solicitação de recursos pelo ente, que inclui apresentação de Plano de Trabalho (com diversos documentos), e análise e aprovação da equipe técnica da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil”, informou a pasta, em nota.

Desaparecidos
O agricultor Otaviano Piedade Barros, 64, habitante da cidade de Ruy Barbosa, está com a esposa, Nilzete Leal, desaparecida desde a noite de domingo (7). Ele não conseguiu comer ou dormir e ajuda o corpo de bombeiros nas buscas. “Na volta da igreja, ela foi atravessar a ponte, a água estava forte e, quando ela foi passar, a água levou. Nunca tinha visto uma chuva dessa”, relata Otaviano, conhecido como Tatau.

Foi quando Nilzete demorou para voltar para casa, que ele notou algo de errado. “Quando deu o horário, com aquela chuva forte, saí de casa para ir na igreja, que fica a 300 metros de distância. Quando cheguei na ponte, um vizinho disse que a água tinha carregado uma mulher, só que eu não sabia que era a minha. Me preocupei e, quando cheguei na igreja, que vi a porta fechada, tive a certeza que era ela que tinha desaparecido”, diz Tatau, comovido. Eles estão juntos há 40 anos. “Estou arrasado”, confessa.

A aposentada Nilzete Leal desapareceu ao voltar da igreja na noite de domingo (Foto: Acervo Pessoal).

“São duas equipes de bombeiros que fazem a busca desde 1h30 da manhã, pararam às 4h, e começaram de novo às 7h, até o final da tarde. Já são mais de 16 horas de busca sem conseguir localizar. Algumas testemunhas viram que ela desceu na enxurrada”, afirma o secretário de agricultura e meio ambiente de Ruy Barbosa, Artur Francelino. No último domingo, choveu 180 mm em apenas três horas, entre 19h30 e 22h30.

Povoados ficaram ilhados, calçadas foram por água abaixo, muros caíram, como os da sede do Ministério Público e dos Correios, uma das barragens quebrou, o açude alagou, as aulas estão suspensas e a policlínica teve que fechar. São mais de 25 famílias desabrigadas – 10 já realocadas – e o lixo teve que ser transferido para a cidade vizinha, de Macajuba. “O lugar ficou sem condições do carro entrar, ficou tudo esburacado e alagado. A cidade está tentando se recuperar”, completa o secretário.

Em Feira de Santana, um homem foi levado pela enxurrada na Ponte do Rio Branco, no bairro Campo do Gado Novo, em Feira de Santana, nesta segunda-feira (8). Em imagens registradas no momento em que ele é levado, é possível ver dois outros homens que tentaram salvar a vítima com uma corda amarrada ao poste, mas viram o homem se soltar e ser levado pela força da enxurrada no local.

De acordo com a subtenente Jocelma da Conceição, o grupamento especializado em mergulho do 2º BPM passou mais de quatro horas buscando pelo homem. “Nós recebemos o chamado às 13h, quando começou a procura que só foi interrompida às 17h30 porque já estava escurecendo e não realizamos buscas no período noturno”, explicou.

Jocelma conta ainda que dois fatores dificultaram as buscas durante a tarde. “Além das fortes correntezas, que não indicam esse tipo de busca por mergulho, também estavam descendo muitas árvores e troncos, que representam risco para os agentes. Outro problema foi que, ao longo da tarde, o nível do rio estava sempre aumentando, tanto que as barracas próximas ao local, que no começo não estavam cobertas, no fim das buscas ficaram todas submersas”, relata. As buscas serão retomadas

Oeste foi maior foco de chuvas, diz Inmet
A região Oeste, seguido do Sudoeste da Bahia, foi a com maior foco de chuva nas últimas 72 horas, segundo a meteorologista Cláudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “Tivemos chuva em grande parte das regiões, no Nordeste, na Chapada Diamantina e na Região Metropolitana. No Oeste, ocorreu o maior volume de chuvas, porque lá é período chuvoso e está há muitos meses sem chuvas significativas. Vai ficar chovendo lá e no Sudoeste até o verão”, explica Valéria.

O motivo é a continuação da atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). “Essa zona continua atuando por um longo período, levando umidade para o Oeste e Sudoeste da Bahia. Até próxima quarta-feira vai ficar restrito a essas regiões, saindo um pouco de Salvador, Região Metropolitana e o Norte do Estado” completa a meteorologista. As três cidades que mais registraram chuvas, nos últimos três dias, pelas estações do Inmet na Bahia foram Formosa do Rio Preto (108,8 mm), Irecê (92,6 mm) e Valença (91,6 mm)

Salvador registra 83 solicitações
A Defesa Civil de Salvador (Codesal) recebeu 83 solicitações de ocorrência de sábado para esta segunda-feira, até às 17, entre desabamento de imóvel, deslizamento de terra, árvores ameaçando cair, imóvel alagado, infiltração, orientação técnica. Nas últimas 24h, os maiores acumulados de chuvas foram registrados nos bairros de São Cristovão (58,6mm), Itapuã (29,6mm), Mussurunga (22mm), Nova Esperança (20,7mm) e Pituaçu (14,4mm).

Em Camaçari, a unidade da Rede SAC terá seu funcionamento suspenso nesta terça-feira (9). Por conta das fortes chuvas que ocorreram no município no dia de hoje (8), houve um rompimento na rede elétrica da subestação que atende ao posto, que fica localizado no Boulevard Shopping Camaçari.

A unidade estará fechada ao público por motivos de segurança, e os atendimentos previamente agendados serão desmarcados. A previsão é que o funcionamento seja retomado na quarta-feira (10).

Correio


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