Bahia testa fungicida contra vassoura de bruxa

O estado da Bahia é o maior produtor nacional de cacau – Foto: Divulgação | Faeb-Senar

A cacauicultura baiana sempre foi destaque no cenário nacional, desde sua representação no segundo romance de Jorge Amado, de título “Cacau”, até a forte contribuição para o desenvolvimento econômico do estado. Em prol dessa cultura, a Bahia vai testar fungicidas contra a maior inimiga das lavouras desse fruto, a vassoura de bruxa. Caso os testes sejam bem-sucedidos, o estado pode se tornar pioneiro no mundo ao identificar uma substância contra a doença.

No total, cinco produtos para o controle da enfermidade provocada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, que começou a devastar as plantações de cacau brasileiras no final da década de 80, serão testados. Um deles é uma mistura de moléculas que apresentou ótimos resultados em estudos realizados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), feito pelo pesquisador e coordenador do Programa de Genoma da vassoura de bruxa, Gonçalo Pereira.

Já os demais são resultados de uma pesquisa desenvolvida pela Comissão Executiva Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) com apoio do Sistema Faeb/Senar e da empresa especializada em produtos químicos Syngenta. A pesquisa feita pela Unicamp foi o pontapé inicial para as informações que foram base para todos os testes.

Bloquear a doença

Foi no ano 2000 que o grupo dedicado ao estudo sobre a doença foi criado pela Unicamp. Em 22 anos de pesquisa, moléculas foram desenvolvidas para inibir a enfermidade. “Conseguimos identificar que a junção de duas moléculas é capaz de bloquear a doença. Agora, estamos na fase de análise e esperando resultados positivos”, esclarece Gonçalo.

Os testes levarão dois anos. Durante esse período, pesquisadores vão analisar a eficiência dos defensivos contra a vassoura de bruxa. De acordo com a bióloga e coordenadora geral de pesquisa e inovação da Ceplac, Lucimara Chiari, a fase de avaliação já está em andamento e tem fortes indicativos de sucesso. “Estamos na expectativa que os produtos apresentem eficácia contra a doença. Se isso se confirmar, conseguiremos elevar a produtividade das lavouras, uma vez que o controle sanitário reduz as perdas pela doença”, explica a pesquisadora.

Lucimara também destaca as grandes perdas que a cacauicultura baiana sofre por causa da praga. Segundo ela, estima-se que, devido à vassoura de bruxa, as perdas na produção de amêndoas de cacau podem chegar a 10%. “Em 2021, a Bahia entregou cerca de 140 mil toneladas de amêndoas, de acordo com a Associação Nacional Das Indústrias Processadoras De Cacau (AIPC), 14 mil toneladas a mais poderiam ter sido entregues, reduzindo a necessidade de importação pelas indústrias processadoras”, comenta a bióloga.

Com uma tecnologia que, de fato, combata a enfermidade cacaueira, que provoca deformação, apodrecimento e morte nas partes do fruto afetadas, os números positivos dessa cadeia produtiva tendem a crescer. Conforme dados do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2020, o agronegócio brasileiro do cacau gerou R$ 18 bilhões em valor bruto da produção e mais de 300 mil empregos em todos os segmentos. Apenas o ramo industrial pagou mais de R$ 2 bilhões em salários e R$ 1,2 bilhão em encargos sociais.

Só no ano passado, na Bahia, que é o maior produtor nacional de cacau, foram colhidas mais de 140 mil toneladas. Com o manejo adequado e sem o risco da doença, nos próximos ciclos, após a liberação do fungicida, a produção do estado pode ser maior e o Brasil pode alcançar o mercado internacional. Isso é o que espera o diretor da Faeb/Senar e produtor de cacau, Guilherme Moura.

“Vai potencializar cada vez mais as nossas lavouras de cacau no Sul da Bahia. Uma devolutiva positiva desses fungicidas representa uma ‘virada de chave’ para a cadeia produtiva. Hoje, o controle da vassoura de bruxa é feito através de podas. Quando o ramo está infectado, nós cortamos. Com o fungicida, poderemos controlar a doença de forma eficaz e recolocar o país no mercado internacional de exportação de amêndoa de cacau”, analisa o diretor da Faeb/Senar.

Com a possibilidade da Bahia ser pioneira em descobrir uma tecnologia capaz de combater a vassoura de bruxa, Guilherme acredita que as portas dos exterior vão se abrir para a cacauicultura brasileira de uma forma ampla. Além de poder voltar a exportar amêndoas do fruto, o país poderá vender tecnologias também. “O Brasil tem diversas condições institucionais de pesquisa. Com isso, vamos atuar no mercado internacional em diversas condições quando o tema é a cacauicultura. Exportar tecnologia para essa cadeia produtiva vai aumentar nossa relevância no setor no exterior”, diz Guilherme.

A Tarde


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