Ipiaú e região tem brigado com os números a décadas:
O Brasil, ou melhor, o sul da Bahia, já foi o maior produtor de cacau em amêndoa do mundo. E hoje, o Brasil não passa do 5°, atrás da Costa do Marfim, Gana, Indonésia e Nigéria. Em 1979/80, a produção brasileira de cacau ultrapassou as 356 mil toneladas… hoje, o sul da Bahia peleja na casa das 105 mil toneladas.
O cacau é cultivado em cerca de 17 milhões de hectares em todo o mundo. A produção africana somada já responde por cerca de 75% da oferta global. De acordo com a AIPC (Associação da Indústria Nacional Processadora de Cacau). Abaixo, painel com os sete maiores produtores mundiais em 2017, que foram:
Distribuição da produção de Cacau no Brasil | |||
Dados | Mapa | ||
O estado da Bahia produz atualmente cerca de 56% do cacau do Brasil. E o Brasil como um todo, corresponde a cerca de 4% da oferta mundial, sendo a Costa do Marfim, na África, o maior produtor do planeta. Lembrar ainda, que o nosso pequeno vizinho americano, o Equador, ainda produz 50% mais que nós.
Em Ipiaú, é crescente o movimento encabeçado pelo cacauicultor Dr. Valnei Pestana ( ex presidente da APROC), José Mendes ( coordenador do Território Médio Rio das Contas), Edvard Bastos, Dr. Genivaldo Lins, entre outros; todos, têm afinado o discurso em prol de transformar os então simples produtores de amêndoa, convidando-os a uma Nova Era Fabril associada, livre das garras de grupos mercantis agrícolas internacionais, que a décadas exploram economicamente a região, via a prática do oligopsônio e a compra do produto sem processamento local, situação qual, segundo o grupo, é a razão limitadora do lucro e um dos fatores das agruras deste cultivo.
O curioso e/ou contraditório, é que a AIPC, tem publicado relatórios em que mostra que a capacidade instalada do setor moageiro, é de 275 mil toneladas/ano. Logo, em verdade o setor vem atravessando uma fase de ociosidade. Convidar pessoas inexperientes a investir o que não dispõem, num setor internacional consolidado, amparado em ideologia reativa, sem a devida métrica mercadológica, empresarial e tecnológica, faz-me lembrar dos contos de Machado de Assis e seu personagem Policarpo Quaresma… onde ao final, disse: “Aos vencedores, batatas”!
Por outro lado, urge que a região mude de paradigma econômico-produtivo e deixe para trás, uma era áurea ilusória, (décadas de 60-80) mascarada com a emissão de títulos públicos sem lastro, via atuação do Banco do Brasil, que despejavam empréstimos insanos aos falsos cacauicultores, correligionários amigos de deputados, que juntos tinham a missão de enfeitar os dados agrícolas do governo militar (balança comercial).
Na prática, sofriam a exploração econômica do oligopsônio internacional agrícola (estrutura de mercado caracterizada por haver um número muito pequeno de compradores). Prática cartelizada, similar a um mercado com poucos fornecedores.
Em verdade, não é nada fácil, prever o futuro, ou vislumbrar a priori a viabilidade dos negócios do cacau, diante de tantas variáveis oscilantes simultaneamente. Até os melhores economistas, costumam fazer previsões astrológicas, dado o excesso de volatilidades, abstração e crença. Ora é a cotação do dólar, ora os juros, ora a situação geral da economia mundial, a falta de chuva, o excesso de sol, o preço dos insumos, a condição das estradas; noutra, a famigerada atuação da “mão invisível” do lobby no congresso nacional mudando as regras do jogo… Por fim, de que adiantaria controlar o custo e o volume, se quem manda nos preços pagos à amêndoa de cacau, sempre foram as bolsas de valores de NY e de Londres. Cinicamente, denominadas simplesmente de “mercado”. Ambas, especulam, ganham e por fim, determinam o movimento dos preços e quantidades no mercado internacional. Diante da fúria e ganancia das Bolsas, tudo parece não passar de cassino ocupada por comerciantes ciganos.
O fato é que a área plantada, de cacau no Brasil, apresentou contrações da ordem de 17% entre os anos de 2016-2017. Inflação, juros altos… e ainda em 2015 a 2016 o rendimento caiu, conforme mostram os gráficos abaixo.
É importante ressaltar, que não se trata de apologia ao desanimo e ações ideológicas reativas… muito pelo contrário. Trata-se de alertas de necessidades do levantamento, mensuração, aprofundamento da análise e consequente diagnóstico da questão socioeconômica, tecnológica, capacidade produtiva, custo e financiamento para viabilizar uma nova era fabril… As perguntas que permanecem ainda sem resposta, algumas dela levantadas pelo radialista e músico ipiauense Celso Rommel, são:
Quais produtos?
Por quanto?
Quem de nós?
Vender para quem?
Aonde?
Quando?
Como?
Oportunidade da Mudança (substituir aos poucos o mercado de refrigerantes)
Jacaré que vacila, vira bolsa de madame!
Salve salve as professoras do Brasil, que tem incutido na cabeça das crianças: – que cigarro e refrigerante, fazem mal à saúde. Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, o consumo per capto de refrigerante no Brasil, caiu 53% nos últimos 10 anos, aponta estudos. Embora seja um mal crescente, 49% da população brasileira já tem algum grau de obesidade (1, 2 ou 3). Dados que preocupam as autoridades da Saúde e ao mesmo tempo abre inúmeras oportunidades comerciais, aos Polos Fruticultores.
O caso concreto é que a sociedade clama por qualidade real de vida e abominação as falsas promessas de felicidade consumista; discurso clássico dos famigerados marqueteiros irresponsáveis, advogados do diabo… E de fato, o consumo per capto de refrigerantes tem caído significativamente. Isto soa como música aos ouvidos dos Polos Fruticultores de todo o país. Louvado seja Deus, que não seja, mais uma ideia brasileiríssima, atabalhoada num Brasil de muita saúva e pouca Saúde.
Numa região monocultora, altamente demandante de inovação, a dúvida existencial paira sobre a efetividade dos programas e projetos tocados pela Ceplac, que infelizmente virou uma repartição pública, escondida na burocracia federal, com quadros técnicos e investimentos, defasados a 30 anos. Torcemos para que o termo Fomentar, não seja na prática, fazer e/ou deixar uma região passar fome… enquanto alguns poucos e velhos heróis funcionários, tunante, muito bem pagos por sinal, consigam reverter a queda de braço surreal, na política nacional.
Ipiaú e região têm a feliz coincidência de ter algumas poucas e boas fábricas de beneficiamento de frutas, já instaladas, e não poderá perder esta oportunidade de geração de emprego e renda, numa região que tem hoje renda média de apenas 1/3 da renda média nacional. Algo em torno de R$ 10 mil/ano habitante.
Com um grave desequilíbrio na Balança Comercial Municipal, infelizmente, Ipiaú e demais municípios da região, têm sobrevivido financeiramente as “custas do governo federal” que suporta mais de 85% do Orçamento Municipal, via FPM (Fundo de Participação dos Municípios); e do INSS, que carrega nas costas mais de 10.500 beneficiários ipiauenses (R$ 135 milhões/ano), muitos na corda bamba das revisões em curso. Hoje, o cacau não traz nem R$ 20 milhões/ano a economia de Ipiaú. É muito pouco… Há muitas pequenas e até tradicionais fazendas, sendo operada na base da meação com os antigos e velhos trabalhadores, isso para não serem abandonadas.
Há uma Gritante Falta de Projeto Consolidado, Liderança e Coordenação:
O PIB (Produto Interno Bruto – Renda total do município) de Ipiaú em 2015 foi algo em torno de R$ 435 milhões. Se tivéssemos gerado uma renda média, igual a média nacional, este PIB seria de R$ 1.36 bilhões. Se levado em conta que não fazemos parte do polígono da seca, temos clima, água, terras, gente… fica claro, que o nosso problema primeiro é de gestão, falta de liderança, consenso e fundamentalmente, de projeto econômico-financeiro regional consolidado.
Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE 2017, Ipiaú, tem as lavouras permanentes e temporárias com o Cacau predominando, ocupando apenas 22% do território municipal. A área ocupada pelas pastagens somam 37% e área ocupada por florestas naturais e legais somam 23%. Logo, nós temos sim, área suficiente capaz de tamanha transformação (Novo Polo Fruticultor). Em verdade, em verdade o maior obstáculo, seja para vir a ser uma centro fabril moageiro e/ou um Polo Fruticultor, se deve ao fato do costume do cachimbo nos ter deixado a boca torta. Vício. Lombeira.
A monocultura, nos legou uma “monovisão” da nossa econômica. Se empreender por necessidade, “resolve” a questão da motivação, por outro lado, aumenta o risco do insucesso. Hoje, as coisas nos são mais acessíveis, porém muuuito mais complexas! E ao se tratar de recursos públicos e/ou coletivos, as precauções e providencias são agigantadas. Será necessário chamarmos não apenas os universitários, como também o poder público, a sociedade, os técnicos os comunicadores, os profissionais…
A Contradição: O Ser Humano, Adora Inovação e Odeia Mudanças:
Não será fácil tirar do comodismo, uma população despreparada ao atual estágio do capitalismo a nível nacional, descapitalizada, acomodada, aposentada, a enfrentar o problema do preço do cacau a R$ 143/arroba, com o salário mínimo a R$ 998,00 que com os encargos sociais chega-se a 2,1 vezes o salário base, com juros estratosféricos, com a baixa produção, produtividade e tecnicidade que temos tido; além da insistente venda da produção ainda voltada à exportação em amêndoa, aos velhos compradores, mesmo que escondidos atrás de pequenos diallers ilheuense terceirizados…
Para atingirmos o patamar de vir a gerar valor agregado interno, com a produção local maciça de chocolate e/ou de polpa de frutas, sucos, geleias… Não será fácil, mesmo apenas acreditar em tamanha sanha! Embora haja sim evidente capacidade de ressureição da econômica da nossa região, se algo de novo não for feito, arduamente. Lembremo-nos dos macaqueiros desbravadores originais da cacauicultura inicial, (vide livros e contos de Euclides Neto) mata a dentro nos idos de 1930/40/50. Fome, febre, cobra, onça, mosquito, saudade e mato pela frente numa lavoura que, no mínimo há que se colher o fruto cinco anos à frente… sem estradas e/ou carros para escoar a produção!
Abaixo, os números de muitas outras produções agrícolas, capazes de provocar uma verdadeira revolução econômica na região, transformando nossa região num importante Polo Fruticultor (produção, beneficiamento e exportação de derivados de frutas). Em destaque, frutas que chegam a render até 13,5 vezes mais por hectare, que o padoeiro Cacau.
Ipiaú, não precisa nem deve abandonar a cultura do cacau. Trata-se de um patrimônio material, econômico e cultural do nosso povo. Porém, não podemos confundir região, com Religião Cacaueira. Ipiaú, tem hoje, apenas 22% do seu território com lavouras permanentes (Predominantemente cacau). Outros 37%, estão ocupados com lavouras pastagens, lavouras não permanentes e naturais. Ainda dá tempo corrigir o rumo, antes que a vaca vá para o brejo de vez.
Lembro aos entusiastas conservacionistas, mais eufóricos, que cacau também é fruta!
Precisamos implantar a cultura da exportação para todo o território nacional, dado ao padrão de consumo, e quantidade mínima para se viabilizar uma cultura forte exportadora nacional. Ipiaú, já não cabe mais em si. No entanto, o profissionalismo, planejamento e constante atualização tecnológica, são de suma importância para a sobrevivência neste negócio, num mundo cada vez mais competitivo.
Fontes de Financiamento:
Sem conhecer profundamente o mercado de capitais, há de se acreditar que um financiamento desta ordem, deve vir do poder público, sine qua nom. Pasmem, porém isto não é mais a realidade brasileira! Os Bancos comerciais e de investimentos, estão abarrotados de recursos captados com destino legal cativo ao agronegócio. As LCAs (Letras de Créditos Agrícolas) isentas de IRPF inclusive, com juros pareados com a taxa Selic (Sistema de Liquidação e Custódia do BC) na casa dos 6,5% a.a. No entanto, se um desavisado for procurar, de peito aberto, um gerente caça-bônus, dos bancos comerciais brasileiros, será depenado, cinicamente! Com direito a tapinha nas costas e cafezinho inclusive.
Também há créditos direcionados captados pelos bancos, via depósitos na Caderneta de Poupança, os quais os bancos comerciais são obrigados a aplicar parte de tais recursos na produção agrícola.
Uma outra forma de equacionamento deste imbróglio, do financiamento a longo prazo, são: o Arrendamento de terras, a Meação, a parceria e tantas outras formas jurídicas de se contratar o uso temporal da terra para produção e tempo certos. Há instrumentos jurídicos consolidados disponíveis e perfeitamente contabilizáveis no ordenamento nacional.
Se tivéssemos no séc. XVII no norte da Europa ou atualmente nos EUA, o caso em tela, teria solução clássica, com a constituição de empresas de capital aberto, e conselho administrativo independente. Ou ainda, a velha opção do associativismos e/ou cooperativismo (medida mais complicada pelo ponto de vista político-administrativo, de gerir).
É numa horas dessas, que vem à tona a Função Social da Contabilidade e da Transparência na Gestão da coisa pública ou coletiva. Sonho. Falta de inteligência coletiva característica dos descendentes latinos em desvantagem aos anglo-saxões. Ocasião comparativa gritante, quando fica claro a distinção entre: Egoísmo versus individualismo, vantagens e desvantagens intrínsecas consequentes.
A grande revolução, poderá vir da Inovação Financeira com a adoção das sonhadas Moedas Sociais, fruto da iniciativa e inteligência financeira moderna, amparadas pelo escopo jurídico-econômico da Economia Solidária do governo federal. Mais isto, é longo e complexo, para este script e será objeto de outras publicações futuras. Aguardemos posicionamento da secretaria de Agricultura do Município de Ipiaú, em “convênio” com o Instituto de Economia da Unicamp, possivelmente terão novidades a frente.
Adiante, dados oportunamente disponibilizados para estudos dos mais aguerridos. Divirtam-se, os soldados das contas e da perícia.
Para os mais astutos, sugiro assistirem aos vídeos abaixo, como reflexão complementar a leitura.
https://www.youtube.com/watch?v=qSedE7IZcfM
https://www.youtube.com/watch?v=PxIgI7K2xb4
https://www.youtube.com/watch?v=VYNfo1jur1Y
Elson Andrade – arquiteto, urbanista, empresário e pós graduando Instituto de Economia da Unicamp.
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