Marcelo Odebrecht dispara contra pai, cunhado e atual presidente da Odebrecht

Depois de falar com a imprensa pela primeira vez há duas semanas, o empresário Marcelo Odebrecht continua a se pronunciar, agora sobre os erros que mancharam a reputação da empreiteira de sua família e rendeu dívidas bilionárias.

Segundo informações da Folha de S. Paulo, nos últimos dias, Marcelo tem encaminhado e-mails para familiares e diretores da Odebrecht com denúncias que atingem executivos que fazem ou já fizeram parte do grupo. Alguns dos alvos são o pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, seu cunhado, Maurício Ferro, e o atual diretor-presidente do grupo, Ruy Lemos Sampaio.

As mensagens obtidas pela Folha refletem discussões e queixas que Marcelo vinha fazendo internamente desde que deixou a prisão, em dezembro de 2017. Mas antes elas estavam restritas a um grupo pequeno.

De acordo com a reportagem, o conteúdo mostra que ele construiu uma tese sobre os motivos que levaram à empresa a entrar com pedido de recuperação judicial, com dívidas que chegam a R$ 98,5 bilhões.

Para Marcelo, muitos erros foram cometidos por Emílio. Ele questiona, por exemplo, uma operação feita pelo pai ao esvaziar a Kieppe, holding familiar controladora da Odebrecht, ao adquirir fazendas avaliadas em R$ 600 milhões para si e ter feito o pagamento com ações da Kieppe e não recursos próprios.

“As ações da controladora “tinham um valor totalmente questionável desde 2016, e hoje não valem praticamente nada”, diz Marcelo.

Segundo o executivo, seu pai também teria utilizado seu poder para nomear executivos que tinham “conflito de interesse”. Para ele, os executivos não focavam na gestão dos negócios e tomavam decisões em benefício próprio e em prejuízo à Odebrecht.

É neste ponto que Marcelo questiona a escolha de Sampaio para assumir o conselho de administração do grupo e agora o cargo de diretor-presidente. Ele acredita que o executivo atua para favorecer Emílio e seus próprios interesses, como evitar investigações que podem incriminá-lo.

Em um dos emails enviados para um grupo de diretores, o que inclui a diretora de compliance, Olga Pontes, que “existem evidências fortes, inclusive registros no My Web Day e Drousys [sistemas usados pela empresa para gerir o pagamentos de propinas], de que RLS [sigla para Ruy Lemos Sampaio], o representante escolhido pelo mandatário [Emílio Odebrecht], recebeu ou intermediou pagamentos indevidos. Isto entre outros fatos, como de obstrução à Justiça, que precisam ser urgentemente apurados”.

Marcelo afirma que Sampaio trabalhou para impedir que sua atuação fosse descoberta, “passando por cima de todos os compromissos que assumimos publicamente e com as autoridades, como deflagrou uma jornada rancorosa de vingança pessoal”. O alvo dessa vingança seria ele.

Além disso, Marcelo afirma que alguns desses pagamentos que Sampaio teria acompanhado já foram identificados na ação penal do sítio.

Quanto ao cunhado, o ex-presidente da Odebrecht é mais direto. Ele ressalta que nunca conseguiu aceitar a “traição de Mauricio Ferro”, que também foi preso por suspeita de corrupção.

Nos emails, Marcelo afirma que “o maior prejuízo nem foram os R$ 200 milhões roubados, mas tudo o que ele fez, destruindo a Odebrecht e as relações familiares, para ocultar este roubo”. Esse suposto desvio está sob investigação.

BN


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