Se não bastasse o tradicional e histórico uso indevido do crédito rural para outros fins, desviados ao consumo e/ou acumulo de patrimônio, ao invés de aplicados na produção, o qual desviou recursos provenientes de financiamentos rurais, e não na aplicação no desenvolvimento, conservação e aumento da produtividade das fazendas de cacau…
Agora, ainda temos que enfrentar, neste fim de feira, mais uma ladeira íngreme, do Spread Bancário (é a diferença entre a taxa que as instituições financeiras captam dinheiro dos agentes econômicos superavitários, menos a taxa a maior, que eles cobram ao emprestar este mesmo dinheiro aos agentes deficitários). Spread este, que não perdoa o passado e cobra caro pela inadimplência costumeira, estatisticamente registrada, percebida, precificada futuramente.
Num cenário e enredo fantástico decadente de: Comer café com açúcar à noite, e arrotar caviar de dia; largamente praticado na nossa região cacaueira, a notória profecia está a caminho: O sertão vai virar mar, e o mar vai virar sertão… já diziam em prenuncio os pretos-velhos, sábios senhorzinho, mateiros de outrora, característicos das antigas e primeiras fazendas de cacau, enquanto preparavam mais um tradicional cigarro de fumo e palha de milho, para espantar os mosquitos na roça. Senão, vejamos o que nos revela, em síntese, o Banco Central do Brasil, esta semana:
Estatísticas monetárias e do crédito ampliado ao setor não financeiro
Em agosto, o crédito ampliado (somatório da dívida dos Governos + Empresas + Famílias) totalizou R$ 9,9 trilhões. Você não está sonhando! Foi isso mesmo que você acabou de ler. Todos nós juntos já devemos e deveremos, queira sim, queira não, derramar nosso suor para pagar quase R$ 10 trilhões, o equivalente a 141% do (PIB). Deixamos os bancos de mão dadas com o Banco Central e com os governos, na corda frouxa… agora, não teremos como fugir do compromisso e negar a gastança. Para os que até aqui vieram montados na charrete da desfaçatez brasiliana… menos mal. Porém, para aqueles que vieram puxando a carroça?
Para aqueles que não entendem de orçamento público, mas não perdem uma oportunidade em atribuir opinião acalorada e culpa dolosa aos últimos governos progressista, saibam: Já chegamos a gastar cerca de R$ 500 bilhões por ano, só com serviços da dívida do governo federal. Outros R$ 130 bilhões com intervenções cambiais (absorvendo prejuízos potenciais de exportadores) além das tradicionais e dissimuladas despesas financeiras do BC. Enquanto que o (PAC) Programa de Aceleração do Crescimento, por exemplo, descontado os investimentos das estatais, não passavam de algumas dezenas de bilhões para investimento em infraestrutura, como: a portuária, aeroportuária, refino do petróleo, transposição do Rio São Francisco, Saneamento, financiamento de Campeões Nacionais, que sim, passaram a ocupar o posto de maior produtor mundial de proteína animal, entre outras. (Com a devida repudia e apoio a condenação dos excesso e crimes praticados por quem quer que seja).
Caso concreto de Ipiaú-BA
I
Analisando os dados financeiros de Ipiaú, o que salta aos olhos é sem dúvidas, o nível de endividamento alcançado por nossos produtores rurais. Mais de R$ 25 milhões, em setembro de 2019, quando muitos ainda carregam dívidas antigas, não renegociadas, a taxa anuais de 8 a 12%. Ou cerca de R$ 2 milhões por ano, só em serviço da dívida, se considera apenas 8% a.a.
Com uma produção municipal anual, de cerca de 70 mil arrobas de cacau e uma margem bruta (da porteira para fora) de R$ 32,00/arroba, podemos concluir que cerca de 75% desta renda estaria comprometida, apenas para estabilizar a dívida (sem o pagamento do principal). A pergunta é: Se agora resolverem tomar pé da situação e marcharem à pagar a dívida, as fazendas, vão viver do que?
Destacar, que todos nós torcemos juntos, sem rancor, pela retomada do sucesso do cacau. Até mesmo por que está pesado carregar este corpo em estado iminente de putrefação. Região cacaueira… Para quem já foi a rainha do salão? A Bela entre as belas, luxuosas, atrevida, culta e ao mesmo tempo estúpida, extravagante exógena, insensível com os miúdos; agora vê-la neste estado de consequências?
Situação em caso de intransigência com os credores
Abaixo cálculo estimado, em caso extremo de intransigências com os credores, para liquidação da dívida em 12 anos. Este valor equivaleria a comprometer 33% das Receitas Bruta, das fazendas, para liquidação da dívida, sendo 2 anos destes, usados para carência e restruturação técnica, administrativa e o indispensável aumento da produtividade.
Esta proposta extremada, somente se sustentaria, se houvesse um aumento da produtividade e/ou do preço do cacau, em pelo menos, 40%. Caso contrário, os produtores não teriam condições sustentáveis e seria mais negócio (em muitos casos) fingir-se de fazendeiro, servindo em verdade de flanelinha, tomando conta da propriedade (ativo bancários não contabilizado ainda como prejuízo) em especial, ao Banco do Brasil, que detém 84% da carteira. Lembrar, que são centenas de fazendeiros em situação similar, porém, as contas foi realizada como sendo um todo.
Situação em caso de mais um perdão de 95% do principal e redução dos juros a 3% a.a.
A proposta que vem tramitando nos bastidores do governo, em Salvador-Brasília, pede o perdão da dívida em 95% e redução dos juros a 3% ao ano. Este valor equivaleria a comprometer 1,3% das receitas bruta, das fazendas, para liquidação da dívida em 12 anos, sendo 2 destes, usados para carência e restruturação técnica e administrativa.
Possíveis consequências do transbordamento e aumento generalizado do Spread Bancário regional
É bom lembrar que em se viabilizando a renegociação acima, certamente, o Spread Bancário em Ipiaú e região poderiam, voltará a subir de preço, ou será dissolvido em outras linhas de financiamentos, como é de praxe. Dado que os bancos e governos, costumam descarregar o peso dos pecadores sobre as costas dos inocentes.
Lembrar ainda, que num passado nem tão distante, estes mesmos cacauicultores já faliram uma cooperativa de crédito, já tiveram outras dívidas perdoadas, e não pagam impostos pela produção cacaueira, sequer os 2% previdenciário (INSS/SAT/Senar). A arrecadação municipal do ITR, não costuma passar dos R$ 5 mil anuais, que chegam aos cofres públicos municipal. Mesmo os cacauicultores bancando ainda de principais agentes econômicos da microrregião, as 70 mil arrobas de cacau, não representam nem 1/10 da renda advinda das aposentadoria do INSS e Programas Sociais do governo federal. Os empregos formais no campo, em Ipiaú, são cerca de 220 apenas. Logo, é prudente baixarem a bola, pedir perdão pelos erros e atinar na efetiva correção do histórico problema, numa época de dados digitais espalhados e acessíveis ao mundo.
Porém ainda, outro fato relevante, é que os bancos que atuam na cidade na captação de depósitos em Caderneta de Poupança, deveriam respeitar a norma do CMN (Conselho Monetário Nacional) e destinarem o percentual legal ao financiamento rural. Olhem lá, estamos emprestando-os R$ 130 milhões, enquanto devemos apenas 25.
Para os mais astutos, sugiro assistirem aos vídeos abaixo, como reflexão complementar a leitura.
Signatário Elson Andrade – arquiteto, urbanista, empresário e pós graduando do Instituto de Economia da Unicamp.
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