O urbanista ipiauense, arquiteto Elson Andrade, nos traz nesta edição uma reflexão sobre o processo inflacionário no Brasil, descrevendo o que é e como ocorre as variações de preços e salário e o melindroso combate à inflação. Confira!

Uma analogia esclarecedora:
O assunto é muito sério, porém, para que todos possam bem entender, vamos começar com uma anedota para fazer o contraponto inicial:
Uma criança vê a tia passar horas se arrumando, e já impaciente, pergunta:
— Tia, pra que tanta maquiagem?
A tia responde:
— Para ficar bonita, meu amor!
Na pseudo ingenuidade e sinceridade da criança, ela então retruca:
— E por que não fica?
Não se assuste caro leitor, essa é uma situação-pergunta que vamos fazer para melhor confrontar as teorias econômicas, que definem, segundo a abordagem clássica, ainda sustentadas por muitos economistas de plantão nas mídias, e nas corretoras de valores do mercado financeiro, a forma com que “eles acreditam” ou, insistem, em nos fazer acreditar, de como o Banco Central, deve agir para combater a inflação.
Uma análise para além das teorias clássicas
Por que combater as causas da inflação de verdade, não é só “maquiar” as disputas socioeconômicas, através dos juros altos, que só transferem ainda mais riqueza dos pobres para os rentistas e o sistema financeiro!
Inflação no Brasil: Um Olhar Para Além da Maquiagem Econômica
A inflação é um desafio cotidiano para milhões de brasileiros, mas compreender sua complexidade requer mais do que definições técnicas. Inspirado por uma metáfora provocativa, assim como a maquiagem pode não produzir a beleza esperada, as políticas econômicas tradicionais muitas vezes não oferecem soluções reais para os problemas que prometem resolver.

O que realmente significa inflação?
Em termos gerais, a inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços, resultando na perda do poder de compra da moeda. No Brasil, o fenômeno se manifesta de três formas principais:
Inflação de demanda: surge quando o consumo excede a capacidade produtiva, como ocorre em momentos de ampliação dos gastos públicos sem correspondentes investimentos em infraestrutura ou produção. Exemplo: Na enchente do Rio de Contas, sem abastecimento de botijão de gás de cozinha, o preço do botijão explode, pela falta de oferta.
Inflação de custos: reflete o impacto do aumento nos preços dos insumos, como combustíveis e dólar, que acabam sendo repassados ao consumidor final, gerando encarecimento.
Inflação inercial: está relacionada a expectativas de aumento de preços no futuro, levando a reajustes automáticos em salários e contratos, perpetuando o ciclo inflacionário.
As ferramentas do Banco Central: um arsenal limitado?
O Banco Central (BC) adota três ferramentas principais para controlar a inflação:
Taxa Selic: aumentar os juros visa reduzir o crédito e o consumo. Entretanto, no Brasil, o impacto dessa medida é limitado, já que as taxas de juros ao consumidor (como no crédito rotativo de cartões) são extraordinariamente altas, chegando a 452% ao ano. Pequenos ajustes na Selic não alteram substancialmente esse cenário.
Depósitos compulsórios: ao exigir que os bancos mantenham uma reserva junto ao BC, a medida reduz a liquidez na economia. Porém, ela não aborda as causas estruturais da inflação, como o impacto do câmbio ou do custo da energia.
Comunicação de metas: estabelecer e comunicar metas de inflação busca controlar expectativas do mercado. Contudo, no Brasil, a falta de confiança histórica dificulta a eficácia dessa estratégia.
Os efeitos distributivos da inflação: quem perde e quem ganha?
A inflação gera impactos diferenciados na sociedade, criando um jogo de vencedores e perdedores:
Perdedores:
Trabalhadores de renda fixa, cujos salários geralmente não acompanham o aumento dos preços.
Famílias de baixa renda, que gastam a maior parte de sua renda em itens essenciais e são mais vulneráveis às altas de preços.
Poupadores, que veem seus rendimentos perdem valor quando não superam a inflação.
Vencedores:
Devedores, que podem quitar dívidas antigas com uma moeda desvalorizada.
O setor financeiro, que se beneficia de juros altos e da concentração de riqueza.
O governo, que consegue reduzir o valor real de sua dívida pública ao longo do tempo.
O imposto inflacionário: uma taxa invisível
Um aspecto muitas vezes negligenciado é o impacto do “imposto inflacionário”. Quando o governo emite moeda de forma descontrolada para cobrir seus gastos, dilui o valor da moeda em circulação, funcionando como um tributo indireto. Essa prática penaliza particularmente quem não possui ativos protegidos, como imóveis ou investimentos dolarizados.
Por que a Selic alta não funciona no combate à inflação no Brasil?
Há pelo menos três razões principais para o fracasso relativo da política de juros no Brasil:
Crédito com juros exorbitantes aos pobres: o sistema bancário brasileiro já opera com taxas tão altas que pequenos ajustes na Selic têm impacto quase insignificante.
Concentração bancária: com cinco grandes bancos dominando 80% do mercado, os spreads bancários permanecem elevados, independentemente das alterações na taxa básica de juros.
Predominância da inflação de custos: cerca de 70% da inflação brasileira decorre de fatores como câmbio, combustíveis e energia, setores que não respondem diretamente à política de juros.
Uma saída para além da “maquiagem”
O enfrentamento da inflação no Brasil requer soluções de longo prazo e estratégias multifacetadas, como:
Investir em produtividade: o aumento da infraestrutura, educação e tecnologia é essencial para garantir crescimento sustentável.
Combater a concentração de mercado: medidas para reduzir o poder monopolístico em setores estratégicos, como energia e combustíveis, são cruciais.
Reformar o sistema de crédito: garantir taxas de juros mais acessíveis e democratizar o acesso ao crédito pode beneficiar tanto consumidores quanto empresas.
Enquanto persistirem estratégias paliativas, o questionamento permanece: por que não adotamos soluções que resolvam a causa e não apenas os sintomas do problema?
Nota:
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Elson Andrade é arquiteto, urbanista ipiauense, empresário desenvolvimentista, pós-graduado pelo Instituto de Economia da Unicamp
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