PF busca identidade de três membros do grupo suspeito de planejar a morte de Lula e Moraes

Joedson Alves/Agência Brasil

A Polícia Federal tenta descobrir a identidade de três pessoas que teriam participado, em 2022, do planejamento de ação golpista que incluía matar o presidente eleito Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os membros ainda não identificados participavam de um grupo de conversa chamado “Copa 2022” no aplicativo Signal, que teria sido utilizado na organização da trama golpista.

Cada integrante utilizava como codinome um país (Alemanha, Argentina, Brasil, Áustria, Gana e Japão) de forma a não ser identificado.

A PF conseguiu associar parte dos países aos nomes dos suspeitos, mas ainda há dúvidas, por exemplo, sobre quem utilizou o nome “Argentina 2”. Segundo agentes envolvidos na apuração, a linha telefônica associada a esse codinome foi cadastrada com os dados de uma pessoa que mora em Patrocínio (AL) e que não participou da trama golpista.

A PF deflagrou na terça-feira (19) uma operação para prender quatro militares e um policial federal que teriam preparado planos golpistas contra a posse de Lula, entre eles a ação debatida no grupo “Copa 2022”.

Foram alvos o general da reserva Mario Fernandes, os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo e o policial federal Wladimir Matos Soares.

A PF aponta que Oliveira seria um dos integrantes do grupo, utilizando o codinome Japão.

Já a linha telefônica associada ao codinome Brasil foi cadastrada em nome de um morador de Salvador (BA) que também não teria relação com a trama golpista. A PF, porém, identificou que esse número foi utilizado em aparelho telefônico que também teria sido, dias mais tarde, ativado com um número do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo.

Um dos presos na semana passada, Azevedo deve ser ouvido pela PF nesta semana. Os investigadores, então, vão decidir se incluem o nome do tenente-coronel na lista de indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa

Seu advogado, Jeffrey Chiquini, disse que o militar ainda não foi chamado a depor, mas que ele não deve ficar em silêncio. “Não existe a alegada trama de golpe. É um grande factoide, já temos elementos a demonstrar a fragilidade dessa investigação”, afirmou.

Chiquini disse existir uma “armação política” para criar uma “narrativa de golpe para perseguir opositores”. Segundo ele, o tenente-coronel fazia aniversário e estava junto da família na data em que a PF suspeita houve uma mobilização para matar Moraes.

A PF diz que solicitou a ação de busca e apreensão em endereços de Azevedo para confirmar se ele participou ou não da trama golpista.

Os agentes cruzaram dados de localização de aparelhos celulares, arquivos encontrados em HDs e computadores dos suspeitos, entre outras informações, com os diálogos do grupo “Copa 2022”. Com este cruzamento, levantaram indícios de que os golpistas chegaram a se posicionar para executar o plano de matar Moraes em 15 de dezembro de 2022, mas desistiram na última hora.

A PF ainda vê conexões entre as ações articuladas no grupo “Copa 2022″e um documento chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que teria sido elaborado pelo general Mario Fernandes e também teria como objetivo um golpe de Estado e o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu, no sábado (23), os militares suspeitos de planejar atentados. “Esses que estão sendo presos injustamente agora, de forma preventiva. Não encontra um só respaldo da lei que fala da preventiva para prender esses quatro oficiais”, disse ele em transmissão nas redes sociais.

Na semana passada, a PF indiciou 37 pessoas, entre elas Bolsonaro, pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, cujas penas somam de 12 a 28 anos de prisão, sem contar agravantes. A PGR (Procuradoria-Geral da República) indica que só deve fazer eventual denúncia no ano que vem.

 

Julia Chaib e Mateus Vargas/Folhapress


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