Após a divulgação do tema da redação do Enem 2024, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, o Ipiaú Online conversou com o professor e escritor Albione Souza, mestre em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ele compartilhou sua visão sobre a importância e a relevância do tema, destacando o papel da herança africana na identidade cultural brasileira.
“Considero que a escolha do tema da redação do Enem de 2024 foi muito pertinente, dada a necessidade de uma reflexão crítica contínua sobre o legado material e imaterial afrodescendente presente no Brasil”, afirmou Albione. Para ele, embora a contribuição africana seja fundamental na formação do país, ela nem sempre foi devidamente reconhecida ou valorizada.
O professor ressaltou como, historicamente, as influências europeias eram vistas como superiores, enquanto as heranças africanas e indígenas eram relegadas ao desprezo. “Com raras exceções, a presença europeia era vista como um fator positivo, que ‘elevava’ a qualidade do povo brasileiro, enquanto as etnias africanas e indígenas eram tratadas como elementos de atraso na formação da nação”, pontuou Albione.
Ele explicou que esses pensamentos foram moldados por ideologias eurocêntricas, instrumentalizadas para atender aos projetos colonizadores. “Com o início do tráfico de africanos escravizados para o Brasil, houve uma aliança entre o Estado e a Igreja em defesa do projeto escravocrata, que durou cerca de 400 anos em nosso país”, destacou.
Mesmo após a abolição formal da escravidão em 1888, Albione observou que a população negra foi deixada à margem da sociedade republicana. “Vivendo à própria sorte, os negros carregaram em seus corpos e vivências as marcas da discriminação e do racismo, que perduram até os nossos dias”, disse ele.
Para o professor, discutir a importância do legado africano no Brasil é também uma forma de reparação histórica. “Tratar da importância do legado africano é uma tentativa de superarmos um longo passado de subjugação e desumanização, cujas marcas ainda são visíveis no racismo estrutural que estigmatiza o legado afrodescendente em nosso país”, comentou.
Albione finalizou a com uma citação de Nelson Mandela, que reforça a urgência de combater o racismo e promover a valorização da herança africana: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
As palavras do professor Albione reforçam a relevância de temas como esse no Enem, promovendo a consciência e o respeito por uma herança cultural que é base essencial da identidade brasileira.
Ipiaú Online / Fábio Rodella
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