A jornalista e escritora Daniela Arbex revelou que voou no mesmo avião da VoePass um dia antes do acidente. Em um longo desabafo no Instagram, na sexta-feira (9/8), Daniela postou um vídeo onde pessoas passavam mal de calor dentro da aeronave, que estava com o ar condicionado desligado.
“Filmei as pessoas passando mal durante o voo por causa do calor que fazia dentro da aeronave sem ar condicionado. Foi terrível. Um passageiro chegou a tirar a camisa. Outro, que estava uma poltrona à minha frente, sentia muita dor de cabeça. As pessoas se abanavam procurando ar. Eu e outros passageiros questionamos a aeromoça. A resposta foi de que o “ar não funcionava em solo, só no ar”, o que não aconteceu” disse a jornalista.
Palito em sistema antigelo
O comandante Ruy Guardiola, ex-funcionário da VoePass e um dos primeiros pilotos do modelo ATR no Brasil, contou que, durante um voo da companhia, a equipe da manutenção usou um palito de fósforo para resolver um problema no botão que aciona o sistema antigelo. Uma falha no sistema anticongelamento é justamente uma das suspeitas para a queda do avião da VoePass que deixou 62 pessoas mortas na sexta-feira (9/8), em Vinhedo.
O episódio com o palito ocorreu em 2019, quando Guardiola trabalhou por um mês na então Passaredo (que passou a se chamar VoePass exatamente naquele ano). Fundada em 1995 em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a companhia aérea é a mais antiga em operação no país e é especializada em voos regionais.
“O problema foi detectado no nível de aquecimento de um dos sistemas. A solução encontrada pela manutenção foi a colocação de um palito de fósforo, ou sei lá, um palito de dente. Eu vi com esses olhos que a terra há de comer”, contou o piloto em entrevista ao Fantástico.
Processos e reclamações
A VoePass acumula pelo menos 150 processos na Justiça desde 2021 e quase 900 reclamações nos últimos 12 meses.
No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), tramitam pelo menos 150 processos contra a companhia aérea desde 2021, sendo a maioria referente a pedidos de indenização por danos morais.
No site Reclame Aqui, ferramenta utilizada pelos consumidores para expor opiniões sobre a experiência com determinada empresa ou serviço, foram registradas quase 500 chamadas nos últimos seis meses e quase 900 nos últimos 12 meses.
A empresa é classificada como “não recomendada” no site, e respondeu apenas 9,2% das reclamações feitas na plataforma nos últimos seis meses e 32,4% nos últimos 12.
Em relação à natureza dos problemas, 24,14% são por cancelamento de voo, 23,71% sobre qualidade do serviço prestado, 22,52% por reembolso, 16,59% por estorno do valor pago e 13,04% sobre atraso na decolagem.
Perícia inicial
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu, nesta segunda-feira (12/8), a perícia inicial no local onde o avião da VoePass caiu em Vinhedo.
O órgão, que pertence à Força Aérea Brasileira (FAB), passou o final de semana realizando a chamada “Ação Inicial”, em que são recolhidas as primeiras informações que podem explicar a causa da queda. No domingo (11/8), os dados das caixas-pretas do avião foram extraídos da área com sucesso.
Com a finalização dessa primeira fase, a FAB explicou, em nota, que as investigações seguem para a fase de análise dos dados recolhidos, “com o levantamento de outras informações necessárias, a fim de identificar os possíveis fatores contribuintes”.
Até agora, foram levantadas três hipóteses para explicar o motivo da queda. A primeira delas é que o acidente possa ter sido causado por formação de gelo nas asas, uma hipótese sustentada pelos boletins meteorológicos do dia e pelo histórico de um acidente similar nos Estados Unidos há 30 anos.
Outra possibilidade é que o avião estava com resquícios de danos causados por um “tailstrike” — termo técnico usado na aviação para quando o avião bate com a cauda na pista — sofrido em março deste ano.
Há ainda uma terceira possibilidade de problemas no ar condicionado na aeronave, apontados por pessoas que tinham pilotado o avião, tenham prejudicado a sua refrigeração.
O relatório preliminar do acidente aéreo deverá ser divulgado em 30 dias. Segundo o Cenipa, a conclusão da investigação “terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência”.
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