Sobe para 32 o número de mortos nos temporais do Rio Grande do Sul

 

Diego Vara/Agência Brasil

Diferentemente de 2023, quando cheias atingiram poucas regiões, fenômeno desta semana deve afetar rios de todo o estado. Guaíba pode chegar aos 5 metros, ultrapassando recorde de 1941. Barragens e encostas estão sob risco.

O Rio Grande do Sul registrou, até o início desta sexta-feira (3), 32 mortes e 60 desaparecidos em razão dos temporais que atingem o estado desde a segunda (29). Diferente de 2023, quando a chuva foi isolada em algumas regiões – como o Vale do Taquari –, desta vez, o impacto ocorre sobre todo território gaúcho.

A Defesa Civil colocou a maior parte das bacias hidrográficas do estado com risco de elevação das águas acima da cota de inundação (veja a lista abaixo).

“Não é só pra quem está à margem do Rio Jacuí, à margem do Rio Taquari, enfim. Outros rios, arroios e canais também sofrem essa essa interferência e é importante tomar cuidado nessas diversas localidades”, diz o governador Eduardo Leite (PSDB), que já afirmou que o temporal é “o maior desastre do estado” e que o Rio Grande do Sul vive uma “situação de guerra”.

O governo decretou estado de calamidade, situação que foi reconhecida pelo governo federal. Com isso, o estado fica apto a solicitar recursos federais para ações de defesa civil, como assistência humanitária, reconstrução de infraestruturas e restabelecimento de serviços essenciais.

A Defesa Civil afirma que além dos 32 mortos e 60 desaparecidos, 36 pessoas ficaram feridas. O órgão soma cerca de 14,8 mil pessoas fora de casa, sendo 4.645 pessoas em abrigos e 10.242 desalojados (na casa de familiares ou amigos). Ao todo, 154 dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 71,3 mil pessoas.

 

Recorde de 1941
No Guaíba, em Porto Alegre, o nível da água já passou dos 3,6 metros e pode superar 5 metros ainda nesta semana.

“As nossas projeções ainda indicam que ele vai ultrapassar a cheia de 1941, atingindo 5 metros no período do final da tarde de sexta-feira (3) também”, diz Pedro Luiz Camargo, hidrólogo da Sala de Situação do RS.

Em 1941, uma enchente inundou Porto Alegre, provocando a construção de um sistema anticheias.

 

A região central de Porto Alegre é protegida por um sistema de diques, comportas e muros. No entanto, a região das ilhas, a Zona Sul da Capital e as cidades do outro lado da costa, como Barra do Ribeiro, Eldorado do Sul e Guaíba devem ser afetadas pela cheia.

A tragédia desta semana já deixou 32 pessoas mortas. O levantamento oficial da Defesa Civil informa 29 óbitos. A RBS TV apurou que há outras três vítimas – em São Vendelino (1) e Taquara (2) –, com informações de prefeituras, bombeiros, polícia militar e outros órgãos locais.

Cidades com mortes confirmadas pela Defesa Civil: 29

Canela (2)
Candelária (1)
Caxias do Sul (1)
Bento Gonçalves (1)
Boa Vista do Sul (2)
Paverama (2)
Pantano Grande (1)
Putinga (1)
Gramado (4)
Itaara (1)
Encantado (1)
Salvador do Sul (2)
Serafina Corrêa (2)
Segredo (1)
Santa Maria (2)
Santa Cruz do Sul (2)
São João do Polêsine (1)
Silveira Martins (1)
Vera Cruz (1)
Desaparecidos contabilizados pela Defesa Civil: 60

Candelária (8)
Encantado (6)
Itaara (3)
Lajeado (5)
Passa Sete (1)
Pouso Novo (1)
Roca Sales (10)
Santa Cruz do Sul (1)
São Vendelino (2)
Sinimbu (1)
Marques de Souza (13)
Montenegro (1)
Teutônia (3)
Três Coroas (3)
Travesseiro (2)
Barragens
O governo do estado emitiu alertas com relação a barragens em diversas regiões do RS. A barragem Blang, no Rio Caí, perto de São Francisco de Paula, é monitorada devido ao risco de rompimento. Outra estrutura em estado crítico é a barragem São Miguel, entre Bento Gonçalves e Pinto Bandeira.

A barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves, se rompeu parcialmente na tarde desta quinta. A água não provocou um aumento significativo nos volumes dos rios das Antas e Taquari.

Diferente das barragens de rejeitos de minério, como as que provocaram as tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, as estruturas sob risco no estado são de usinas hidrelétricas. As barreiras represam a água de rios para a geração de energia.

Deslizamentos
Além das cheias, o Rio Grande do Sul está em risco de deslizamentos. O estado já registrou vítimas de soterramentos. O governador Eduardo Leite alertou para o perigo em regiões de relevo elevado, como a Serra e os vales dos rios Taquari e Caí.

“É também evitar estar em localidades, encostas de morros que estão com o solo encharcado e têm chance de deslizamento. Já são muitas pessoas vítimas por soterramento aqui no estado. Então, nestas cidades, também do Centro pra Serra, região dos vale, em cima da Serra, parte do Litoral, especial cuidado com encostas de morros”, afirma Leite.

Bacias hidrográficas com risco de inundação severa:
Quaraí
Ibicuí
Vacacaí-Vacacaí Mirim
Alto e Baixo Jacuí
Ijuí
Piratini
Butuí-Icamaquã
Pardo
Passo Fundo
Várzea
Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo
Tramandaí
Mirim-São Gonçalo
Taquari-Antas
Caí
Sinos
Gravataí
Guaíba (Ilhas, Cais e Orla)
Camaquã
Mirim-São Gonçalo (elevação da Laguna dos Patos com represamento por ventos sul e sudeste)

Visita do presidente Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Rio Grande do Sul nesta quinta (2). Lula e a comitiva do governo federal desembarcaram na base aérea de Santa Maria por volta de 10h40. Lula se reuniu com o governador, o prefeito de Santa Maria e outras lideranças locais.

Lula prestou solidariedade às famílias atingidas e prometeu ajuda ao estado, afirmando que não faltarão recursos e que o governo federal vai atuar em conjunto com o governo local.

O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social informou que vai facilitar o saque e antecipar para 17 de maio os pagamentos do Bolsa Família para beneficiários do programa que vivem nas regiões atingidas pelas enchentes.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, anunciou o envio de recursos do Poder Judiciário para auxiliar a população afetada pelas as fortes chuvas que atingem o estado.

Causas dos temporais
Os meteorologistas afirmam que os temporais que ocorrem no Rio Grande do Sul são reflexo de, ao menos, três fenômenos que ocorrem na região, agravados pelas mudanças climáticas. Nas próximas 24 horas, há previsão de mais chuva.

A tragédia no estado está associada a correntes intensas de vento, a um corredor de umidade vindo da Amazônia, aumentando a força da chuva, e a um bloqueio atmosférico, devido às ondas de calor.

A previsão é de que a condição se mantenha até o sábado (4) com acumulados que podem chegar até 400 milímetros. O volume deve se somar aos mais de 300 milímetros de chuva registrados nos últimos 4 dias.

G1


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