Lançamento da novela Renascer impulsiona economia cacaueira e turismo em Ilhéus

Divulgação TV Globo

Originalmente lançada em 1993, a novela Renascer retrata a vida de um agricultor de cacau em Ilhéus, o protagonista José Inocêncio, interpretado por Leonardo Vieira e Antônio Fagundes.

Relançada no mês de janeiro, a trama, de forma direta ou indireta, provoca a admiração e a curiosidade de milhares de brasileiros sobre a potência da economia cacaueira no extremo sul da Bahia. O agricultor de cacau e consultor da novela, Lucas Árleo, conta que a trama se mistura com a história de vida de várias famílias na região, inclusive a dele.

“Eu estou a frente da fazenda da minha família. Na verdade, eu sou a terceira geração [de produtores], a quarta é a da Júlia, minha filha e meu filho, Pedro. Trabalho com cacau desde 2000. Na verdade, eu comecei a ficar à frente da fazenda, por conta da vassoura de bruxa. Meu avô já estava idoso, já não tinha mais condições de cuidar da fazenda”, detalhou. Um dos temas centrais da história é a vassoura-de-bruxa, citada por Lucas. A doença, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, causou a destruição de centenas plantações de cacau no sul baiano entre os anos 1990 e 2000.

A epidemia da doença também impactou diretamente a economia na região, levando dezenas de produtores à falência. Lucas conta que a sua família também foi fortemente afetada. “Foi uma época muito complicada. A fazenda da gente produzia 9 mil arrobas de cacau, meu avô chegou a ter 70 trabalhadores, na época de colheita. O cacau era uma colheita ótima até a chegada da vassoura. A produção foi caindo ao ponto em que no início dos anos 2000 só tinha um funcionário na fazenda. E chegamos a uma produção de 120 arrobas de cacau. A gente saiu de 9 mil para 120. Foi uma coisa avassaladora para região toda”, detalhou.

A partir deste momento, o agricultor conta que ele saiu de Salvador para vir cuidar da produção. Com auxílio das novas tecnologias, ele implantou o modo de produção de cacau especial, um método de pós-colheita da fruta, que ajudou a reerguer a fazenda. Ele afirma ainda que serviu de inspiração para algumas mudanças no enredo da trama: “E um dos personagens da novela, deve se inspirar pelo caminho que eu segui, que é a produção do cacau especial. Que é uma forma de conviver com a vassoura e manter o patrimônio.”

Lucas também especifica como ocorreu o convite para a consultoria da novela: “Fomos falar sobre como foi a questão da vassoura-de-bruxa para a nossa família e como nós buscamos soluções. É muito gratificante ver o reconhecimento de um trabalho que a gente tem feito com tanto carinho. A fazenda é uma fazenda que foi cuidada por meu avô e construída por ele, então tenho uma grande missão que é manter de pé esse patrimônio.”

Atualmente, Lucas é o responsável pela fazenda da família e dono da marca de chocolates, que faz o uso do cacau produzido por eles, “Ju Árleo”, em homenagem a sua filha e idealizadora do projeto, a Julia. Segundo o produtor, a repercussão nacional da novela deve contribuir para o crescimento do projeto. “Foi muito gratificante, trouxe uma visibilidade muito boa e eu acho que a novela vai contribuir bastante para essa nova fase da cacauicultura e para o segmento dos chocolates também”, afirmou.

Retratada por diversos poetas e escritores, a ascensão e decadência da economia do cacau abriu as portas do município para a economia portuária, industrial e turística, é o que explica o Diretor de Interiorização da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Raimundo Machado Junior.

“A cidade vem recebendo dois grandes investimentos, um é o porto sul e outro é a ferrovia leste oeste, que faz a ligação até Tocantins. Isso tudo traz para Ilhéus um grande movimento econômico. O que precisávamos é que Ilhéus fosse um fomentador de emprego não só no turismo, mas também nos outros negócios que estão começando a ser implantados em Ilhéus. Acredito que daqui a 10 anos Ilhéus será a melhor cidade da Bahia para se viver e ganhar dinheiro”, ressaltou.

 

Ainda segundo o gestor, apesar da variabilidade da produção, o imaginário da cultura cacaueira ainda atrai muitos turistas a região, principalmente os baianos, o principal público do turismo no município: “O mundo já olhou para Ilhéus como uma das cidades mais interessantes do Brasil. Quando o cacau vivia o seu tempo áureo lá atrás, a cidade tinha um estrangeiro muito forte. Hoje, com a nova vinda da recuperação da lavoura cacaueira, junto às novas fábricas de chocolate que vêm sendo construídas, o mundo todo passa a notar Ilhéus novamente. Temos muitas empresas que olham para Ilhéus como oportunidade de negócio.”

Assim como Lucas, Raimundo também acredita que o sucesso de Renascer, que conquistou um pico de 29 pontos de audiência ainda na primeira semana, deve repercutir positivamente na economia de Ilhéus. “Ilhéus hoje é a bola da vez, a cidade vive um momento muito bom onde as pessoas estão começando a enxergar o destino a Ilhéus, que nunca foi destino de turista, sempre foi cidade de veraneio”, e completa: “Acredito que a repercussão da novela virá na frente. Ainda estamos recebendo o fruto de um novo momento que Ilhéus vai vivendo, desse crescimento do porto, ferrovia e nova estruturação da cidade, além dos muitos empreendimentos mobiliário.”

Com tantas mudanças, a indústria hoteleira de toda a região se prepara para o aumento da visitação ao município, com a criação de novos hotéis, restaurantes e zonas de comércio.

Atualmente, a novela Renascer, que já está na segunda fase da trama, é o programa com maior audiência da televisão aberta no horário das 21h, mantendo uma média de 20 pontos de audiência na última semana, segundo o Ibope.

BN


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