Baianos sentem impactos das ondas de calor no estado

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A chegada da primavera trouxe para diversos municípios baianos um fenômeno que promete ser cada vez mais constante. Apesar do costume com as altas temperaturas, a população sofreu com as consequências das ondas de calor, que afetaram 158 cidades baianas no final do mês de setembro. O munícipio de Bom Jesus da Lapa, localizado a 532 KM de Salvador, figurou entre as maiores temperaturas máximas do país no período, ao bater 41,6 ° C no último dia 26, nono maior resultado no âmbito nacional. Os dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O alerta para temperaturas extremas, acionado quando existe uma varação de 5ºC acima da média local para determinado período, causa preocupação até para o estimado verão da Bahia. O Portal A TARDE entrou em contato com especialistas sobre o assunto para saber as principais consequências para a população e as causas responsáveis pelas ondas de calor, que segundo os pesquisadores, podem acontecer de forma mais frequente com o avanço do aquecimento global.

Meteorologistas da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Laurizio Alves e Giuliano Carlos afirmaram que o aumento da temperatura, além de estar ligado com a chegada da primavera, também é consequência da presença do El Niño, provocado pela desaceleração dos ventos no Oceano Pacífico, que pode desencadear fortes chuvas em determinadas regiões, ondas de calor e secas em outras. Esse fenômeno pode causar um efeito devastador nas colheitas de países como Brasil e Indonésia.

“O mês de outubro é conhecido por ser tipicamente quente, com registros de temperaturas mais elevadas em grande parte do país. Neste ano, a presença do El Niño contribuirá para aumentar a temperatura, por isso, pode ocorrer onda de calor. Para Salvador a previsão é de temperaturas mais elevadas, mas não deve chegar a ser uma onda de calor”, afirmaram os meteorologistas.

Os especialistas explicam que as ondas de calor são formadas por meio desses bloqueios atmosféricos, que impedem os sistemas formadores de chuva e são elevados por uma massa de ar quente e seca capaz de elevar a temperatura local.

“Conforme a Organização Meteorológica Mundial, as ondas de calor são caracterizadas pelo aumento anormal das temperaturas, com temperatura máxima diária 5 °C acima da média climatológica, a qual deve ocorrer em, no mínimo, seis dias consecutivos. Porém, alguns cientistas/pesquisadores podem adotar número menor de dias, 3 a 5 dias, com temperatura máxima diária 3 °C acima da média climatológica”, explicam.

Além da sensação de calor, que é sentida pela população, os efeitos deste fenômeno podem provocar outras consequências, como incêndios florestais, perda da produtividade agrícola e pecuária, desabastecimento de reservatórios e perda de produtividade das usinas hidrelétricas. Para a população, o risco de desidratação e queimaduras também são elevados.

“As ondas de calor provocam tempo mais estáveis, sem chuvas. Porém, associado a isto ocorre a redução da umidade e nebulosidade. Além disso, ocorre a intensificação da radiação e elevação da temperatura média local. Como consequência, casos de comorbidades e mortalidade devido ao desconforto térmico são comuns, sendo os mais afetados: idosos, crianças, doentes/acamados, regiões com alta densidade populacional e áreas com pouca ou nenhuma vegetação”, avaliam os meteorologistas.

A dermatologista Marília Acioli chama atenção para os cuidados que a população deve ter diante de temperaturas extremas. Ela destaca a necessidade de utilização de protetor solar, de aumentar a proporção de áreas cobertas no corpo e de se manter hidratado para passar pelas ondas de calor evitando problemas graves.

“Ingerir bastante água, não ceder a consequência óbvia, que é não se expor mais ao sol neste período e caso se exponha, usar protetores, tanto protetor solar nas áreas descobertas, como também aumentar a proporção de áreas cobertas com roupas, que podem ser UV ou até roupas comuns, elas também vão proteger a pele da temperatura solar. Evitar ficar em ambientes muito quentes por muitos períodos, preferir locais ventilados”, explica.

Acioli faz um alerta importante sobre a utilização de sabonete na hora do banho. De acordo com a dermatologista, o excesso pode causar ressecamento na pele e até coceira. “Lembrar que o aumento do calor não tem necessariamente a ver com o aumento da quantidade de banhos, porque se a pessoa usa muito sabonete na pele, a tendência é a pele ficar mais ressecada, então é uma coisa muito importante que pode acontecer em momentos de mais calor”, pontua.

Entre as populações de risco, que exigem um cuidado maior diante de temperaturas extremas, estão as crianças menores de dois anos, abaixo de seis meses e os idosos. Marília Acioli explica que este público tem um controle menos efetivo da temperatura do corpo e uma pele que permite a passagem de água com mais facilidade, desidratando com maior velocidade.

“Nesses momentos de muito calor, lembrar de hidratar bastante as crianças e os idosos. Nos idosos existe uma menor percepção da sede, eles tendem a ingerir menos água. Lembrar que criança menor de seis meses não deve ser exposta ao sol”, pontua.

No dia 22 de setembro, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou um alerta vermelho para ondas de calor que atingiram boa parte do Brasil. Além da Bahia, estados como Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Tocantins e São Paulo, além do Distrito Federal, foram citados.

Na Bahia, a cidade com maior temperatura registrada foi Bom Jesus da Lapa, com 41,6ºC, seguida por Correntina (41,2ºC), Ibotirama (40,9ºC), Barreiras (40,2ºC), Formosa do Rio Preto (39,9ºC), Buritirama (39,9ºC), Santa Rita de Cássia (39,4ºC), Guanambi (39,3ºC), Barra (39ºC) e Luís Eduardo Magalhães (37,9ºC).

De acordo com os meteorologistas Laurizio Alves e Giuliano Carlos, as ondas de calor fazem parte das consequências do aquecimento global. O fenômeno vem acompanhado de queimadas, tempestades severas, ondas de frio, descongelamento de geleiras e elevação dos oceanos. Para os especialistas, trata-se de um reflexo da terra à ação humana.

“O aquecimento global é um processo que indica o aumento na temperatura média registrada no planeta. Esse aumento é causado pela queima de combustíveis fósseis, emissão de gases de efeito estufa e desmatamento”, destacam.

A bióloga Luna Santiago alerta para os perigos causados pela mudança de temperatura. “Está tudo diretamente ligado às mudanças climáticas. Muitas coisas fazem parte do nosso dia a dia, como modelo de consumo e coisas que ajudam a acelerar o processo. Acho que deveria ter uma mudança de hábitos. O aumento da temperatura leva a mudanças nos oceanos, maiores secas e a perda de algumas espécies”, acrescenta.

O advogado ambientalista Georges Humbert, presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável, sugere que é o momento de buscar um equilíbrio na utilização dos recursos naturais e que a postura humana merece atenção e cuidado, já que pode contribuir com o aquecimento global.

“Penso que o equilíbrio é o caminho, sem sensacionalismo ou ceticismo, mas vivendo consciência, uso racional dos recursos naturais, consumo responsável, economia criativa e circular, assim como a preferência para produtos menos impactantes”, aponta.

Para Humbert, o alarme ambientalista pode ser utilizado como uma oportunidade de trazer cidadãos para a causa sustentável, investindo em ações como reciclagem, utilização de transporte público, biocombustíveis e evitando desperdício.

Mesmo com todo o calor esperado para o período do verão na Bahia, Laurizio Alves e Giuliano Carlos alertam também para a possibilidade de fortes chuvas, que podem ser causadas pelo encontro de massas com diferentes temperaturas. “É o que chamamos de frentes e elas podem ser caracterizadas como Frentes Frias, que provocam chuvas mais intensas (tempestades), e Frentes Quentes, que provocam chuvas de longa duração e de intensidade menor”, finaliza.

A Tarde


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