Brasil tem quase 1 milhão de pessoas com Alzheimer

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No Brasil, 1,757 milhão de pessoas têm algum tipo de demência, e só a doença de Alzheimer corresponde a 55% desses casos (966.594).

Os números foram apresentados pela Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) no 1º Big Data Abraz, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, nesta quinta-feira (21), Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer.

Além disso, há outros 2,3 milhões de brasileiros com algum tipo de declínio cognitivo com sintomas relacionados à memória e à cognição, mas ainda não apresentando sinais de demência.

De acordo com o Brazilian Longitudinal Study of Aging (ELSI-Brazil), a estimativa é que até 2030 sejam 2,78 milhões e, até 2050, mais de 5,5 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais convivendo com demência.

A pesquisa baseou-se em dados de 2019. Foram incluídos 5.249 indivíduos com 60 anos ou mais de idade, de 70 municípios pequenos, médios e grandes, nas áreas urbanas e rurais, considerando as cinco regiões do país. Os participantes foram classificados como função cognitiva normal, comprometimento cognitivo não demência (caracterizado pela perda de memória ou de funções cognitivas transitória entre uma cognição normal e demência) e demência.

Segundo a Abraz, a taxa de prevalência de demência no país em 2019 era calculada em 5,8%, considerando a população acima de 60 anos. Segundo as estimativas do IBGE para o mesmo ano, a população brasileira nesta faixa etária era de 22,3 milhões de pessoas.

Os dados preocupam principalmente por dois fatores: o aumento do envelhecimento da população e o peso que recai nos familiares de pessoas com Alzheimer, em geral mulheres, relacionado ao cuidado dos parentes. Estima-se que dois terços dos cuidadores informais de pacientes com demência sejam mulheres, e este número é significativamente maior em países de baixa e média renda, como é o caso do Brasil.

“A demência é a primeira causa de incapacidade nos países ricos, e a décima nos países de baixa e média renda, mas a gente observa que há uma tendência de triplicar os casos de demência nos países desenvolvidos até 2050, enquanto nos países de baixa e média renda eles devem quintuplicar”, afirma Claudia Suemoto, professora titular de geriatria na Faculdade de Medicina da USP.

Se a prevalência de demência está em crescimento no mundo, os diagnósticos de Alzheimer ainda apresentam um grande gargalo. Enquanto novos testes e exames para detecção precoce são disponibilizados mundo afora, o Brasil ainda tem lacunas nos dados de quantas pessoas vivem com demência no país.

“A gente vê uma taxa enorme de não diagnosticados, e isso é preocupante quando vemos que os resultados terapêuticos são muito mais satisfatórios quando o tratamento é começado logo na fase inicial”, afirma Celene Pinheiro, geriatra e presidente da Abraz-SP.

Outros dados apresentados pelo painel mostram que fatores como idade, escolaridade e gênero podem ter efeito sobre a prevalência de demência. Pessoas com mais de 80 anos ainda representam a maior parte (77%) dos casos de demência, sendo 13% na faixa de 80 a 84 anos, 21% entre aqueles com 85 a 89 anos, e quase metade (43%) dos casos na faixa acima de 90 anos.

A baixa escolaridade também afeta a condição, com prevalência de 16,5% em indivíduos sem nenhum grau de escolaridade (analfabetos), 5,1% entre aqueles com quatro anos ou menos de escolaridade, 3,6% para quatro anos de escolaridade, 2,2% entre pessoas com ensino fundamental completo, 1,5% para ensino médio e 2,1% entre aqueles que têm ensino superior.

As estimativas apontam também mais mulheres vivendo com demência do que homens no Brasil: 6,8% das mulheres com 60 anos ou mais têm demência, contra 4,6% dos homens.

“Estudos internacionais e nacionais já apresentam dados consolidados sobre os fatores de risco para demência, mas, ao comparar os dados do Hemisfério Norte com os do Brasil, o que vimos não foi uma mudança nos fatores propriamente, mas na ordem deles. Então, aqui, os fatores de risco para demência são, por ordem de dimensão, analfabetismo, hipertensão, perda de audição e obesidade”, explica Pinheiro.

A grande questão é que muitos desses fatores são chamados modificáveis. Um estudo publicado no final do ano passado na revista Alzheimer’s and Dementia por Suemoto e colegas apontou que a modificação de alguns desses fatores pode reduzir em até 54% a prevalência de demência em algumas regiões.

Como pacientes com esta condição exigem uma rede de cuidados, o custo social da demência, incluindo Alzheimer, também é elevado.

O gasto geral para cuidado de uma pessoa com demência é de US$ 1.379 por mês (R$ 6.790, em valores não corrigidos pela inflação), sendo US$ 610 (R$ 3.000) para gastos diretos e US$ 769 (R$ 3.790) indiretos. Considerando a totalidade das pessoas vivendo com demência estimadas para 2019, isto equivale a um gasto anual de aproximadamente US$ 30 bilhões (R$ 150 bilhões ao ano, ou 1,5% do PIB brasileiro).

Além do peso no orçamento familiar, os cuidados de familiares com demência representam uma sobrecarga maior para as mulheres, uma vez que elas representam 9 em cada 10 (92,2%) dos cuidadores informais, segundo um estudo transversal conduzido em ambulatório de geriatria em São Paulo. A idade média desses cuidadores é de 57 anos, o tempo de escolaridade médio deles é de 9,5 anos e a maioria é casada (56,7%) e tem alguma ocupação (68,6%) além de cuidar do paciente.

“É muito cruel o cenário, porque a grande maioria dos cuidadores são mulheres, filhas de pacientes, que precisam parar de trabalhar para se dedicar ao cuidado do pai, da mãe com demência. E quando esse familiar vem a falecer, em média uma década depois, ela já está fora do mercado de trabalho há muito tempo, não consegue se reinserir. Então o custo social é gigantesco para essas famílias”, diz Pinheiro.

Esse peso é sentido também na proporção de cuidadores (62,2%) que dizem sofrer com algum tipo de transtorno mental. Desses, 50% relatam sintomas de ansiedade, 52,2% de depressão e 66,7% citam sobrecarga em relação ao cuidado.

“É por isso que trabalhamos na rede de apoio ao cuidador, para que também essa única pessoa, muitas vezes a filha, não se sinta sobrecarregada. E conversamos com os outros familiares para que eles entendam também que não é só uma pessoa que tem que cuidar”, afirma Aline Gratão, coordenadora do Ambulatório de Gerontologia do Hospital Universitário da UFScar (Universidade Federal de São Carlos).


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