Desde que oito casos de gripe aviária H5N1 foram confirmados em aves silvestres no Brasil pelo Ministério da Agricultura (MAPA), sendo sete deles no Espírito Santo e um no Rio de Janeiro, os estados começaram a reforçar as ações sanitárias para prevenir a proliferação da doença pelo país. Ainda que o quadro atual preocupe, já que é a primeira vez que há registros da gripe aviária no território brasileiro, os especialistas ouvidos pela reportagem indicam que não existe motivo para pânico entre os baianos. Isso porque, além de não haver casos na Bahia, a transmissão da doença para humanos é possível, mas é difícil e só acontece quando há contato com o animal infectado, sendo raros os contágios entre humanos.
Nesta terça-feira (23), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) publicou um comunicado de risco devido à emergência zoossanitária decretada pelo Ministério da Agricultura e Pesca (Mapa), sobre o aumento de casos da gripe aviária H5N1. Válidas por 180 dias, as recomendações incluem a intensificação da vigilância de epizootia em aves silvestres e domésticas e de síndrome gripal (SG) e síndrome gripal aguda grave (SRAG) em pessoas expostas a esses animais.
Para a técnica do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) da Sesab Talita Urpia, a medida tomada pelo Estado tem caráter tão somente preventivo. “O Ministério da Agricultura e Pesca declarou essa emergência zoonótica porque a ocorrência da infecção de influenza aviária nas aves silvestres pode determinar a introdução em outras áreas ou em outros tipos de aves domésticas, assim como também pode preceder a ocorrência em humanos, principalmente aqueles que trabalham e estão em situações mais expostas a esses animais, sejam eles vivos ou mortos”, pontua.
Em caso de infecção em humanos, a situação pode evoluir de modo parecido com um resfriado e tratado com remédios, embora Talita afirme que há risco de morte em casos síndromes gripais agudas graves. Por outro lado, ela tranquiliza a população ao afirmar que essa transmissão não ocorre facilmente. “De acordo com o Ministério da Saúde e do que vemos observando no mundo, a transmissão da influenza viária da ave para o humano não é tão fácil. Além disso, o humano quando é contaminado também não transmite pessoa a pessoa de forma tão facilitada. Basta que tomemos cuidados e evitemos nos expor”, garante.
Além do contato com animais ou seres humanos infectados, a gripe aviária pode ser transmitida para as pessoas através da ingestão de aves cruas ou malcozidas. Por isso, entre os cuidados recomendados estão a orientação de não manipular animais com suspeita da doença, tampouco comer frangos e outras aves sem que estejam bem cozidas.
Em seu comunicado, a Sesab também pediu que haja a intensificação de ações de educação e mobilização social para que a sociedade não ataque aves aleatoriamente, nem descarte por conta própria animais que forem encontrados doentes ou mortos.
A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) foi procurada pela reportagem para saber se vai adotar medidas na prevenção da doença, mas não retornou até o fechamento desta matéria.
Já para os produtores de aves, a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) elencou alguns procedimentos para evitar a contaminação de seus animais, como não permitir a entrada de pessoas estranhas nas granjas; lavar e desinfetar veículos e equipamentos antes de entrar na propriedade; aplicar práticas de higiene; evitar contato com outras espécies de aves; não utilizar água de rios ou fontes descobertas; ficar atento aos sinais da doença.
Outra recomendação da Adab é evitar visitas a sítios de aves migratórias e, caso haja real necessidade, cumprir quarentena de 14 dias. “Temos um litoral amplo na Bahia, o que facilita o pouso desses animais. Alguns desses locais também são pontos turísticos, como o Litoral Norte, Sul e Extremo Sul do Estado, daí o trabalho antecipado da Adab na capacitação e educação sanitária junto às comunidades”, acrescenta o diretor de Defesa Animal da entidade, Carlos Augusto Spínola.
Sintomas
A gripe aviária H5N1 é causada pelo vírus influenza A e afeta espécies de aves, inclusive migratórias, além de também poder atingir mamíferos terrestres e marítimos. Nos seres humanos, a doença pode se apresentar com sintomas semelhantes aos da síndrome gripal (SG) e da síndrome gripal aguda grave (SRAG), como febre, tosse, falta de ar, dor de cabeça, coriza e dor muscular.
Diante da semelhança entre os sintomas da H5N1 e outras síndromes respiratórias, gripais e até covid-19, Talita Urpia sinaliza a necessidade de buscar atendimento médico caso os sintomas apareçam, mas adianta que a gripe viária só pode ser cogitada se houver contato prévio com uma ave ou outra pessoa infectada.
“É por isso que é muito importante buscar um atendimento de saúde e informar essa exposição a essas aves, animais ou pessoas doentes. É necessário para fazer essa associação e ajudar a contabilizar os casos”, ressalta.
O Ministério da Saúde destacou, por meio de nota, que os Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) presentes em todos os estados atuam na busca ativa para identificação e monitoramento das pessoas que tiveram contato com as aves, para garantir que elas sejam testadas, monitoradas e isoladas, em caso de desenvolverem sintomas gripais. As amostras coletadas são analisadas pelo Laboratório Centrais de Saúde Pública e depois enviadas para confirmação do resultado pelos laboratórios de referência e na Fiocruz.
Saiba como identificar a doença nas aves
A Adab aponta que, entre os sintomas passíveis de identificação da gripe aviária, estão o andar cambaleante das aves e alta mortalidade em uma mesma área. Diante de um caso suspeito, a população não deve tocar ou resgatar os animais. A agência pede que seja acionado de imediato o escritório da Adab mais próximo da ocorrência, ligar para o 0800 284-0011 ou enviar um e-mail para [email protected].
Médico veterinário, Itamar Garrido ainda acrescenta alguns outros sinais de alerta. “Normalmente, as aves ficam com dificuldade respiratória, sintomatologia nervosa, algumas ficam espirrando ou com secreção no nariz, ficam caindo ou com o pescoço torto”, descreve.
Apesar desses sintomas, ele reitera que o diagnóstico só pode ser feito por um profissional. “As doenças de aves são muito semelhantes, por isso precisamos fazer a colhida de material e outros exames para encaminhar para o laboratório de referência”, esclarece.
H5N1 liga o alerta do setor avicultor
Avicultor no município baiano de Sapeaçu, Jackson Rodrigues comanda uma granja que atualmente conta 300 mil aves que são comercializadas para outras cidades da Bahia. Atento às medidas tomadas pelo Ministério da Agricultura e Pesca, ele conta que já vêm tomando precauções para prevenir a gripe aviária na granja, como redução de visitas no local e treinamento de funcionários. Segundo ele, todo o esforço é válido para não perder suas aves e nem deixar sem trabalho os 60 empregados que dependem diretamente do seu negócio.
“É uma atividade que gera muito emprego. Seria terrível ter a gripe aviária aqui, porque vemos falar que, nos outros países, se uma granja apresentar contaminação com esse vírus, tem que apresentar um vazio durante um determinado período. O prejuízo é enorme. Se afetar uma unidade, afeta todo o plantel e eu acredito que perderia toda a minha avicultura”, relata Jackson.
A crença do granjeiro não está equivocada. De acordo com o veterinário Itamar Garrido, a sentença de morte das aves é inevitável após o diagnóstico. Ele explica que isso ocorre porque não há tratamento disponível no Brasil e, apesar de existir vacina em outros países, a opção não é viável no país. “Se ocorrer o foco em uma avicultura industrial, tem que sacrificar todas as aves. Em alguns países podem usar a vacina, mas como não temos a doença, não há motivo para vacinar e, quando sacrificamos os animais, voltamos para o estado sanitário mais rápido”, diz.
Depois dos casos confirmados, o presidente da Associação Baiana de Avicultura (ABA), Dario Mascarenhas, afirma que já espera a doença na Bahia, mas afasta a ideia de que impactos econômicos negativos possam estar à espera do setor. “Quaisquer restrições às exportações só se darão caso a contaminação ocorra no plantel comercial do Brasil. Até então, não houve nenhuma alteração nesse sentido e esperamos que não aconteça”, enfatiza Dario.
No entanto, na hipótese de os esforços sanitários não surtirem efeitos e um plantel for atingido, o presidente da ABA diz que o comportamento do setor será o de reduzir sua produção para adequar a demanda, que possivelmente será reduzida pelo cancelamento de relações exteriores. Atualmente, o país é líder em exportação de carne de frango no mundo.
Correio 24Horas
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